28 de dezembro de 2024

Fumaça de incêndios volta a encobrir Boa Vista e ar fica como um dos piores dias para respirar

Fumaça é causada por incêndios florestais em municípios próximos da capital e em países como Guiana e Suriname. Com ela, população tem inalado o material PM 2.5/m3, que pode penetrar os pulmões, reduzindo a capacidade de respiração e até causando doenças. Fumaça de incêdios volta a encobrir Boa Vista, RR.
Oséias Martins/Rede Amazônica
A fumaça de incêndios florestais que atingem municípios de Roraima e países próximos ao estado voltou a encobrir a capital Boa Vista na noite de segunda-feira (11) e ficou mais densa na manhã desta terça-feira (12). A qualidade do ar atingiu um nível considerado péssimo para a população, que tem inalado o equivalente ao consumo de sete cigarros por dia.
Boa Vista teve a pior qualidade do ar registrada desde o início do ano. A média para essa segunda-feira foi de 56 PM2.5, um material particulado, a mesma média registrada no dia 23 de fevereiro, um dia após o satélite da Nasa registrar uma densa camada de fumaça sobre Roraima.
Com o ar poluído pela fumaça, é como se toda população fosse fumante, explica o pesquisador Reinaldo Imbrozio, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa):
“Como nós estamos, agora, por volta de 140 microgramas de material particulado PM2.5 na atmosfera, significa que nós estamos inalando ou fumando sete cigarros por dia. Se você não fumava, agora está fumando”.
Boa Vista depois e antes de ser encoberta pela fumaça.
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A nuvem cinzenta atingiu vários pontos da capital e, no centro da cidade, o horizonte pareceu ter sido tingido pela cor cinza e “sumiu” com o sol.
O índice de qualidade da Plataforma Selva, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), que monitora em tempo real queimadas e o índice da qualidade do ar na região Amazônica, apontou que a capital atingiu 119.5 µg/m3 apenas na noite de segunda, sendo considerado “muito ruim” para a saúde.
Na manhã desta terça, a qualidade do ar ficou ainda pior do que a registrada na noite anterior e passou a ser classificada como péssima. Numa escala que vai 0 a 160 µg/m3, Boa Vista chegou a atingir mais de 125 µg/m3.
Fumaça de incêdios volta a encobrir Boa Vista, RR
Oséias Martins/Rede Amazônica — Foto 2: Rede Amazônica
Vento propaga fumaça da Guiana e Suriname
A fumaça vem dos incêndios florestais que atingem as cidades próximas da capital e principalmente da Guiana, país que faz fronteira com Roraima, e do Suriname — embora, o estado tenha muito mais focos que os dois países.
Segundo dados do Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Guiana registrou 998 focos, enquanto a Guiana teve 336. Roraima, por sua vez, tem 3.060. São 1.726 focos a mais que os dois países juntos.
Pesquisador Reinaldo Imbrozio explica como a fumaça de outros países chega a Boa Vista.
Yara Ramalho/g1 RR
Reinaldo Imbrozio Barbosa explica que a névoa cinza chega até Boa Vista por meio dos ventos. Nessa época do ano, os ventos da região saem do Nordeste em direção ao Sudoeste, o que direciona a fumaça dos vizinhos para o estado.
“Nós temos três fontes de fumaça aqui em Boa Vista: a fumaça dos incêndios florestais e das áreas abertas do Suriname, dos incêndios da região Guiana e dos próximos da cidade de Boa Vista. A direção do vento predominante nessa época do ano aqui em Roraima sai do Nordeste em direção ao Sudoeste. Esse direcionamento traz toda a fumaça do Suriname e da Guiana toda para Boa Vista”, explicou Reinaldo Imbrozio Barbosa.
A Venezuela, que faz fronteira com o Brasil por Roraima, lidera o ranking internacional com 22.163 focos de calor e também influência a qualidade do ar em Boa Vista, mas em menor quantidade do que a Guiana e o Suriname.
No ranking entre os estados brasileiros, Roraima lidera os dados para 2024. Desde o início do ano, o estado já registrou 3.060 incêndios — 915 focos a mais do que o Mato Grosso, o segundo colocado, que registrou 2.145.
A fumaça causada pelos incêndios florestais no próprio estado avançam ainda mais, chegando até o município de Barcelos, no interior do estado do Amazonas, poluindo o alto e médio rio Negro.
Vista aérea de Boa Vista coberta por fumaça.
Oséias Martins/Rede Amazônica
Problemas de saúde
Além de mudar a cor do céu, a névoa causa sérios impactos para a saúde, especialmente para os pulmões. Reinaldo Imbrozio explica que, quando queimadas, as áreas de lavrado e floresta emitem para a atmosfera o vapor d’água e o material PM 2.5/m3, uma partícula que pode penetrar os pulmões, reduzindo a capacidade de respiração e até causando doenças.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 20 microgramas do determinado material particulado, uma pessoa fuma o equivalente a um cigarro por dia. A partícula fica presa nos alvéolos pulmonares, os “balões de ar” dos pulmões, e não tem data para sair deles, segundo Reinaldo.
A professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e médica alergista e imunologista Laila Sabino Garro explica que, no corpo humano, a fumaça pode causar tosse, irritação na garganta, falta de ar e desconforto respiratório.
Além disso, com substâncias químicas que causam danos as células dos pulmões, elas podem gerar inflamação, morte celular e alterações que podem até predispor ao câncer de pulmão. À população, ela indica algumas ações para evitar os problemas trazidos pela exposição à fumaça:
Fique dentro de casa: Mantenha as portas e janelas fechadas para evitar a entrada de fumaça. Use um sistema de filtragem de ar, se disponível.
Use máscaras respiratórias: Em áreas com muita fumaça, use máscaras N95 ou PFF2 para filtrar as partículas finas presentes na fumaça.
Evite atividades ao ar livre: Evite fazer exercícios físicos ou atividades extenuantes ao ar livre enquanto a fumaça estiver presente.
Use umidificadores: Manter o ar úmido pode ajudar a aliviar a irritação nas vias respiratórias causada pela fumaça.
Siga as orientações das autoridades locais: Fique atento aos alertas e recomendações das autoridades de saúde e ambientais locais sobre como se proteger da fumaça.
Se você estiver com problemas respiratórios ou sentir desconforto devido à exposição à fumaça, procure ajuda médica imediatamente.
Fumaça reduz qualidade do ar em Boa Vista, RR.
Oséias Martins/Rede Amazônica
Período seco e incêndios em Roraima
Boa parte do estado fica no hemisfério Norte, por isso, atualmente está na estação seca, chamada de “verão amazônico” — o período vai de outubro a março. Os meses de dezembro e janeiro são os mais secos, com registro de poucas chuvas.
Segundo o histórico de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foram registrados 4,2 milímetros de chuva em todo o mês de janeiro, 14% do esperado. Em fevereiro, choveu apenas 6,8 milímetros, 21% do esperado.
SAIBA MAIS:
TERRA DO FOGO: Roraima é o estado com maior número de incêndios
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Moradores relatam prejuízos em meio ao aumento de incêndios
Em meio à seca, que deve durar até abril, incêndios florestais consomem casas, animais e a vegetação. Além disso, com a estiagem, moradores têm ficado sem água encanada devido à seca nos reservatórios que abastecem as cidades, como é o caso de Pacaraima, ao Norte, e São Luiz, ao Sul.
O cenário fez com que o governo estadual decretasse situação de emergência em nove dos 15 municípios de Roraima devido a estiagem. O governo federal reconheceu a emergência.
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