28 de dezembro de 2024

Fotógrafo de natureza flagra furão-pequeno na Caatinga

Raro de ser feito na natureza, registro ocorreu na cidade de Cabaceiras (PB). Observação incluiu predação feita pelo furão, que capturou um mocó. Fotógrafo de natureza flagra furão-pequeno na Paraíba
Breno Farias
“Era bem cedo, o sol mal tinha saído no céu e eu estava andando numa estrada em meio a uma Caatinga preservada, tentando registrar a fauna local da minha região, na cidade de Cabaceiras (PB). Ao longe, avistei uma família de mocós (Kerodon rupestris), roedor comum por aqui, tranquilos sobre uma grande rocha”.
“Comecei a fotografar, mas quando tirei o olho do visor da câmera e olhei para minha frente, lá estava o furão parado, em meio à estrada me encarando”, relembra o agricultor Breno Farias, que também trabalha com educação ambiental nas redes sociais e realiza monitoramento de fauna em uma propriedade particular da cidade, junto a uma equipe de pesquisadores e biólogos.
Mocós também flagrados pelo observador e fotógrafo de natureza
Breno Farias
Encontrar um furão-pequeno (Galictis cuja) não é algo comum, por isso Breno sabia que talvez não tivesse outra oportunidade daquelas. Ele conta que resolveu seguir para o lado que o furão tinha fugido, andando alguns metros sobre afloramentos rochosos e vegetação preservada, sempre com cautela, até que encontrou novamente o animal que, nesse momento, estava caçando.
“Talvez, por estar com fome, ele não tenha ligado para a minha presença, então vez ou outra passava próximo, me olhava e continuava suas buscas entre as rochas. Nesse período eu ia fazendo fotos, isso durou alguns minutos, até que escutei um grande barulho: era o furão predando um mocó. O roedor dava gritos agonizantes entre as pedras e as bromélias”, relata.
O furão-pequeno é carnívoro, mas também se alimenta de alguns frutos
Breno Farias
Por conta da vegetação fechada, o que impedia o foco da câmera, Breno não conseguiu registrar imagens da predação e não demorou muito para o furão sumir com a presa.
“Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida de fotógrafo de natureza, jamais imaginaria que iria ver um furão e ainda mais em seu momento de caça. Eu consegui fazer algumas fotos, mas apenas uma ou duas ficaram boas, pois a emoção era tão grande que tremi bastante na hora dos cliques”, conta ele.
Embora a espécie não esteja na lista de espécies ameaçadas, na região de Caatinga, segundo Breno, as populações estão diminuindo e ver o furão está sendo cada vez mais difícil.
Furão-pequeno e furão-grande
O gênero Galictis possui duas espécies, o Galictis cuja, conhecido popularmente como furão-pequeno e o Galictis vittata, o furão-grande.
Ambos ocorrem no Brasil e, como o próprio nome popular indica, possuem diferenças principalmente no tamanho. O maior ultrapassa os 75 centímetros e chega a pesar quatro quilos, enquanto os machos do menor podem atingir pouco mais de 65 centímetros e pesar 2,5 quilos.
O gênero Galictis possui duas espécies, o Galictis cuja, conhecido popularmente como furão-pequeno e o Galictis vittata, o furão-maior.
Bianca Bosarreyes/Diego Carús/iNaturalist
Apesar da diferença, ambos são muito semelhantes na aparência. “As duas espécies têm corpo esguio com pernas curtas, pescoço longo, cauda curta e espessa, além de apresentar coloração grisalha do dorso, dos flancos, do topo da cabeça e da cauda, enquanto o restante do corpo é preto”, explica o biólogo especialista em mamíferos Fábio Oliveira Nascimento, do Museu de Zoologia da USP.
Entretanto, a coloração grisalha no dorso do furão-menor, segundo o pesquisador, varia do amarelo acinzentado ao cinza acastanhado, enquanto a do furão-maior tem a tonalidade mais clara.
O furão-menor habita partes do Peru, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil. Por aqui, ocorre na Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga, Pampas e Cerrado. “Já o Galictis vittata tem uma relação íntima com florestas mais úmidas e fechadas, ocorrendo desde as matas tropicais do México e se estendendo por toda América Central e Bacia Amazônica”, esclarece.
Os felinos e as aves de rapina são os principais predadores do furão-pequeno
Breno Farias
Não é de se estranhar que Breno tenha flagrado o furão predando um roedor, já que ele é carnívoro e se alimenta de pequenos mamíferos, aves, répteis, invertebrados e ovos, além de eventualmente comer frutos e até animais maiores que ele.
“O furão-pequeno é monogâmico e o casal pode caçar junto, enquanto os filhotes estão sendo criados. A ninhada varia de 2 a 5 filhotes, que se desenvolvem rapidamente, atingindo o tamanho dos adultos em poucos meses. Pequenos grupos podem ser avistados, compostos geralmente pelo casal e filhotes de porte adulto”, comenta Fábio.
De acordo com ele, os principais predadores do furão-pequeno são felinos, tais como a jaguatirica (Leopardus pardalis), maracajá (Leopardus wiedii) e jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi), e aves de rapina.
Mas também há outros perigos que ameaçam a sobrevivência da espécie, tais como a caça por retaliação, a predação de cães-domésticos, zoonoses provocadas pelos animais domésticos, incêndios, desmatamento e atropelamentos.
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