Veterinária especializada em felinos atendeu o animal e indicou um tratamento médico e comportamental. Tutora teve braços e pernas ‘rasgados’ durante ‘ataque’ do gato em casa
Arquivo pessoal
Tutora teve braços e pernas ‘rasgados’ durante ‘ataque’ do gato em casa
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O gato Thor, que atacou a tutora e fez a família se ‘esconder’ dele dentro da própria casa, foi diagnosticado com transtorno de ansiedade. A veterinária Alessandra Gonçalves, que é especializada em felinos, atendeu o animal e afirmou que deve passar por um tratamento médico e comportamental. Ela negou a possibilidade de eutanásia, já indicada por outros profissionais.
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Thor tem sete anos e vive em São Vicente (SP) com a tutora, Luciana Nascimento, de 49, e as duas filhas dela, de 22 e 16. Elas contaram que o animal foi adotado com apenas 10 dias e apresenta comportamento agressivo desde o primeiro ano. A família também tem a gata Nina, de quatro anos.
Segundo a veterinária, o comportamento agressivo de Thor pode estar ligado a estresse ou dor. Neste sentido, a profissional citou a suspeita diagnóstica de Cistite Intersticial Felina ou Síndrome de Pandora, como também é conhecida. Trata-se de uma inflamação crônica da bexiga desencadeada por fatores estressantes.
“A partir de um estresse crônico ele pode ter sofrido um comprometimento da parte urinária”, explicou Alessandra. “A dor crônica fez com que mudasse o humor dele, e isso causou a ansiedade. Você não é feliz vivendo com dor crônica. Fica com ansioso e irritado”.
Alessandra afirmou que “gatos não são agressivos, eles estão agressivos”. Nestes casos, os “gatilhos” para o comportamento são “dor, medo e ansiedade” na maioria das vezes, complementou ela.
Tutora teve braços e pernas ‘rasgados’ durante ‘ataque’ do gato em casa
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Tratamento
De acordo com a médica veterinária, o tratamento de Thor deve durar entre seis meses e um ano para que ele possa apresentar melhora comportamental.
Para isso, ela destacou a importância de um ‘check-up’ no animal para identificar a dor que ele sente. Os indicativos disso, segundo Alessandra, já estão demonstrados no próprio comportamento do gato. “O bigode fica mais ‘arreado’ e os olhos semicerrados”, explicou.
A profissional citou a necessidade de medicamentos analgésicos e controlados para tratar o transtorno de ansiedade do animal. Além disso, ressaltou a importância de “enriquecer o ambiente” do gato.
“Isto é, proporcionar ao gato um ambiente em que ele possa exercer o comportamento natural de um gato”, comentou ela. “Escalar, arranhar, correr, pular e subir nas prateleiras. A saúde mental é fundamental também nos animais. Mente sã, corpo são, mas a mente dele está doente”.
Sentimento da tutora
Luciana Nascimento contou ter acompanhado o atendimento da profissional ao animal. “Ela entrou no cômodo onde ele está e chegou até a fazer carinho nele”, lembrou.
A tutora ressaltou estar confiante e torcendo para que “tudo fique bem” o quanto antes, mas ficou preocupada com os custos do tratamento. “Agora será uma série de exames, medicações, e tudo o que precisar para ele ficar bem e nós também”, disse.
“Confesso que fiquei mais aliviada com a visita da doutora Alessandra, mas entendi que será um processo lento”, finalizou ela.
Quem é o Thor? 🐱
Idade: 7 anos
Adotado: com 10 dias
Comportamento agressivo: a partir de 1 ano
Thor atacou a tutora, que ficou com os braços e pernas ‘rasgados’, em São Vicente (SP)
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Thor foi adotado pela família em 2017. Segundo apurado pelo g1, a filha mais nova da tutora do animal queria muito um gato. À época, Luciana tinha uma amiga que era protetora de animais e conhecia uma pessoa que tinha uma gata que tinha dado à luz.
O primeiro ataque ocorreu na Copa do Mundo de 2018. A família acredita que o barulho e a quantidade de pessoas dentro da casa, na ocasião, tenham assustado o animal, que não apresentou nenhum comportamento agressivo antes disso.
Outros três ataques ocorreram com faxineiras e a própria Luciana no momento em que usavam cloro para limpar a casa. A tutora parou de usar o produto, mas os ataques seguintes passaram a ser repentinos e sem motivos.
Não há precisão de quantos ataques Thor já tenha praticado, pois em muitas vezes mordia ou agarrava a perna das pessoas e saia correndo logo em seguida. O último ataque a Luciana foi o pior, mas não o único. Ele já havia sido agressivo de forma semelhante ao menos outras 10 vezes.
A tutora e as filhas tentaram diversas opções de tratamento para acalmar Thor, inclusive adotaram uma fêmea, por recomendação de um dos especialistas, porém ele passou a machucar Nina e foi necessário separá-los para preservar o bem-estar de ambos.
Nova tentativa de ataque
Thor atacou a tutora, que ficou com os braços e pernas ‘rasgados’, em São Vicente (SP)
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Após o último ataque, Thor passou a ficar no maior quarto da casa, que tem banheiro e sacada, sem acesso aos demais cômodos. No entanto, a família ficou com dó e resolveu soltá-lo, e ele tentou um novo ataque. Mãe e filhas conseguiram fugir e se esconder.
Agora, o gato está na área de serviço da casa. Ele foi sozinho para o cômodo após avançar nas tutoras. No local, elas colocaram caixas de areia e têm dado comida e água por meio uma janela, enquanto pensam como resolver a situação.
O maior medo da família é que alguém o maltrate. “Apesar de todos os ataques, nunca encostamos um dedo nele que não seja para carinho. Nunca nem o ameaçamos com qualquer tipo de objeto. Não seríamos capazes de agredi-lo, mesmo com tudo isso”, contou Luciana.
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Esperança de mudança
A tutora garantiu que sente amor por Thor, apesar dos ataques. Ela afirmou, inclusive, ter esperança de encontrar um tratamento que ajude na mudança de comportamento do gato, algo não seja a eutanásia [tirar a vida dele].
“Todos falam que só ajudariam se ele estivesse na rua, o que é um absurdo porque, assim como a gente, ele também está sofrendo”, disse Luciana, se referindo a instituições e órgãos voltadas aos cuidados a animais.
“Queremos ajudá-lo e não temos apoio de ninguém. Até os veterinários não entendem a situação”, finalizou a tutora.
Entenda o caso
Gato ‘atacou’ tutora que servia comida para ele em São Vicente (SP)
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Ao g1, Luciana recordou o momento do ataque. “A casa [ficou] ensanguentada, e eu praticamente desmaiando por conta da dor”, lembrou ela, que mantém as filhas em cômodos separados do gato. “Preservação da minha vida e da minha família”, disse.
Apesar da situação, ela busca um desfecho positivo para o animal. “Amo o Thor. Nosso convívio é de sete anos. Estou totalmente abalada física e emocionalmente”, desabafou ela.
“Mesmo sendo ‘perigoso’, por ele ter me atacado e machucado algumas vezes, fico de mãos atadas”, explicou ela. “Não quero me desfazer dele e nem tenho como fazer isso porque ninguém ficaria [com o animal], uma vez que soubesse da agressividade”.
Psiquiatra felino
Especialista em psiquiatria felina, o médico veterinário Guilherme Dornellas explicou que, para evitar situações do tipo, o tutor deve ‘estimular’ o animal desde cedo, criando espaços para ele brincar, dormir e até se esconder, com o objetivo de “ter a sensação de segurança e diminuir os níveis de estresse”.
Dornellas acrescentou que o comportamento dos felinos pode ser estimulado por meio de brincadeiras, “priorizando o uso de objetos, como varinhas, bolinhas de papel e até laser para pessoas com menor mobilidade”.
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O profissional ressaltou a importância dos ‘arranhadores’ para esses pets. “Ao invés de brigar com o gato que está afiando a unha no sofá, proporcione [os itens] que protejam os móveis […]. Esse é um comportamento natural e que ajuda a aliviar o estresse”.
Por fim, ele afirmou que, antes da eutanásia, o tutor deve procurar um veterinário especialista em felinos. “Não que os outros sejam ruins, mas assim como a medicina humana, a veterinária também tem muitas especialidades e profissionais qualificados para todo tipo de caso”.
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