Endêmica da Mata Atlântica, espécie pode chegar a 30 metros de altura. Raízes profundas e madeira resistente reduzem quedas e outros riscos. Guanandi (Calophyllum brasiliense) é uma espécie nativa da Mata Atlântica
Ricardo Cardim
Com certeza você já precisou desviar o seu caminho, quando está a pé andando na cidade, por conta de algum dano na calçada. E boa parte desses problemas é por causa do mau planejamento do plantio das árvores usadas no urbanismo.
Engana-se quem pensa que a função das árvores nos centros urbanos resume-se ao design e beleza dos ambientes. Muitas delas vêm sendo cultivadas para aumentar a qualidade de vida nos centros urbanos.
Espécie apresenta folhas vistosas e brilhantes
Omar Monzon Carmona / iNaturalist
O botânico e paisagista Ricardo Cardim explica que as árvores em geral contribuem para a diminuição da temperatura, aumento da umidade do ar, diminuição do barulho, retenção da água das enxurradas encaminhadas ao lençol freático, diminuição das enchentes e abrigo para a avifauna brasileira. Mas quais espécies são indicadas para evitar problemas futuros?
Uma delas, principalmente para quem mora nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, é guanandi (Calophyllum brasiliense), uma planta nativa da Mata Atlântica. A espécie tem um porte adequado, raízes com características profundas, que não compromete calçadas, mas desempenha o papel ambiental com eficiência.
“Grandes árvores têm grandes papéis dentro de uma cidade. Quando a gente planta uma árvore pequena, você tem apenas o equivalente a um galho grande do guanandi, então, a gente precisa de árvores como essa, maiores”, explica Ricardo.
Além disso, possui uma madeira dura considerada de alta qualidade, resistente a ventos e tempestades. Além das aves, suas flores atraem abelhas, sendo uma importante fonte de recurso para esses insetos.
Flores do guanandi atraem abelhas, sendo importantes fontes de recurso para esses insetos
Pablo Galan / iNaturalist
Fora todas essas qualidades, o guanandi ainda porta folhas de tamanho médio, que não entopem calhas e nem bueiros das cidades. É uma árvore que vive bastante, tranquilamente mais de um século, e pode ser encontrada em vários viveiros de plantas. De acordo com o botânico, muitas cidades já vêm adotando o guanandi na arborização urbana.
“Devido aos maus tratos infligidos contra as árvores urbanas ao longo de décadas nas cidades brasileiras, muitas dessas árvores adoecidas começaram a cair, a trazer problemas, tudo causado por falta de manutenção, principalmente”.
“Muitas prefeituras estão plantando somente árvores anãs, que são árvores que não têm nenhuma eficiência. Para a resiliência urbana perante às mudanças climáticas e serviços ambientais, a gente precisa de árvores grandes na cidade, como o guanandi”, finaliza.
A espécie
O guanandi, também chamado de jacareúba, pode ser encontrado desde a região amazônica até o norte de Santa Catarina. Principalmente na Mata Atlântica, a árvore tem se adaptado bem a terrenos onde outras espécies encontram dificuldade, mesmo em terras pobres, pedregosas, rasas ou sujeitas à inundação.
O guanandi tem como nome científico Calophyllum brasiliense, onde Callophyllum significa folha bonita, e brasiliense, do Brasil. Apresenta folhas vistosas e brilhantes. Além disso, perde poucas folhas na estação seca, tornando-se também uma boa opção para quem busca por sombra o ano todo.
Madeira do guanandi é dura e considerada de alta qualidade, sendo resistente a ventos e tempestades
Pedro Blanco / iNaturalist
“A espécie pode ser plantada em diversos tipos de solo, porém, em solos mais férteis tem crescimento mais acelerado. Apesar de ser classificada como heliófila (exigem luz direta), o guanandi necessita de sombreamento de intensidade média na fase juvenil. Mas é uma espécie intolerante a baixas temperaturas”, explica a botânica Carol Ferreira.
O guanandi também pode ser utilizado na restauração ecológica de áreas inundáveis e em solos ácidos com elevados teores de argila e baixos teores de nutrientes. A espécie é indicada para restauração de mata ciliar em locais sujeitos a inundações periódicas de média a longa duração.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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