No Dia da Mulher, o g1 conta a história da funcionária pública que está entre as homenageadas pelo Museu Histórico e Geográfico e pela Câmara Municipal de Poços de Caldas (MG). Dona de uma rotina árdua, Nilsângela Valquíria de Oliveira, 53 anos, é conhecida como a “gari criativa” de Poços de Caldas (MG). Lembrada pela simpatia e pelos carrinhos decorados, ela percorre diariamente as ruas e se desdobra entre trabalhos extras em busca de um futuro melhor para si e a família. Mas muito além de gari, Nilsa é mãe, corredora, formada em eletrônica, estudante da língua italiana e, acima de tudo, mulher.
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Neste 8 de março, em alusão ao Dia da Mulher, o g1 conta a história da funcionária pública que está entre as homenageadas pelo Museu Histórico e Geográfico e pela Câmara de Vereadores nesta data.
‘Gari criativa’ usa carrinhos decorados para conscientizar e reforçar visibilidade da profissão em Poços de Caldas, MG
Júlia Reis / g1
Das 6h às 12h, é na área central de Poços de Caldas que se concentram os serviços de Nilsângela. Quem passa pelo local, dificilmente deixa de notar a presença dela. No carrinho, enfeites como flores e cartazes.
“Antigamente eu era conhecida pelos meus chapéus, porque a gente tem que ter essa proteção. Então, eu enfeitava o meu chapéu com laço, flores, mas isso só no setor em que eu ficava. Um dia eu resolvi enfeitar um carrinho e não parei mais”, contou.
Carnaval, Festa Junina, Outubro Rosa, Novembro Azul e Natal são algumas das “campanhas” realizadas.
Apesar de não saber precisar há quanto tempo trabalha dessa forma, ela conta que o objetivo é levar mensagens simples de conscientização em meio ao cotidiano.
‘Gari criativa’ usa carrinhos decorados em Poços de Caldas
Devido ao aumento de casos de dengue, a personalização escolhida pela servidora pública durante o mês de março ressalta a importância de combater o Aedes aegypti.
“Com os meus cartazes, com o meu carrinho, se eu conseguir mudar a cabeça, conscientizar uma pessoa, já foi válido. Esse é meu intuito com o meu trabalho”, disse ao g1.
Finalizado o expediente nas ruas, ela parte para a próxima jornada. Durante alguns dias da semana, Nilsângela realiza tarefas diárias em casas de família a fim de melhorar a qualidade de vida e, aos poucos, realizar novos sonhos.
“Eu espero, confio em Deus, que eu ainda irei me aposentar com tranquilidade. Mas outro sonho que eu tenho é viajar para fazer o Caminho de Santiago de Compostela, percorrido por peregrinos do mundo inteiro”, revela.
Visibilidade e presença feminina 🌹
Após dar início às caracterizações, Nilsa conta que a visibilidade da profissão e da presença dela diante da sociedade despontou.
“As pessoas só lembram do nosso trabalho quando ele não é feito. Infelizmente, quando ele não é feito, aí, sim, as pessoas notam”, desabafa.
‘Gari criativa’ usa carrinhos decorados para conscientizar e reforçar visibilidade da profissão em Poços de Caldas, MG
Júlia Reis/g1
Deixando de “passar despercebida na lida diária”, ela decidiu fazer a diferença na rotina de outras pessoas que muitas vezes também estão na correria rumo ao trabalho.
“O primeiro intuito é trazer alegria. Tem muitas pessoas que passam por mim e dizem que quando não ouvem meu ‘bom dia’, é diferente. Desde que eu estou aqui, eu procuro ser assim, é o meu jeito”.
A vida até o carrinho ✍️
Mulher, mãe, peregrina, corredora, formada em eletrônica, estudante da língua italiana e motociclista habilitada aos 50 anos. Para definir a Nilsângela não faltam adjetivos e características.
Ainda na adolescência ela iniciou os trabalhos como doméstica em casas de família. Aos 20 anos, ela se casou e pouco tempo depois teve seu primeiro e único filho.
“Os anos vão passando e enquanto a gente está mais nova, não pensa muito. Eu nunca tinha me atentado a trabalhar em uma empresa e ter segurança. Mas quando pude, eu estudei. Há 16 anos fiz curso de eletrônica, mas o preconceito ainda era muito grande e não tive oportunidade de exercer a profissão. Ninguém me deu oportunidade, não me deram mesmo”, contou.
Sem mais perder tempo, Nilsângela resolveu apostar nos concursos públicos. E aos 40 anos passou em um processo seletivo, iniciando os trabalhos como Agente Comunitária de Saúde.
Três anos depois veio o cargo fixo na Secretaria de Serviços Públicos, onde atua há quase uma década como gari.
“Tudo que você pede pra Deus, tudo que você sonha, um dia acontece. De verdade, eu achava muito legal quem trabalhava na rua, sempre gostei. Eu cheguei a pensar: ‘Nossa, quem sabe eu pudesse um dia estar lá’. E esse dia chegou”, disse em meio a um sorriso.
‘Gari criativa’ usa carrinhos decorados para conscientizar e reforçar visibilidade da profissão em Poços de Caldas, MG
Júlia Reis/g1
Apesar das conquistas comemoradas hoje, Nilsa relembra os desafios encontrados no caminho e a dificuldade em seguir em frente sem perder a alegria.
“Eu quebrei barreiras, mas infelizmente não deu para ter essa ascensão na vida. Hoje eu digo que a mulher está onde deve estar, onde a gente quiser estar. Por isso eu acho que é muito importante se valorizar e reconhecer quem somos”, comenta.
Homenageada em exposição 🖼️
Além de Nilsângela, figuras marcantes como Laudelina de Campos Melo, poços-caldense que lutou pela causa doméstica no Brasil, são parte da exposição em homenagem ao dia das mulheres no Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas.
Com fotos e as biografias, a exposição deve destacar diversas mulheres que fizeram ou fazem a diferença no dia a dia da cidade, mas que nem sempre são notadas.
Conforme o Museu, “Só podia ser mulher” é uma exposição pensada para lembrar e valorizar toda a trajetória das mulheres que estão nos livros e tantas outras anônimas relevantes em seu tempo e espaço.
As homenagens ficam em cartaz na Sala de Exposições Temporárias Nini Mourão até o dia 31 de março.
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