18 de janeiro de 2025

Grupo faz plantio de mudas de árvores em homenagem às vítimas do ataque ao assentamento do MST no interior de SP


O ataque completou uma semana nesta sexta-feira (17). Ao todo, 26 moradores do assentamento foram incluídos em um programa de proteção do governo federal. O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil, que já prendeu um suspeito de participar do ataque e faz buscas por outros quatro homens. Investigação de ataque a assentamento do MST é reforçada
Um plantio de 70 mudas de árvores nativas foi realizado, na tarde desta sexta-feira (17), em homenagem aos moradores que morreram no ataque ao assentamento Olga Benário, do MST, em Tremembé. Valdir Nascimento, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 27, foram assassinados a tiros – relembre o caso abaixo.
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Cerca de 200 pessoas vivem legalmente no local e torcem para um recomeço em segurança. Apesar do reforço no policiamento no local, os moradores relatam sentir medo, devido ao trauma vivido após o ataque.
“Foi muito difícil todo esse processo. As famílias ainda estão receosas, com medo. Nós estamos aqui em um ato simbólico de plantio. Estamos plantando mais de 50 mudas, como forma de resistência e memória de sétimo dia aos companheiros”, afirmou Patrícia Maria Alves, dirigente do MST.
Na última segunda-feira (13), uma equipe do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, chegou ao assentamento para conversar com os moradores e elaborar possíveis medidas de segurança. Até o momento, 26 moradores foram incluídos em um programa nacional de proteção.
“Hoje teve mais escutas, então pode ser que esse número de 26 pessoas aumente nos próximos dias, que é necessário a gente continuar fazendo essas escutas, continuar dando um atendimento emergencial às essas vítimas que ficaram mais gravemente feridas e por isso nós devemos seguir com os atendimentos nos próximos dias”, afirmou Igor Martini, coordenador-geral do programa de proteção do MDHC.
Ainda segundo o coordenador-geral do programa, geralmente, as vítimas ficam um ano no programa de proteção. Ele ressalta que a segurança do assentamento deve ser reforçada pelo Ministério, com uso de câmeras de monitoramento, por exemplo.
“Estamos instalando equipamentos de segurança, para garantir que essas casas e o assentamento sejam monitorados por câmeras 24 horas e também sistemas de comunicação e de alerta, para que a qualquer situação de risco elas possam comunicar imediatamente as autoridades policiais e também o programa de proteção”, completou Igor.
Grupo faz plantio de mudas de plantas em homenagem às vítimas do ataque ao assentamento do MST no interior de SP
Reprodução/TV Vanguarda
O lote onde o crime ocorreu estava desocupado à espera da finalização de um processo de transferência de posse. Segundo o MST, cerca de 15 moradores estavam no local para garantir que não houvesse invasão irregular, quando um grupo chegou atirando – saiba mais abaixo.
Ao todo, oito pessoas foram atingidas, sendo que duas morreram e seis ficaram feridas. Entre os feridos, duas pessoas ainda estão internadas no Hospital Regional de Taubaté.
A Polícia Civil montou uma força-tarefa para investigar o ataque. A equipe foi reforçada com mais dois delegados e 10 investigadores. Ao todo, são três delegados e 30 investigadores no caso.
O único preso pelo ataque, até o momento, é Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como “Nero do Piseiro”. Outros quatro suspeitos de envolvimento no crime foram identificados pela polícia e são procurados.
Assentamento Olga Benário, do MST, em Tremembé, SP
Rauston Naves/TV Vanguarda
Força-tarefa
A Polícia Civil montou uma força-tarefa para investigar o ataque que deixou duas pessoas mortas e seis feridas em um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Tremembé, no interior de São Paulo. O crime completou uma semana nesta sexta-feira (17).
Segundo o delegado seccional de Taubaté, responsável pelo caso, Marcos Parra, nesta semana houve um reforço na equipe que está atuando na investigação, com a chegada de mais dois delegados e outros 10 investigadores.
Ao todo, a Polícia Civil está trabalhando com um total de três delegados e 30 investigadores no caso. Ele afirmou que a polícia atua com três frentes principais, sendo elas a motivação do crime, a identidade dos autores e a produção de provas.
Os motivos já foram definidos e quase todas as identidades também, segundo Parra, que afirmou que a polícia trabalha para localizar as pessoas envolvidas no ataque.
Até o momento, um homem suspeito de ter participado do ataque foi preso e outras quatro pessoas estão foragidas, sendo procuradas pela polícia – leia mais abaixo.
De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), o caso “é rigorosamente investigado pela Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Taubaté, com o apoio da Polícia Civil de Tremembé”.
Em nota, a pasta informou que os investigadores analisaram imagens de câmeras de segurança e identificaram os veículos que foram utilizados na ação criminosa, sendo que um deles foi localizado em um terreno baldio e apreendido.
Além do veículo, a SSP disse que a polícia já apreendeu projéteis e armas brancas, além de uma moto. A investigação, segundo a Secretaria, segue com a coleta de depoimentos e elaboração de laudos periciais.
Assentamento do MST onde houve ataque que resultou em duas mortes em Tremembé, SP
Peterson Grecco/TV Vanguarda
O crime e suspeitos
O ataque aconteceu na noite da última sexta-feira (10), no assentamento Olga Benário, na Estrada Kanegae, em Tremembé. Na ocasião, o caso foi registrado como homicídio e tentativa de homicídio.
Um dia depois, em entrevista coletiva, o delegado seccional informou que as evidências iniciais apontam para uma possível disputa por um lote no assentamento como a motivação do crime.
“Com o assentamento fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local. Até onde a gente apurou, essa concordância não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, contou o delegado.
“O homem e seu grupo estariam lá para, num primeiro momento, intimidar, mas, como não intimidou e aconteceu, na verdade, uma repulsa da presença deles lá, a gente tem o nascimento de um confronto envolvendo arma branca e arma de fogo e levou a gente para esse resultado trágico de várias mortes e várias pessoas lesionadas”, completou.
O assentamento do MST que foi alvo do ataque fica na zona rural de Tremembé.
Reprodução/TV Vanguarda
Em entrevista à TV Vanguarda nesta semana, o delegado diretor do Deinter-1, Dr. Múcio Mattos, disse que o ataque não teve nada relacionado contra o MST, mas, sim, a um lote específico no assentamento.
O que foi possível compreender até agora é que o litígio foi nesse lote específico. Não é contra o Movimento [Sem Terra], é contra esse lote. A disputa não é da gleba, é do lote que está desocupado.
Desde então, a Polícia Civil conseguiu identificar ao menos cinco suspeitos pelo crime. Um deles foi identificado como Antônio Martins dos Santos Filho, mais conhecido como “Nero do Piseiro”.
Segundo a Polícia Civil, Nero, que foi preso e passou por audiência de custódia, confessou que foi até o local, mas negou ter efetuado disparos contra as vítimas. Ele é suspeito de chefiar o ataque.
Outros quatro suspeitos também foram identificados pela polícia, mas estão foragidos da Justiça – as identidades deles não foram reveladas.
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Gaeco na investigação
Na última segunda-feira (13), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) anunciou que o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) iria ajudar na investigação do ataque ao assentamento.
O Gaeco informou que o objetivo de atuar em conjunto na investigação com as outras forças de segurança, como a Polícia Civil e a Polícia Federal, “é somar esforços para que o Ministério Público de São Paulo ofereça à sociedade paulista pronta resposta a este episódio de violência”.
Gaeco vai ajudar na investigação de ataque em assentamento do MST
Perícia 3D
Um dia depois, na terça-feira (14), a Polícia Civil realizou uma nova perícia no assentamento Olga Benário. Segundo a polícia, a nova perícia conta com um equipamento scanner que faz análise 3D (em três dimensões) da área onde ocorreu o ataque.
O scanner é um equipamento de alta tecnologia e que permite captar imagens em 360°. Os aparelhos rastreiam a área de investigação e capturam imagens tridimensionais dos ambientes, de corpos, veículos e até de pequenos indícios, que podem passar despercebidos aos olhos dos peritos.
Polícia Civil realiza nova perícia com análise de scanner 3D em assentamento do MST que foi atacado em SP
Rauston Naves/TV Vanguarda
Visita ministerial
Ainda na última terça, agentes do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania do Governo Federal iniciaram as visitas às famílias que moram no assentamento.
De acordo com o Ministério, o grupo que está conversando com os moradores é formado por advogados, psicólogos e assistentes sociais. O atendimento é feito de forma individual ou por núcleo familiar.
O objetivo das visitas é ouvir os moradores e traçar um plano de proteção para garantir segurança aos moradores e também que eles tenham acesso a serviços públicos essenciais.
Equipes do Governo Federal e Perícia da Polícia Civil vão para assentamento de Tremembé
Segundo os agentes, serão traçados planos de proteção individuais, de forma personalizada, e também um plano de proteção coletiva, para atender todos os moradores do assentamento.
O plano de proteção, segundo o Ministério, vai contemplar também atendimento psicológico, para cuidar da saúde mental dos moradores do assentamento diante do trauma vivido pela comunidade após o ataque.
Além do grupo de atendimento, um ouvidor da pasta de Direitos Humanos vai ficar à disposição dos assentados que queiram apresentar possíveis denúncias.
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