Efeitos são medidos no Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Jogo foi desenvolvido pela UFRGS para uso em óculos de realidade virtual. Óculos de realidade virtual faz parte de estudo para medir benefícios de videogame no tratamento do TDAH
Reprodução/ RBS TV
Um estudo em andamento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e no Hospital de Clínicas de Porto Alegre vai medir os benefícios de jogos de realidade virtual no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
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A iniciativa recebe inscrições de adolescentes, entre 12 e 17 anos, para montar o primeiro grupo que testará o game. O foco é em pacientes com TDAH diagnosticado e que não usem medicações para controle da doença.
A proposta pedagógica é prender a atenção e fortalecer o foco do jogador, além de estimular o exercício físico de alta intensidade, situação já cientificamente comprovada como benéfica para quem tem TDAH.
O jogo, batizado de “Move Sapiens” simula uma luta de boxe contra um robô em um ambiente futurista. Tudo acontece por um óculos de realidade virtual. Cada golpe gera uma pontuação e, durante a partida, o adversário arremessa bolas de fogo que precisam ser desviadas.
“Nos últimos três a quatro anos surgiram evidências muito robustas na literatura internacional de que o exercício melhora de forma substancial a atenção e a função executiva, que é a capacidade de executar as coisas”, explica Luis Augusto Rohde, diretor do Programa de TDAH do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Jogo “Move Sapiens” simula luta de boxe contra um robô, em um ambiente futurista
Reprodução/ RBS TV
Segundo Rohde, o videogame entregaria o exercício aeróbico de forma mais atrativa.
Pietro Merola, doutor em ciência do esporte pela Universidade de São Paulo e desenvolvedor do jogo, pensou o cenário do game a fim de atrair o público adolescente – em grande parte, fãs de tecnologia. Para manter o jogador atento, também foi criada uma escala de pontuação:
“Quanto mais eu me exercito em alta intensidade, mais eu recebo pontos pra isso. E também tem questões de desafio cognitivo dentro do jogo: tempo de reação, esquivar do adversário, contra-golpear. Tudo isso é premiado”, diz Merola.
A meta do projeto é montar uma equipe de pacientes por mês, até dezembro. A partir do próximo ano, esse desempenho será analisado, com a publicação do estudo.
Os testes pré-análise já apontam um resultado positivo.
“Tem um menino que fez com a gente, e ele gostou tanto que quis começar a lutar boxe depois. Ou seja, a gente está conseguindo prender a atenção e fomentar o exercício físico”, comemora o desenvolvedor.
Interessados devem enviar um e-mail para pietrokmerola@gmail.com, ou fazer contato no telefone (51) 3359-8413.
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Características do transtorno
O TDAH pode ser genético, e tem três características principais:
Desatenção
“E tu não conseguir manter o foco. Por exemplo, tu te pega olhando para uma caneta do indivíduo que está conversando contigo e tu te lembra: ‘ganhei uma caneta dessas do meu irmão no Natal do ano passado. No Natal do ano passado eu fui para Garopaba. Como será que está a temperatura em Garopaba?'”, explica Rohde.
Hiperatividade
“Muitas vezes é tipo aquela expressão, ‘parece que tem um bicho carpinteiro’ por dentro, muito inquieta, sempre em movimento”, contextualiza o diretor.
Impulsividade
“Estou começando a fazer a pergunta, e ele (o paciente) já me corta da metade com a resposta”, diz o pesquisador.
Para Rohde, as famílias e escolas precisam ser educadas.
“Nós temos que retirar os preconceitos, os estigmas associados aos indivíduos com TDAH, que carregam uma carga muito grande. São cargas de apelidos como preguiçoso, desobediente, incapaz, burro”, explica o diretor do programa.
Aumento da identificação dos casos
Em consultório, e até mesmo de outros especialistas, o diretor do Programa de TDAH do Clínicas tem ouvido uma pergunta frequente: há mais pessoas com TDAH hoje do que em décadas anteriores?
Segundo o professor, que está entre os pesquisadores mais citados no mundo sobre o tema, o que cresceu foi a identificação dos casos. Uma boa notícia para reduzir o estigma de quem convive com o transtorno:
“Hoje, a gente, por exemplo, reconhece TDAH em adultos, que era coisa que não se reconhecia antigamente. Era uma doença tida como uma doença de crianças e adolescentes. E é claro que também hoje o assunto está presente nas redes sociais, na mídia. E com isso a gente também aumenta a conscientização sobre o transtorno”, diz Rhode.
Jovem descobre TDAH e produz conteúdo sobre o tema aos 22 anos
O tratamento mais convencional é feito com medicações e acompanhamento por especialistas, como psiquiatras e neuropsicopedagogos. O diagnóstico também precisa passar por profissionais com qualificação na síndrome.
Algumas pessoas chegam a enfrentar anos sem o tratamento necessário, como a Nicole Jacoby Ribeiro, estudante de publicidade e propaganda.
“Na infância, era só uma criança agitada, diziam que tava tudo certo. Na adolescência, me deram um diagnóstico de depressão, e depois transtorno bipolar. Foi só quando eu recebi o diagnóstico de TDAH, com 22 anos, que as coisas começaram a fluir. Tanto a minha hiperatividade melhorou, o meu foco…”, afirma a universitária.
Nicole Jacoby Ribeiro, estudante de publicidade e propaganda, foi diagnosticada com TDAH
Reprodução/ RBS TV
A jovem mora em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Depois do diagnóstico, Nicole começou a produzir conteúdos específicos para as redes sociais.
“Comecei a criar conteúdo por uma questão de autoconhecimento, me ajuda muito a lidar com o transtorno e eu estou recebendo bastante identificação. Tô construindo essa comunidade de várias pessoas com TDAH que a gente conversa e lida melhor com o transtorno”, diz Nicole.
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