9 de janeiro de 2025

‘Fragmentação facilitou repressão’ a maior milícia do RJ, diz delegado

Nomes como Pipito e PL sobreviveram a onda de traições, mortes e disputas internas na milícia em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. “A percepção é que não haverá em curto prazo uma liderança única e hegemônica”, diz coordenador do Gaeco. Rui Paulo Gonçalves Estevão, conhecido como Pipito, é um dos
Reprodução
Pouco mais de dois meses após a prisão de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, a maior milícia do Rio de Janeiro está mais dividida e regionalizada, o que facilita o combate a esse tipo de organização criminosa.
“É um perfil mais regionalizado, mais fácil de combater. A fragmentação facilitou a repressão”, comentou o delegado João Valentim, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).
Nesta semana, 15 milicianos foram presos quando voltavam da Carobinha, em Campo Grande, em direção à base da milícia, no bairro vizinho de Santa Cruz, na Zona Oeste.
O delegado aponta que o perfil do grupo, por enquanto, não é tão politizado quanto era na época em que Zinho era chefe da milícia, controlando uma área de influência imensa.
“A Polícia Civil está batendo em quem está se fortalecendo para evitar novas invasões, evitar um fortalecimento em demasiado”, pontuou.
Integrantes das polícias civil e militar e também do Ministério Público do Rio citam os nomes de Rui Estevão Gonçalves, o Pipito, e Paulo Roberto Carvalho Martins, o PL, como alguns dos nomes mais fortes da organização criminosa atualmente.
GIF home antes e depois do miliciano Zinho
Reprodução
Autoridades ouvidas pelo g1 afirmam que não há um chefe forte na organização criminosa como eram Zinho e de seus irmãos, Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes. Os três comandaram a milícia entre 2014 e 2023:
“Não há uma liderança personificada, podendo existir alianças. A percepção é que não haverá em curto prazo uma liderança única e hegemônica”, afirmou o coordenador do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, Fábio Matos.
Ecko foi baleado e morto em operação em 2021
Reprodução/TV Globo
Rui Estevão Gonçalves, o Pipito ou Profeta, foi um dos seguranças de Ecko quando este era o chefe da organização criminosa. Foi preso em 2018 pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), mas saiu da cadeia.
Miliciano Pipito foi preso pela Draco no Rio em 2018
Divulgação
Posteriormente, Pipito se tornou o homem forte da milícia na comunidade de Antares, considerada fundamental pela organização criminosa depois que o Comando Vermelho foi expulso da região. O tráfico de drogas, no entanto, continuou dando lucro para a milícia na região.
O criminoso é apontado como um dos principais homens de guerra do grupo e investigado por crimes como receptação, extorsão, organização criminosa e porte ilegal de armas de fogo, munição e acessórios de uso permitido.
Paulo Roberto Carvalho Martins, o PL, é apontado como responsável financeiro da milícia
Reprodução/Arquivo Pessoal
Já Paulo Roberto Carvalho Martins é citado em investigações e informações de inteligência como o principal responsável pelos negócios da milícia. Essa função ficou vaga depois que Zinho se entregou à Polícia Federal, no final de 2023.
Polícia se aproveita de fraqueza
Quatro dias após Zinho se entregar, três milicianos morreram na comunidade Três Pontes, reduto tradicional da sua família. Os assassinatos marcam o início das traições na quadrilha.
A polícia tem informações de que sem Zinho no comando, milicianos fugiram com armas e dinheiro dos vários negócios explorados pela quadrilha e que eram acompanhados de perto pelo miliciano, que sempre foi a figura responsável pela contabilidade do grupo desde que seus irmãos chefiavam a organização criminosa.
Milicianos trocam tiros com agentes da PRF na Avenida Brasil e são presos
Reprodução
Esse enfraquecimento do grupo tem sido aproveitado pela polícia. A seguir, algumas das ações contra a milícia do Zinho desde que ele se entregou:
5/1 – PRF, Draco e Subsecretaria de Inteligência apreende armas com a milícia;
8/1 – Milicianos foram presos na comunidade Cesar Maia, no Camorim;
25/1 – Policiais civis prenderam, em flagrante, Marcos Antônio Souza Silva e Luiz Carlos de Souza Girão.
23/2 – Três homens com tatuagens em homenagem aos irmãos Carlinhos Três Pontes, Ecko e Zinho são presos pela Draco e pela Subsecretaria de Inteligência, em Guaratiba;
28/2 – A Seap prendeu Peterson Luiz Almeida, o Pet, aliado de Zinho;
7/3 – A Polícia Rodoviária Federal, a Draco e a PM interceptaram um grupo de 15 milicianos. Doze fuzis foram apreendidos;
8/3 – Polícia prende 5 milicianos e apreende 5 fuzis em favela da Zona Oeste do Rio
Riqueza política e eleitoral
Apesar dessas ações, o patrimônio financeiro e eleitoral dessa milícia segue grande. De acordo com o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público estadual, por exemplo, foram aplicados R$ 135 milhões em empresas em sete anos.
Além disso há o patrimônio eleitoral: todo candidato olha com atenção para o número de eleitores nos dez bairros em que a milícia domina na Zona Oeste do Rio: algo em torno de pouco mais de 250 mil, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Lucinha (PSD)
Divulgação
As ligações de Zinho com políticos são investigadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Uma investigação apontou a deputada Lucinha como elo político da quadrilha. Foram identificados15 encontros de Lucinha ou de sua assessora, Ariane de Afonso Lima, com integrantes da milícia – entre eles o próprio Zinho, quando estava solto. Os investigadores também acreditam que gravações mostram a deputada preocupada em favorecer pautas do grupo criminoso.
Lucinha chegou a ser afastada pela Justiça da Alerj, mas o plenário da casa decidiu restabelecê-la no posto enquanto corre a investigação. Em seu retorno à casa, a deputada negou que é “braço” da milícia na assembleia.

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