1 de janeiro de 2025

Fundação sem vigas, solo com areia: por que Catedral de Ribeirão Preto corre risco de ruir e qual é a solução?


Construída no início do século 20, estrutura foi feita sobre pedras em solo arenoso e não conta com vigas que hoje são comuns. Urgente, intervenção estrutural vai custar R$ 2 milhões e pode ser custeada por pessoas e empresas por meio de incentivos da Lei Rouanet. VÍDEO: engenheiro explica riscos estruturais da Catedral de Ribeirão Preto
Um dos cartões-postais de Ribeirão Preto (SP), patrimônio do estado e importante referência religiosa e artística, a Catedral Metropolitana de São Sebastião tem dado tantos sinais de desgaste ao longo dos anos que se tornou alvo de uma campanha de arrecadação de recursos para obras consideradas urgentes, inclusive com a possibilidade de incentivos por meio da Lei Rouanet (veja mais abaixo como ajudar).
Isso porque o prédio, que data do início do século 20, foi feito com padrões construtivos bem diferentes dos atuais e que hoje, associados aos efeitos do tempo, ao crescimento urbano e ao trânsito do entorno, se convertem em rachaduras cada vez maiores.
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Rachaduras na Catedral Metropolitana de São Sebastião, em Ribeirão Preto (SP).
Carlos Trinca/EPTV
“É urgente, existe uma patologia na torre da igreja, ela está se movimentando, 24 centimetros, há dois anos atrás eram 20 centímetros, e depois da pandemia, com o retorno do trânsito no entorno da catedral, ela cedeu mais quatro centímetros, então 24 centímetros em uma estrutura como essa é urgente, sinal de que ela está se movimentando e a gente precisa nessa primeira fase estabilizar a estrutura da torre”, alerta o padre Francisco Zanardo Moussa, responsável pela paróquia.
Para explicar a origem e a solução do problema, a EPTV, afiliada da TV Globo no interior de São Paulo, entrevistou o engenheiro civil José Batista Ferreira, presidente da Associação das Incorporadoras, Loteadoras e Construtoras de Ribeirão Preto (Assilcon), que teve acesso aos estudos realizados na catedral.
“Um templo religioso importantíssimo de mais de 100 anos e uma obra de arte, que a população deve participar desse momento importante”, diz.
Catedral Metropolitana de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP
Catedral Metropolitana de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP
Estrutura antiga e areia no solo
Segundo Ferreira, quando a catedral foi construída, há mais de 100 anos, o método utilizado para a fundação era bem diferente do atual. O templo foi feito sobre pedras mais largas do que a construção em si, mas que atingiam, ao máximo, dois metros abaixo do solo, em vez de ter vigas e estacas, que alcançam áreas mais profundas.
Além disso, a topografia da região em que a igreja está instalada, bem no Centro, com muitos carros, e as características do solo, com o tempo, se tornaram inimigas da estrutura.
“Essa catedral localiza-se em uma região entre o ponto mais baixo e o ponto mais alto da cidade, e o solo é de basalto que tem uma presença de areia considerável e com o tráfego esse solo vem se acomodando. (…) Com essa vibração, esse solo sentiu e vem recalcando, afundando um pouquinho. Com isso, geram essas trincas”, diz.
Com ilustração simplificada, engenheiro indica intervenções na fundação para garantir estabilidade à estrutura da Catedral de Ribeirão Preto.
Carlos Trinca/EPTV
O que será feito?
Para acabar com as rachaduras e evitar que a igreja continue a ruir, o projeto de restauro prevê, como fase primordial, uma intervenção complexa, mas necessária nas bases do templo para compensar essa fragilidade da fundação.
Para isso, o chão da igreja será perfurado em diferentes pontos para a instalação de estacas em camadas mais profundas do solo e que levam bulbos nas pontas.
“É o reforço estrutural de ampliar o suporte, a resistência do solo aqui embaixo, mais pra baixo, que é uma situação difícil fazer, mas será feito.”
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Somente essa etapa custará R$ 2 milhões de um total de R$ 14 milhões previstos para a recuperação total do templo.
Como é possível ajudar?
Uma comissão composta por representantes de diversos setores da sociedade deu início à campanha “Salve a Catedral”, com diferentes iniciativas para arrecadar fundos para as obras, entre elas:
revista: uma das principais ações é a venda da revista ‘Salve a Catedral’, criada especialmente para reunir fundos. A publicação apresenta a rica história da igreja, curiosidades sobre sua construção e a importância de seu restauro para Ribeirão Preto. Ela custa R$ 15 e pode ser adquirida na secretaria paroquial;
doações online: interessados também podem colaborar com a campanha pelo site oficial da campanha. A plataforma oferece diversas opções de doação e informações detalhadas sobre o andamento do projeto de restauro;
incentivos fiscais: o Instituto Nova Era, uma organização civil que faz parte dos esforços de restauro da catedral, conseguiu recentemente a permissão do governo federal para captar, por intermédio da Lei Rouanet, até R$ 3,8 milhões de abatimentos do Imposto de Renda de empresas (4%) e pessoas físicas (6%).
Veja reportagem da EPTV sobre os incentivos fiscais para a reforma da Catedral
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Catedral: relevância histórica
Projetado pelo arquiteto sueco Carlos Ekman , o atual prédio da catedral foi construído entre 1904 e 1918, em estilo neogótico, e foi erguido com apoio da população local.
Anos depois, a igreja foi ilustrada com pinturas do artista plástico Benedito Calixto sobre a vida de São Sebastião, padroeiro da cidade, além da cúpula colorida por Nicolau Biagini e dos afrescos laterais produzidos por Joaquim d’Athaide.
Em 1958, a Catedral foi elevada a Arquidiocese de Ribeirão Preto e congrega paróquias de 20 cidades da região.
Em 2009, o prédio foi tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural de Ribeirão Preto (Conpacc) e, em 2014, a igreja foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat), mas, ao longo dos últimos anos, as rachaduras aparentes aumentaram o alerta com relação à estrutura.
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