20 de novembro de 2024

Guarda civil que matou ciclista após discussão de trânsito é condenado a 15 anos de prisão: ‘Vitória’, diz viúva

Júri popular condenou Vagner Alves de Santana nesta terça-feira (13). Crime aconteceu em 2019, quando Antônio Ramos Paiva Ferreira voltava da praia com a esposa e o filho pequeno, em Praia Grande (SP). Comerciante Antônio (à esq.) foi morto a tiros por guarda municipal Vagner (à dir.)
Reprodução/Redes sociais e Arquivo pessoal
Vagner Alves de Santana, o guarda civil municipal acusado de matar a tiros o ciclista Antônio Ramos Paiva Ferreira, após uma discussão de trânsito em Praia Grande (SP), foi condenado a 15 anos, nove meses e quatro dias de prisão. Ele passou por júri popular nesta terça-feira (13), também na cidade. Da decisão cabe recurso.
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O crime aconteceu em 2019, quando a vítima voltava da praia com a esposa e o filho pequeno. Antônio estava de bicicleta quando foi ‘fechado’ por um carro prata, que não parou.
O condenado e outro guarda apareceram em uma viatura e liberaram o condutor do carro. A partir disso, Vagner e Antônio discutiram e a vítima foi baleada três vezes, no braço direito, tórax e glúteo.
Segundo o advogado Rui Elizeu, que representa a família da vítima, Vagner foi condenado à prisão e também perdeu a função pública como guarda civil municipal. O homem ainda vai passar por uma audiência de custódia antes de ser encaminhado ao sistema penitenciário.
A viúva de Antônio, Mirelle Pinheiro, afirmou que a decisão não vai trazer o marido de volta, mas garante conforto para os familiares.
“Para a gente é uma vitória. Esperamos quase seis anos por isso”, desabafou ela. “Saber que, independente de tudo, a justiça foi feita. Agora posso falar para o meu filho que lutamos, conseguimos, e isso não ficou impune”.
Advogado Rui Elizeu e Mirelle Pinheiro (à esq.) após a condenação do guarda que matou Antônio Ramos (à dir.)
Arquivo Pessoal e Reprodução/Redes sociais
Versão do agente
Segundo a Polícia Civil, uma viatura da Guarda Civil Municipal (GCM) estava em patrulhamento pela área quando os guardas presenciaram uma discussão entre um ciclista e o motorista do carro.
O condenado disse à corporação que Antônio continuou no local e passou a ofendê-lo. O agente teria entrado na viatura para ir embora quando o ciclista foi em direção ao motorista e tentou tirá-lo de dentro do carro.
No relato, o guarda informou, ainda, que usou o gás de pimenta para tentar conter o ciclista, que mesmo assim foi em sua direção e lhe deu dois socos. O ciclista teria tentado se apoderar da arma e, durante o embate, os dois foram ao chão. Nesse momento, o guarda disparou contra o homem. A ambulância foi acionada e constatou a morte no local.
De acordo com o delegado de Praia Grande Sergio Lemos Nassur, o homicídio envolveu legítima defesa do agente. Na época, a prefeitura informou ao g1 que “o guarda envolvido foi afastado para a apuração, conforme procedimento habitual da Guarda Civil Municipal em casos desse tipo”.
Versão da esposa do ciclista
A esposa de Antônio, no entanto, apresentou outra versão. Segundo ela, naquela tarde, ela estava com o marido e o filho do casal voltando da praia em duas bicicleta. A criança estava na cadeirinha no veículo dela e, Antônio, sozinho. Na confluência com a Avenida Ministro Marcos Freire, a família foi surpreendida pelo carro prata, que entrava no viaduto.
Segundo a jovem, o condutor fez uma curva muito fechada e atingiu a frente da bicicleta de Antônio, danificando-a. Naquele momento, mesmo sendo chamado pelo marido dela, o motorista do carro não parou.
Corpo de Antônio coberto por manta em Praia Grande (SP)
Polícia Científica/Inquérito policial
Na ocasião, Antônio viu a viatura se aproximando e deu sinal de parada. Os dois GCMs desembarcaram, sendo que um estava mais calmo e o outro, Vagner, nervoso e “alterado”. Após um breve contato, o guarda acenou para o motorista do carro prata dizendo que fosse embora.
Antônio questionou o agente sobre o motivo da liberação, momento em que o guarda teria dito: ‘cala boca, seu bosta’ e Antônio retrucou. O outro agente tentou intervir, mas Antônio e Vagner discutiram. Em dado momento, a dupla de agentes foi caminhando até a viatura, e a esposa de Antônio aproveitou para atravessar a avenida.
De acordo com o relato, o marido dela ficou para trás para pegar a bicicleta, que deixou encostada na defensa do viaduto. A mulher continuou pedalando, sentido Vila Mirim, momento em que ouviu dois tiros e, segundos depois, um terceiro.
Não foi afastado
O advogado José Sérgio Boscayno Teixeira, que defendeu Vagner durante o processo, mas não participa do júri popular nesta terça-feira, disse ao g1 que ele não foi preso em nenhum momento. O único afastamento, segundo ele, foi em decorrência de operações no joelho.
“Não foi afastado [da GCM] por conta do processo, ficou meses em licença médica porque operou o joelho, mas já retornou ao trabalho”, afirmou.
O g1 entrou em contato com Armando de Mattos Júnior, advogado que representa o agente no plenário nesta terça-feira, e com a Prefeitura de Praia Grande, mas ainda não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
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