25 de setembro de 2024

Hospital usa ‘GPS’ para retirar tumores cerebrais de crianças no RS

Neuronavegador foi doado por empresas ligadas à ONG criada por um pai em busca da cura do câncer do filho; grupo financiou mais de 10 milhões de dólares em pesquisas. Com aparelho similar a um GPS, médicos conseguem localizar tumores cerebrais infantis com mais precisão
Tiago Bogg/RBS TV
Um equipamento semelhante a um GPS é utilizado no tratamento de tumores cerebrais em crianças no Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre.
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Trata-se de um neuronavegador de última geração, que permite procedimentos menos invasivos e mais precisos, e que já está em uso pelo SUS no hospital, que integra o complexo hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre.
O aparelho indicando às equipes médicas o ponto de acesso do crânio, o ângulo da incisão e a trajetória dos instrumentos durante a operação.
“Ele ajuda naquelas situações onde as lesões são mais profundas e há mais dificuldade de saber onde estamos lá dentro. Quando a gente faz a neurocirurgia, em geral, se opera por uma janelinha muito pequena, e às vezes a anatomia fica muito distorcida em função da lesão”, explica Jorge Bizzi, chefe do serviço de neurocirurgia pediatrica da Santa Casa.
Grande parte dos atendimentos infantis na oncologia são via SUS: 80% do total. Mas a inovação também está disponível para pacientes privados e de planos de saúde.
Na segunda-feira (23), a RBS TV acompanhou um procedimento realizado pela nova tecnologia. O neuronavegador guiou a equipe de profissionais em uma biópsia de uma menina de 10 anos de idade.
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Os médicos chegaram até o tumor através de um dos ventrículos do cérebro – uma cavidade estreita e que exige perícia para evitar uma nova lesão. Bizzi afirma que, se não tivessem o equipamento, o crânio precisaria de uma abertura muito maior:
“Temos até a possibilidade de remover o tumor, dependendo de como vamos encontrá-lo. Sem o neuronavegador, talvez a gente nem tentasse fazer a cirurgia assim. Teria que fazer a céu aberto porque a chance de não acertar o ventrículo é grande. Talvez se optasse por fazer aberto, que é uma cirurgia muito maior”.
Neuronavegador ajuda a localizar tumor cerebral
Reprodução/RBS TV
Em busca da cura do câncer
O aparato custou R$ 1 milhão e deve realizar 120 cirurgias por ano. Foi doado à instituição pela construtora Cyrela Goldsztein e pela família Peixoto, através da ong “The Medulloblastoma Initiative” (MBI). O projeto é obra de Fernando Goldsztein, que tem um filho com meduloblastoma, o tumor mais comum na infância – e um dos mais mortais, com cerca de 1/3 dos casos sem solução. O objetivo é encontrar a cura para a “recidiva”, quando o câncer retorna após um primeiro tratamento.
“É algo que partiu do meu sofrimento, do meu filho e da minha família. A gente resolveu não aceitar essa situação, de não ter um tratamento. Como um amigo uma vez me disse, ‘não tem plano B, só tem plano A’. Tem que enfrentar, tem que ir pra frente”, recorda Goldsztein.
A iniciativa foi fundada em 2021, e em três anos, financiou 10 milhões de dólares (quase R$ 60 milhões) em pesquisas de 14 laboratórios dos Estados Unidos, Canadá e Alemanha. Duas pesquisas viraram tratamentos com testes autorizados pela FDA, agência norte-americana equivalente à Anvisa no Brasil.
“Aprovamos isso em um tempo recorde. E tem outros três tratamentos que vão ser encaminhados para o FDA em breve”, complementa o fundador da ong.
Um dos tratamentos é uma vacina, que tem previsão de ser testada em crianças norte-americanas nos próximos dias.
“essa vacina vacina é direcionada contra proteinas da doença. É uma forma de estimular o sistema imunologico, pra que ele possa combater as células do câncer. Eu acredito que muito em breve, todo esse desenvolvimento que ta acontecendo fora do Brasil, vai também chegar pras pessoas, pras crianças e adultos brasileiros que tenham esse diagnostico”, afirma o oncologista André Fay, pesquisador do MBI.
Longe de casa
No Hospital da Criança Conceição, na zona norte de Porto Alegre, crianças de diferentes regiões do Estado precisam encarar semanas longe de casa. Isabelle Vitória de Freitas Pinto, de 7 anos, está nessa situação há dois meses.
“Eu sinto saudade da minha família. Da minha irmã, da minha avó e do meu pai”, lamenta a criança.
O diagnóstico de um câncer é um choque para a família, como conta Ramona Terezinha de Freitas.
“Um choque e um medo também. Medo de perder ela, porque é um tumor na cabeça, que afeta muito”, diz a auxiliar de produção, que precisou pedir demissão do emprego para cuidar da menina. A família é de Estrela, no Vale do Taquari.
Bernardo Ferreira Brandão, de 7 anos, teve de passar 35 dias internado na instituição. Na última semana, ele retirou o tumor, e terá de continuar o tratamento do meduloblastoma com quimioterapia e radioterapia. “É uma bomba. Tu vai ao chão e volta de novo”, recoda, emocionada, a mãe de Bernardo, Tatiane da Silva Ferreira. A família é de Santa Maria, na Região Central, e ela pre também precisou deixar o trabalho de auxiliar de cozinha, para acompanhar o tratamento do filho na capital.
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