Júri não considerou agressões como tentativa de feminicídio e Thiago Martins Faria foi condenado pelo crime de lesão corporal dolosa. A vítima foi agredida com chutes e socos e teve várias sequelas físicas e emocionais. Na época, ela contou que só conseguiu fugir e buscar ajuda, porque o marido achou que ela estivesse morta e voltou a dormir. Thiago Martins Faria foi preso em junho, no Campo dos Alemães, em São José dos Campos (SP)
Reprodução
A Justiça decidiu, em júri popular na tarde desta quarta-feira (21), pela condenação do homem acusado de espancar a ex-companheira, que precisou fingir estar morta para sobreviver às agressões, em Jacareí, no interior de São Paulo. O crime aconteceu em 2022.
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De acordo com a sentença, Thiago Martins Faria foi condenado a 2 anos de prisão pelo crime de lesão corporal dolosa contra a professora Magda Faria. Ele vai poder cumprir a pena no regime semiaberto.
Inicialmente, o caso seria julgado como tentativa de feminicídio, que é quando a violência praticada contra a mulher tem motivação por razões da condição de gênero, mas o júri afastou a qualificação da tentativa de feminicídio e julgou o caso como lesão corporal, que tem pena mais branda.
Segundo a decisão, o juiz determinou que Thiago não poderá se aproximar de Magda a menos de 200 metros de distância. Ele também não poderá manter contato com ela por qualquer meio de comunicação.
Ainda na decisão, o juiz Marcos Augusto Barbosa dos Reis relembrou as agressões cometidas por Thiago e classificou o crime como “brutal e grave”.
“O crime praticado pelo réu contra a ofendida foi brutal e grave. Afinal, Magda foi agredida violentamente pelo próprio esposo dentro do seu lar apenas pelo fato de ter repreendido o alcoolizado réu após ele ter ingressado no quarto do filho e aberto a porta do armário para urinar”, disse.
Homem acusado de espancar professora que fingiu estar morta para sobreviver vai a júri popular
André Luis Rosa/TV Vanguarda
Em entrevista à TV Vanguarda, a professora Magda Faria, que sofreu as agressões, disse estar indignada com o resultado do júri.
“Hoje eu sinto que ainda falta muita conscientização para as pessoas sobre essa luta (de combate à violência contra a mulher). A decisão que foi tomada me deixou indignada com o resultado. Isso só mostra a banalização sobre o quanto as pessoas ainda precisam de conscientização. Não sei como vai ficar daqui pra frente, mas sobre essa luta e sobre essa causa, a gente não vai desistir”, afirmou Magda.
Já Eduardo Vieira, advogado de defesa de Thiago, celebrou a decisão, destacando a tese da defesa, de que o caso se tratava de lesão corporal.
“A defesa sempre trouxe a verdade, desde o momento que entrou nestes autos, apresentamos a tese e ele confessou que o que houve foi uma lesão corporal e não um homicídio como foi denunciado a princípio pelo Ministério Público. O júri, que é soberano, decidiu de forma correta, reconhecendo que houve uma lesão corporal”, declarou.
O julgamento de Thiago aconteceu pouco mais de dois meses após ele ser preso. Ele estava em um carro que foi parado durante uma fiscalização da polícia, na Zona Sul de São José dos Campos, em junho deste ano. A determinação do júri popular foi tomada pelo Tribunal de Justiça em setembro do ano passado.
Professora de Jacareí finge estar morta depois de ser agredida pelo marido
O caso
Magda foi espancada no dia 4 de setembro de 2022, na própria casa em Jacareí e na frente do filho, que na época tinha de sete anos. Ela conta que era casada há 10 anos, quando o homem acordou desnorteado e a agrediu.
Ainda segundo a vítima, ela pediu diversas vezes para ele parar com os golpes e tentou fugir dele, mas não conseguiu. “Eu tentei tirar ele de cima de mim, mas não conseguia. Ele me jogou no chão e me espancou, esmurrando meu rosto e minha cabeça sem parar. O tempo todo ele falava que iria me matar e não parava com as agressões”, narrou na época ao g1.
Sem conseguir se defender e temendo não sobreviver, a mulher decidiu fingir que estava morta, para ver se o homem parava com os ataques.
“Eu prendi a respiração e fiquei sem me mexer, só recebendo os socos. Ele achou que eu tivesse morrido, então parou com as agressões e foi para o quarto voltar a dormir. Quando percebi que ele realmente estava dormindo, com muito esforço consegui me levantar do chão e pedir ajuda para os vizinhos”, disse.
Imagens fortes
g1
‘Só sobrevivi porque fingi estar morta’, diz professora que foi espancada pelo marido em Jacareí.
Arquivo pessoal
Sequelas e busca por justiça
Magda ficou com várias sequelas físicas e emocionais após a violência, perdeu a sensibilidade do lado direito do rosto, as lesões incharam o rosto dela a ponto de não conseguir abrir os olhos e passado mais de um ano das agressões, ela ainda sofre com dores pelo corpo.
O caso foi registrado pela Polícia Civil e uma medida protetiva foi expedida, que proíbe o homem de ficar a menos de 100 metros de Magda. Com o homem foragido, a professora não se sentia segura e temia novas agressões, por isso viveu por meses uma vida discreta, escondida e sendo monitorada por agentes de segurança.
O caso foi revelado pelo g1 em setembro de 2022 e ganhou repercussão nacional após a vítima denunciar o crime, pedir por justiça e mostrar as sequelas físicas severas que teve após as agressões.
‘Não foi lesão corporal, foi tentativa de feminicídio’, diz professora espancada pelo marido em Jacareí.
Reprodução/TV Globo
Além de dores de cabeça, Magda conta que ainda não consegue enxergar muito com o olho direito e perdeu a sensibilidade no rosto.
Enquanto o homem ainda estava foragido, Magda contou que se sentia insegura com ele nas ruas e que acreditava que só conseguiria recomeçar quando ele fosse preso. Aos poucos, no entanto, ela tentava retomar uma vida normal.
Sobrevivente de violência brutal, professora Magda Faria foi homenageada pela coragem de denunciar o agressor
Arquivo pessoal
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