Gusttavo Lima contou que, entre convidados da viagem, estavam os donos da Vai de Bet, que estão sendo investigados na operação. No entanto, o cantor afirmou que ‘ninguém sabia’ sobre situação deles. Gusttavo Lima celebra aniversário de 35 anos em super iate de luxo, na Grécia
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O cantor Gusttavo Lima se pronunciou, durante uma live nesta segunda-feira (30), sobre a viagem que fez para a Grécia para comemorar o aniversário de 35 anos, mencionada nas investigações de lavagem de dinheiro. Segundo ele, a viagem foi programada e foi resultado de um ano de trabalho. O cantor foi indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Trabalhei o ano todo para juntar dinheiro para ir nessa viagem. Foi uma viagem maravilhosa”, disse o cantor.
Gusttavo Lima contou que, entre os convidados da viagem, estavam os donos da Vai de Bet, José André e Aislla Rocha, que estão sendo investigados na operação. No entanto, ele ressaltou que “ninguém sabia” sobre a situação do casal, que foi considerado foragido até 23 de setembro, quando ambos foram beneficiados por um habeas corpus. Segundo ele, a informação sobre o caso chegou enquanto eles já estavam na viagem.
Dono e co-ceo da VaideBet, André e Aislla Rocha, ao lado do casal Gusttavo Lima e Andressa Suíte em festa na Grécia; Governador de Goiás Ronaldo Caiado aparece ao fundo
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Ainda durante a live, Gusttavo Lima relatou que, ao tomarem conhecimento da situação, os proprietários da empresa Vai de Bet seguiram viagem, enquanto ele e sua equipe tomaram outro rumo.
A decisão da Justiça que decretou a prisão do cantor cita que: “Na ida, a aeronave transportou Nivaldo Batista Lima e o casal investigado, realizando o trajeto Goiânia – Atenas – Kavala. No retorno, o percurso foi Kavala – Atenas – Ilhas Canárias – Goiânia, o que sugere que José André e Aislla tenham desembarcado na Grécia ou nas Ilhas Canárias, na Espanha”.
Sobre a logística do voo que passou pelas Ilhas Canárias, o cantor contou que, ao retornarem ao Brasil no dia 7 de setembro, enfrentaram condições climáticas adversas. “Pegamos vento de frente e chuva; o avião que normalmente voa a 900 km/h estava a 560 km/h”, explicou, completando que precisaram fazer uma parada para reabastecimento.
O advogado Claudio Bessa, que estava na live com o cantor, divulgou a lista completa de passageiros, que incluía amigos, familiares, funcionários e o governador Ronaldo Caiado – que chegou a se pronunciar e dizer que acredita na inocência de Gusttavo Lima.
O cantor falou sobre sua relação com os donos da Vai de Bet, afirmando que os conheceu no São João de 2022, quando foi convidado para ser embaixador da marca. “Nossa relação é 100% profissional, mas acho que o que está acontecendo é uma grande injustiça”, finalizou.
Operação Integration
A Operação Integration investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro relacionado ao jogo do bicho e a jogos de azar online, gerido por casas de apostas virtuais conhecidas como “bets”. A operação foi deflagrada em 4 de setembro, resultando na prisão de várias pessoas, incluindo Deolane Bezerra e a mãe dela, Solange Bezerra.
No dia 15 de setembro, conforme uma reportagem do Fantástico veiculada no domingo (29), Gusttavo Lima foi indiciado por lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. Posteriormente, em 23 de setembro, a Justiça de Pernambuco decretou a prisão preventiva de Gusttavo Lima. No entanto, em 24 de setembro, essa ordem de prisão foi revogada.
Contrato com a Vai de Bet
A reportagem feita pelo Fantástico revelou que a polícia acredita que Gusttavo Lima seja o dono oculto de 25% da Vai de Bet. A explicação para isso é que, no final de 2023, a empresa fechou um patrocínio milionário com o Corinthians, que acabou se tornando alvo de outra investigação em São Paulo.
Segundo inquérito, em depoimento, um conselheiro do clube contou que o presidente do Corinthians falou por telefone com Gusttavo Lima e que o presidente afirmou — já naquela época — que o cantor era um dos donos da Vai de Bet. O cantor negou e disse que é apenas o “garoto-propaganda” da marca.
O Corinthians disse ao Fantástico que o caso está na Justiça e que o clube não trata mais de questões ligadas a essa empresa. Já André da Rocha Neto, sócio da Vai de Bet, disse ao Fantástico que o cantor tem direto a 25% da marca, mas que nunca foi sócio e jamais participou da administração.
Venda de aeronave
Gusttavo Lima é indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa em investigação sobre jogos ilegais
O Fantástico também apurou que Gusttavo Lima é suspeito de uma negociação irregular envolvendo duas aeronaves de empresários ligados aos jogos ilegais. Novos detalhes da investigação revelam que uma delas, um avião da Balada Eventos, foi vendido duas vezes em um ano para investigados na operação.
Segundo a reportagem, a primeira venda ocorreu em 2023. Por US$ 6 milhões, o avião foi vendido para a Sports Entretenimento, pertencente a Darwin Henrique da Silva Filho, que ficou com a aeronave durante dois meses. Logo depois, ele se desfez da aeronave, alegando problemas técnicos.
A investigação mostra que o contrato e o distrato foram emitidos no mesmo dia, 25 de maio de 2023, e que o laudo — que apontou a falha mecânica — foi elaborado após o cancelamento da compra, em 29 de junho do mesmo ano.
Ao Fantástico, Darwin Filho afirmou que a transação da aeronave foi lícita e regular. Segundo ele, a própria quebra de sigilo bancário confirma as informações prestadas.
Em fevereiro de 2024, ocorreu a segunda venda: a Balada Eventos, de Gusttavo Lima, vendeu o mesmo avião — dessa vez, para a empresa J.M.J. Participações, do empresário José André da Rocha Neto, sócio da Vai de Bet, que também é alvo da operação.
A venda aconteceu, segundo a polícia, sem nenhum laudo que comprovasse o reparo no avião. A transação de R$ 33 milhões envolveu ainda um helicóptero que também era da empresa de Gusttavo Lima e já tinha sido comprado por outra empresa de André Rocha Neto.
Na negociação, o helicóptero voltou para o cantor. A investigação aponta que as empresas que compraram as aeronaves usaram tanto dinheiro legal quanto dinheiro ilegal, vindo do crime.
De acordo com o inquérito, o esquema funcionava assim:
O dinheiro do jogo do bicho, de jogos de azar e de bets legalizadas iam todos para um mesmo caixa
Lá, os valores lícitos eram misturados aos do crime
Para dar aparência legal e voltar ao mercado limpo, o dinheiro contaminado, segundo a polícia, foi usado na negociação das aeronaves.
Sobre isso, Gusttavo Lima disse na live que não há irregularidades nos contratos da venda e que não sabia que uma das empresas era suspeita de crimes.
“Eu não sei quantos aviões já tive. Mas a gente tem que explicar, porque comprar avião não é igual comprar carro (algo simples)”, afirmou.
A defesa de Gusttavo Lima enviou uma nota ao Fantástico em que diz que os contratos foram feitos em nome das empresas com os seus representantes legais, o que afasta a possibilidade de lavagem de dinheiro. Disse também que a análise dos policiais apresenta falhas ao não considerar a data digital do distrato da compra de uma das aeronaves.
A defesa de Rocha Neto disse ao Fantástico que ele usou o helicóptero como parte de pagamento do jatinho da Balada Eventos. Quanto à movimentação financeira, Rocha Neto afirma que tem negócios diversificados e que sua família empreendeu e prosperou no ramo da construção civil, há décadas. Disse ainda que ele e a esposa hoje lideram a marca Vai de Bet.
Prisão revogada
A revogação da prisão de Gusttavo Lima foi decretada na última terça-feira (24) pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Eduardo Guilliod Maranhão, que é relator do caso. Na decisão, o magistrado afirmou que as justificativas dadas para a ordem de prisão constituem “meras ilações impróprias e considerações genéricas”.
O Ministério Público pediu mais informações antes de decidir se vai ou não denunciar o cantor. O advogado criminalista Rodrigo Andrade Martini explicou o motivo disso ao Fantástico. Segundo o especialista, a promotoria precisa ter certeza se Gusttavo Lima sabia ou não que o dinheiro usado em todas as transações investigadas era de origem criminosa.