Profissionais de apoio alegam falta de pagamento de salários e benefícios, como vale-transporte e o vale-alimentação. Cuidadores de crianças relatam falta de pagamento em escolas estaduais de Campinas
Adolescentes com deficiência que recebem o auxílio de cuidados nas escolas estaduais da região de Campinas (SP) têm deixado de frequentar as salas de aula por conta da greve dos profissionais de apoio. A categoria alega falhas no pagamento de salários e benefícios, como vale-transporte e vale-alimentação.
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Os cuidadores são responsáveis por acompanhar alunos com deficiência física, intelectual ou algum transtorno neurológico. Esta presença é garantida por um decreto estadual, mas desde o fim de julho alguns pais começaram a receber mensagens sobre a paralisação da assistência.
Alunos sem acompanhamento
Kaique Nunes Moreira é estudante na rede estadual de Campinas e enfrenta, desde os 14 anos, a síndromes do QT curto (SQTC), uma doença com presença de arritmias no coração e risco de morte súbita repentina.
Pela condição, o adolescente recebe o auxílio da cuidadora Carol Picolomine, que o acompanhava diariamente durante as atividades escolares. A profissional, porém, está em greve por não receber o salário há cerca de dois meses.
Kaique Nunes Moreira está sem frequentar a escola por falta de auxílio da cuidadora
Reprodução/EPTV
Desde 2021, a síndrome já levou o adolescente a ter 20 paradas cardíacas, sendo quatro dentro da sala de aula. Apesar de possuir um desfibrilador portátil implantado no peito, o menino ainda precisa de um profissional de apoio para dar suporte a tarefas simples, como ir ao banheiro.
“Eu sinto falta, né, porque a gente acaba criando um vínculo. E até o Kaique também tem que ter a inclusão ali com os colegas também “, lamenta Carol Picolomine.
Preocupado com o desenvolvimento do filho, o pai do Kaique registrou um boletim de ocorrência para tentar garantir o direito de receber o auxílio. “Deu trabalho para fazer o boletim de ocorrência que eles não queriam estar fazendo né, mas se a gente não levar ele para a escola o Conselho Tutelar vem atrás da gente.”
Em Amparo (SP), Maiany Marcelly Jesus dos Santos não frequenta a escola há duas semanas. A jovem tem a mobilidade comprometida, reflexo da paralisia infantil, e precisa do auxílio de uma profissional para atividades que exigem coordenação motora.
Monica Santos, mãe Maiany, diz que sofre as consequências da greve com a filha, já que precisa dedicar-se aos cuidados com a jovem mesmo no período em que ela estaria na escola.
“Muda bastante, porque ela na escola eu posso fazer alguma coisa né, e com ela em casa eu tenho que ficar mais tempo com ela”, relata.
Joice do Nascimento é mãe de um estudante com autismo e explica a importância da cuidadora na vida do menino. “Vai auxiliar na comida, ir no banheiro, escovar o dentes, se tiver uma desregulação ela vai ajudar também.”
“No caso do meu filho, ele é epiléptico. Além de ter o autismo, ele tem as crises de convulsões e a cuidadora ajuda nisso também, porque ela vai estar com ele se acontecer dele convulsionar, ela é a primeira pessoa que está ali para dar o suporte.”
Falta de pagamento
Segundo os cuidadores, as faltas de pagamentos vêm ocorrendo desde junho, quando foram percebidos depósitos atrasados ou com valores diferentes dos assinados em contrato.
“Trabalhei o mês de junho inteiro, eles pagaram, mas não pagaram o VT [vale-transporte], pagaram o salário tudo errado. […] eles chegaram a depositar R$ 49 de VT para a gente. O que a gente faz com R$ 49?”, conta a cuidadora Daniela Moraes.
Cuidadores param de ir trabalhar em escolas da rede estadual de Campinas por falhas em pagamento e benefícios
Reprodução EPTV
O que diz a empresa responsável?
Em Campinas, o Instituto de Apoio à Pessoa com Deficiência e Inclusão Social (Iape), responsável pelos pagamentos, afirma ter enfrentado dificuldades no cadastro de profissionais no sistema financeiro para efetuar o pagamento.
A empresa afirma que os problemas foram resolvidos e que não tem conhecimento de colaboradores ativos que estejam sem receber salário. Ainda informa que chegou identificar alguns funcionários que não receberam o vale-alimentação, mas o pagamento foi programado para ocorrer até esta sexta-feira (16).
Já a empresa Cronos, responsável pelos pagamentos em Amparo e Pedreira (SP), diz que, por uma inconsistência no sistema, precisou reprocessar a folha de salário dos últimos dois meses e que as pendências devem ser pagas até o dia 20 de agosto.
E a Secretaria Estadual de Educação?
A Secretaria Estadual de Educação informa que nenhum pagamento às prestadoras deixou de ser feito, e que notificou as empresas para cumprirem as obrigações contratuais, regularizando tanto o pagamento dos cuidadores quanto o retorno das atividades.
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