18 de novembro de 2024

Governo de SP libera a retirada de moluscos em áreas de cultivo após novas análises em Cananéia, SP; entenda

Análises laboratoriais mostraram que o consumo dos moluscos bivalves retirados de dois canais em Cananéia (SP) é seguro. Ostras retiradas de área de cultivo em Cananéia (SP)
Sidnei Coutinho
O governo do estado de São Paulo anunciou a liberação da retirada de moluscos bivalves dos canais Porto Cubatão e Itapitangui, em Cananéia, no litoral paulista. A cidade é uma das quatro onde foi encontrada uma alta concentração de microalgas tóxicas. Com a decisão, os produtores podem retirar os animais da água para que sejam consumidos. Ainda não há informação sobre a liberação para outras cidades afetadas como Peruíbe, Itanhaém e Praia Grande.
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Em função da descoberta das microalgas tóxicas no ma, o governo de São Paulo proibiu, na semana passada, a venda de moluscos, como o marisco e ostras, provenientes das cidades de Peruíbe, Cananéia, Itanhaém e Praia Grande, no litoral paulista. A determinação vale para os estoques de alimentos produzidos desde 30 de julho, em todo o estado de São Paulo.
A Defesa Agropecuária fez uma nova coleta de água e moluscos, na terça (13) e quarta-feira (14), em diversos pontos do litoral de São Paulo. As amostras de Cananéia, por exemplo, foram enviadas a um laboratório de referência de Santa Catarina que realizou a análise.
Ieda Dalla Pria Blanco, coordenadora do Programa Estadual de Sanidade dos Animais Aquáticos (PEMMOBI), explicou que a retomada das vendas ainda será discutida entre as Secretarias da Agricultura e Abastecimento, Meio Ambiente e Saúde, em uma reunião nesta segunda-feira (19).
“[O resultado] significa que os animais absorveram toxinas produzidas pelas microalgas, mas ou já depuraram um pouco ou não absorveram o suficiente para que a contaminação chegasse ao nível crítico, que pode causar agravos à saúde humana”, disse ela.
Resultados
A avaliação que resultou na liberação segue uma portaria do Sistema de Defesa Agropecuária (SDA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de setembro de 2023, além do PEMMOBI.
Segundo laudo obtido pelo g1, em Itapitangui, não foram detectadas a presença de ácido domóico e toxinas equivalentes a azaspirácidos nas amostras. Já para o ácido ocadaico, cujo limite era de 160, o resultado foi 117,5. No Porto Cubatão, o resultado para as primeiras duas toxinas deu negativo e, para o ácido ocadaico, 46,2.
“A ingestão de ácido ocadaico é relacionada à síndromes diarréicas, náuseas, vômitos e dor abdominal a partir de 30 minutos a algumas horas após a ingestão. O tratamento térmico – cozinhar, congelar, ferver – não elimina a toxina, e a presença dela não causa alterações organolépticas, cheiro, gosto e cor nas ostras e mariscos”, explicou Ieda.
Segundo ela, outra informação importante é que as contaminações podem vir de outras fontes, como bactérias no cultivo, na manipulação dos alimentos no preparo e até transporte ou acondicionamento. Com os níveis encontrados nas amostras, porém, não há risco à saúde.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Saúde estadual e com o governo do estado para mais informações sobre a retomada das vendas, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
Fiscalização
Manejo e alimentação com ostras é atrativo em Cananéia (SP)
Sidnei Coutinho
Segundo a nota técnica do governo do estado, que anunciou a proibição do consumo e venda dos moluscos bivalves, os grupos de Vigilância Sanitária estadual e Vigilâncias Sanitárias municipais deverão proceder à interdição cautelar do comércio se encontrarem os estoques de moluscos bivalves, originários de Peruíbe, Praia Grande, Itanhaém e Cananeia, produzidos a partir de 30 de julho. Isso vale para qualquer comércio no estado.
O não cumprimento da determinação pode resultar em:
Advertência;
Prestação de serviços à comunidade;
Apreensão;
Interdição;
Inutilização;
Suspensão de venda ou fabricação;
Cancelamento de licença;
Proibição de propaganda;
Intervenção de estabelecimento de prestação de serviços de saúde;
Multa.
O governo estadual destacou que a liberação do comércio e consumo ocorrerá quando a fase de Alerta 2 do Plano de Contingência for revertida e o órgão responsável pela agricultura no estado se manifestar sobre a conformidade dos moluscos.
🐟 Por que os moluscos? E os peixes?
Ostras
Pixabay/Imagem ilustrativa
O biólogo William Rodriguez Schepis explicou que a intoxicação ocorre porque os moluscos filtram a água e são sésseis, ou seja, estão fixados em alguma superfície. Existem alguns peixes que também são filtrantes, mas eles acabam nadando para outro local e se afastam, o que permite evitar a contaminação.
“Eles estão ali filtrando a água de forma constante e acabam ingerindo, tendo contato com esses dinoflagelados que produzem essa toxina. É por isso que só esse tipo de organismo filtrante, séssil, que acaba sendo impactado pela maré vermelha”.
Ao g1, o biólogo Alex Ribeiro salientou que os moluscos são considerados produtores na cadeia primária de fornecimento de alimento. “Eles consomem microrganismos por meio de filtração. Então, a ostra, o mexilhão, sururu… todos esses bivalves são animais filtradores”.
Segundo ele, nesse primeiro momento, não é necessário ter preocupação com o consumo de pescados. Somente alguns animais específicos, como a estrela-do-mar, se alimentam dos moluscos bivalves. Dessa forma, é pouco provável que os peixes consumidos pelo homem diariamente estejam contaminados pela ingestão dos invertebrados.
Cetesb
Em nota, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que o Plano de Contingência para possível contaminação dos moluscos pela microalga Dinophysis acuminata é acompanhado de forma intersecretarial pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) e Secretaria de Meio Ambiente (Semil).
De acordo com a Cetesb, o objetivo das novas análises é averiguar se a toxina produzida pela microalga detectada está acima dos limites máximos na parte comestível dos moluscos bivalves, que englobam ostras, mexilhões, vieiras e berbigões.
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