No dia do folclore, g1 separou uma lista com principais grupos de folguedos do estado… Boi Canário, Taieiras, Fandango e muito mais. Cultura de Alagoas
Thony Nunes/Ascom Semed
O jeito como o pé pisa no chão, o canto, as cores e os adornos. O conjunto dessas tradições e crenças transbordam e desaguam na história de um povo que dificilmente se deixa esmorecer: o alagoano. E através das gerações, esses costumes vão sendo passados entre familiares, amantes e curiosos que mantêm essa identidade viva.
Para celebrar o Dia do Folclore, comemorado no dia 22 de agosto, o g1 AL separou alguns dos principais folguedos alagoanos a partir de uma série especial preparada pela TV Gazeta, com mestres e participantes que entrelaçam as suas vidas à nossa cultura.
🐂🦜Boi Canário
Mestre Canarinho criou boi que virou folguedo tradicional em Pilar, interior de Alagoas
Reprodução/ TV Gazeta
O boi é o único que mantém viva a tradição e a folia nas festas dos santos reis, no início de janeiro, em Alagoas. Ele foi criado na década de 1970 por José de Souza Mesquita, o Mestre Canarinho. Desde então, pontualmente às 10h do dia 6 de janeiro, o Dia de Reis, o som do frevo dá o tom e abre-alas para o protagonista passar. Em 2023, o boi foi declarado Patrimônio Imaterial do estado.
De acordo com a diretora da Casa de Cultura do Pilar, cidade matriz do Boi Canário, manter a tradição viva é mais que um orgulho. “Canarinho dedicou a sua vida inteira a essa brincadeira que se tornou o Boi do Canário aqui em Pilar. Um boi que vem da tradição do Guerreiro [outro folguedo alagoano]. É uma mistura de religiosidade e carnaval”, afirmou Ruthnea Camêlo.
A história conta que Mestre Canarinho foi o primeiro vaqueiro a guiar o boi, que hoje é conduzido por Karlos Jorge.
“Na minha adolescência eu tive a oportunidade de receber o convite e dar continuidade ao trabalho que o Canarinho já vinha fazendo. Até hoje eu permaneço, com meu amigo boi, levando alegria por toda cidade”.
Karlos Jorge é atual vaqueiro que conduz Boi Canário, mantendo a tradição viva
Reprodução/ TV Gazeta
👸🏾🥁Taieiras
Nair da Bertina, principal figura das Taieiras de São Miguel dos Campos
Reprodução/ TV Gazeta
Tradicional de São Miguel dos Campos, as Taieiras de dona Nair da Rocha Vieira, a “Nair da Mertina”, permanecem vivas e são um dos grupos que seguem em atividade no estado. A representação artística tem origens africanas, entoando cantos populares, dançando e tocando instrumentos em louvor à Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito.
Maria Nazaré dos Santos, de 87 anos, é a mais antiga do grupo. Decidida, ela afirma que só deixa de participar do folguedo quando morrer.
“Botou [música] para mim, eu danço! Eu vou até o fim, só saio quando eu morrer”.
Além dela, outras 19 pessoas integram o grupo que são organizados entre os seguintes personagens: o rei, a rainha, as africanas dos cordões vermelhos e azuis, e o Mateu, que é um personagem típico das festas que aparece com o rosto pintado de tinta e que é encarregada pela animação dos participantes e do público.
Flávio dos Santos é o atual Mateu e explica que é preciso se doar por inteiro. “É vivenciar o momento, contar histórias, reviver as histórias, o passado e prestigiar o presente com a cultura”.
Folguedo ‘As Taieiras’ levam tradição de São Miguel dos Campos para todo o estado
Reprodução/TV Gazeta
⚓🎸Fandango
Mestre Vavá é a principal referência do fandango do Pontal da Barra
Reprodução/TV Gazeta
Uma cultura que representa o bairro do Pontal da Barra, em Maceió, o Fandango, é um dos folguedos mais antigos de Alagoas com 94 anos. Vestidos de marinheiros e marinheiras, o grupo que atualmente conta com 36 integrantes, leva muita música e dança ao público.
Capitaneados por Jorgeval Mário Lisboa Santos, o Mestre Vavá, cada participante exerce uma função. Ele conta que as canções são baseadas em fatos reais, da época das grandes navegações portuguesas.
“Tem o gajeiro, o mestre-patrão, o contra-mestre, todas as patentes da marinha. Temos 23 músicas ativas, onde a gente canta. As canções, todas elas, falam sobre essa nau [tipo de embarcação] que saiu em expedição e passou sete anos e um dia perdida”.
Em contrapartida, a quem está tanto tempo envolvido no folguedo, Ana Beatriz começou apenas há um ano, e está dando os primeiros passos nesse caminho repleto de cultura e tradição. “Foi muito especial, pois foi um momento acolhedor. Eu estou muito feliz e realizada de participar”.
Fandango canta as histórias de uma embarcação perdida há sete anos e um dia no mar
Reprodução/TV Gazeta
👳🏿♀️🪘Nega da Costa
Folguedo ‘Nega da Costa’, natural de Quebrangulo, no interior de Alagoas
Reprodução/TV Gazeta
Há mais de um século homens colocam vestidos, se pintam de preto em Quebrangulo, no Agreste de Alagoas, para levar os valores e cultura negra no período colonial do Brasil. O grupo foi fundado em 1910 por Basílio, um descendente de povos escravizados.
O historiador Davi Lima explica que o folguedo nasceu na cidade e dramatiza o período final da escravidão no país. “A história nos conta que esse folguedo surge a partir do receio, do medo, dos negros que viviam nas senzalas.
E nesse período a gente sabe que os senhores brancos abusavam muito das suas ‘negrinhas’. Como uma forma de proteção os homens passaram a se vestir de mulheres, para confundir aqueles que tentavam praticar os abusos”.
O coordenador do Nega da Costa, Derlandson Lima, explica que após a abolição da escravidão o movimento continuou. “Quebrangulo garante que a história negra não se apague. Que a dança negra ela não se apague”.
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Coordenador do grupo ‘Nega da Costa’, Derlandson Lima
Reprodução/TV Gazeta
⚔️⛪Dança de São Gonçalo e Guerreiro Santa Joana
Grupo se apresenta em frente à imagem de São Gonçalo
Reprodução/TV Gazeta
Presentes apenas em Água Branca, no Alto Sertão, os folguedos Dança de São Gonçalo e Guerreiro Santa Joana misturam elementos católicos, da chegança e do Bumba Meu Boi. Em frente ao São Gonçalo, integrantes do grupo dançam há mais de 100 anos para pedir proteção ao santo protetor dos violeiros. O folguedo é originário de Portugal e conta como o santo utilizou a dança para mudar a vida das pessoas.
“Quando ele [o santo] percebeu a prostituição, que estava demais, ele pediu ao Espírito Santo a a inspiração para tirar aquelas mulheres da prostituição. A partir daí, Deus o inspirou para que ele criasse essa dança. Ele começava de madrugada a dançar, passava o dia, a noite, e as mulheres ficavam tão cansadas que iam dormir e saíam da prostituição”, explicou a integrante Flávia Freire.
Na comunidade Quilombola Cau, o grupo de folguedo se reúne em frente à comunidade Igreja Santa Joana para realizar as apresentações. A guerra de espadas mostra a força e bravura dos ‘guerreiros’, fazendo referências a outros grupos.
O grupo foi fundado em 1998, pelo Mestre Deca, após um pedido muito especial feito pela tia dele. Para participar, as mulheres devem ser solteiras, segundo as tradições.
Mestre Deca do ‘Guerreiro de Santa Joana’
Reprodução/TV Gazeta
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