Raro de ser feito na natureza, registro ocorreu na cidade de Cabaceiras (PB). Observação incluiu predação feita pelo furão, que capturou um mocó. Fotógrafo de natureza flagra furão-pequeno na Paraíba
Breno Farias
“Era bem cedo, o sol mal tinha saído no céu e eu estava andando numa estrada em meio a uma Caatinga preservada, tentando registrar a fauna local da minha região, na cidade de Cabaceiras (PB). Ao longe, avistei uma família de mocós (Kerodon rupestris), roedor comum por aqui, tranquilos sobre uma grande rocha”.
“Comecei a fotografar, mas quando tirei o olho do visor da câmera e olhei para minha frente, lá estava o furão parado, em meio à estrada me encarando”, relembra o agricultor Breno Farias, que também trabalha com educação ambiental nas redes sociais e realiza monitoramento de fauna em uma propriedade particular da cidade, junto a uma equipe de pesquisadores e biólogos.
Mocós também flagrados pelo observador e fotógrafo de natureza
Breno Farias
Encontrar um furão-pequeno (Galictis cuja) não é algo comum, por isso Breno sabia que talvez não tivesse outra oportunidade daquelas. Ele conta que resolveu seguir para o lado que o furão tinha fugido, andando alguns metros sobre afloramentos rochosos e vegetação preservada, sempre com cautela, até que encontrou novamente o animal que, nesse momento, estava caçando.
“Talvez, por estar com fome, ele não tenha ligado para a minha presença, então vez ou outra passava próximo, me olhava e continuava suas buscas entre as rochas. Nesse período eu ia fazendo fotos, isso durou alguns minutos, até que escutei um grande barulho: era o furão predando um mocó. O roedor dava gritos agonizantes entre as pedras e as bromélias”, relata.
O furão-pequeno é carnívoro, mas também se alimenta de alguns frutos
Breno Farias
Por conta da vegetação fechada, o que impedia o foco da câmera, Breno não conseguiu registrar imagens da predação e não demorou muito para o furão sumir com a presa.
“Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida de fotógrafo de natureza, jamais imaginaria que iria ver um furão e ainda mais em seu momento de caça. Eu consegui fazer algumas fotos, mas apenas uma ou duas ficaram boas, pois a emoção era tão grande que tremi bastante na hora dos cliques”, conta ele.
Embora a espécie não esteja na lista de espécies ameaçadas, na região de Caatinga, segundo Breno, as populações estão diminuindo e ver o furão está sendo cada vez mais difícil.
Furão-pequeno e furão-grande
O gênero Galictis possui duas espécies, o Galictis cuja, conhecido popularmente como furão-pequeno e o Galictis vittata, o furão-grande.
Ambos ocorrem no Brasil e, como o próprio nome popular indica, possuem diferenças principalmente no tamanho. O maior ultrapassa os 75 centímetros e chega a pesar quatro quilos, enquanto os machos do menor podem atingir pouco mais de 65 centímetros e pesar 2,5 quilos.
O gênero Galictis possui duas espécies, o Galictis cuja, conhecido popularmente como furão-pequeno e o Galictis vittata, o furão-maior.
Bianca Bosarreyes/Diego Carús/iNaturalist
Apesar da diferença, ambos são muito semelhantes na aparência. “As duas espécies têm corpo esguio com pernas curtas, pescoço longo, cauda curta e espessa, além de apresentar coloração grisalha do dorso, dos flancos, do topo da cabeça e da cauda, enquanto o restante do corpo é preto”, explica o biólogo especialista em mamíferos Fábio Oliveira Nascimento, do Museu de Zoologia da USP.
Entretanto, a coloração grisalha no dorso do furão-menor, segundo o pesquisador, varia do amarelo acinzentado ao cinza acastanhado, enquanto a do furão-maior tem a tonalidade mais clara.
O furão-menor habita partes do Peru, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil. Por aqui, ocorre na Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga, Pampas e Cerrado. “Já o Galictis vittata tem uma relação íntima com florestas mais úmidas e fechadas, ocorrendo desde as matas tropicais do México e se estendendo por toda América Central e Bacia Amazônica”, esclarece.
Os felinos e as aves de rapina são os principais predadores do furão-pequeno
Breno Farias
Não é de se estranhar que Breno tenha flagrado o furão predando um roedor, já que ele é carnívoro e se alimenta de pequenos mamíferos, aves, répteis, invertebrados e ovos, além de eventualmente comer frutos e até animais maiores que ele.
“O furão-pequeno é monogâmico e o casal pode caçar junto, enquanto os filhotes estão sendo criados. A ninhada varia de 2 a 5 filhotes, que se desenvolvem rapidamente, atingindo o tamanho dos adultos em poucos meses. Pequenos grupos podem ser avistados, compostos geralmente pelo casal e filhotes de porte adulto”, comenta Fábio.
De acordo com ele, os principais predadores do furão-pequeno são felinos, tais como a jaguatirica (Leopardus pardalis), maracajá (Leopardus wiedii) e jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi), e aves de rapina.
Mas também há outros perigos que ameaçam a sobrevivência da espécie, tais como a caça por retaliação, a predação de cães-domésticos, zoonoses provocadas pelos animais domésticos, incêndios, desmatamento e atropelamentos.
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