As taxas cobradas na região para comerciantes e moradores aumentaram depois que a guerra no local se intensificou. Só com a extorsão para a instalação de gatos de energia, os criminosos faturam cerca de R$ 2 milhões por mês. Guerra tráfico x milícia em Rio das Pedras aumenta casos de extorsão e moradores começam a deixar o local
A guerra entre milicianos e traficantes na Comunidade Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, vem provocando o aumento dos casos de extorsão contra os moradores da região. Com as cobranças cada vez mais caras, muitas pessoas já ameaçam fechar seus negócios ou até deixar a favela.
Entre as cobranças que aumentaram na localidade estão: taxas para ‘gato de energia’; taxa para ter qualquer tipo de comércio; imposto pela venda de produtos; para o fornecimento de sinal de TV a cabo e internet; e para construir ou reformar imóveis.
“Com essas cobranças, absurdas, os moradores e comerciantes ficam com medo, acuados. Sem saber a quem recorrer. Nós vemos nossos direitos aí sendo desrespeitados”, comentou um morador.
“Para quem trabalha em barracas, ambulantes, as taxas são semanalmente. Para quem tem sua loja fixa, mensalmente”, explicou.
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Além das cobranças mais comuns, comerciantes também pagam para manter seus negócios e também um percentual em cima de cada produto vendido. Isso fez o preço do ovo, por exemplo, saltar de R$ 1 para cerca de R$ 1,50 a unidade.
Rio das Pedras em guerra na zona oeste do Rio
As doze empresas que fornecem sinal de TV a cabo e de internet na região também são obrigadas a pagar mensalmente para milícia. As taxas variam entre R$ 30 mil e R$ 150 mil, dependendo do número de assinantes.
A energia elétrica nas casas chega por ‘gatos’. Mas como todos os serviços, os consumidores também pagam diretamente para a milicia. Cada morador paga R$ 400 pela instalação. Já os comerciantes, pagam R$ 3 mil.
Além disso, existe uma tarifa mensal pelo serviço. A cobrança pela manutenção gira entre R$ 100 e R$ 3 mil, de acordo com o tamanho do imóvel.
“Todos são obrigados a pôr gato. O furto de luz é obrigado. É obrigatório dentro da comunidade”, contou outro morador.
Moradores em fuga
A favela de Rio das Pedras e o bairro da Barra da Tijuca cresceram juntos naquela região da Zona Oeste.
Nos anos de 1980, a Barra viveu uma explosão demográfica, quando surgiram condomínios, shoppings e avenidas foram duplicadas. A mão de obra necessária para construir tudo isso veio, em grande maioria, do Nordeste do país.
Esses operários passaram a morar em Rio das Pedras. Cerca de 40 anos depois, alguns desses moradores se sentem tão aprisionados e explorados pela milícia que fazem o caminho inverso: retornam para as cidades de onde vieram.
“A população está indo embora. Várias famílias estão indo embora por medo. Indo embora, além de insegurança, por não ter condição de manter, de sobreviver nesse local mais. As famílias estão indo embora para o Nordeste, estão buscando outras áreas. Estão buscando outros locais pra sobreviver”, disse um morador.
“Infelizmente, tá feio demais. Tá feio demais. E o estado continua omisso. O estado não enxerga, parece que tem um tampão nos olhos”, completou.