2 de novembro de 2024

‘Houve uma quebra de confiança, algo nos foi dito e não cumprido’, diz Amorim sobre eleição na Venezuela

Brasil tentou influenciar Maduro e acreditou que eleições na Venezuela seriam limpas, mas, após evidências de fraude, não reconheceu o pleito. Na semana passada, Brasil vetou entrada de Venezuela nos Brics. O assessor especial do presidente Lula para Assuntos Externos, o ex-chanceler Celso Amorim, disse nesta terça-feira (29) em audiência na Câmara que a Venezuela quebrou a confiança do Brasil no processo eleitoral que reelegeu o presidente Nicolás Maduro.
“No caso da Venezuela houve uma quebra de confiança dentro do processo eleitoral, algo nos foi dito e não foi cumprido. Não quero personificar, vamos ver como isso evolui”, afirmou Amorim.
O governo de Lula, ao longo do ano de 2023, buscou reintegrar Maduro à comunidade da América do Sul e o recebeu em Brasília com pompas de aliado. Lula tentou influenciar o processo eleitoral na Venezuela, então marcado para julho de 2024, no sentido de que o pleito fosse transparente e democrático.
Apesar de declarações iniciais de Maduro que agradaram o Palácio do Planalto, na prática, à medida em que a eleição foi se aproximando, o que o mundo viu — e o próprio governo brasileiro também — é que Maduro não se comprometeria com nenhum dos acordos sobre a justiça do pleito.
As autoridades eleitorais venezuelanas e a Justiça do país consideraram Maduro vencedor, mas a legalidade da eleição é contestada por diversos organismos internacionais e as atas eleitorais — boletins de votação — nunca foram apresentadas.
O governo brasileiro ainda não reconheceu Maduro como presidente eleito. E, na semana passada, vetou a entrada da Venezuela no grupo Brics (liderado por Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul).
Maduro, que vem criticando o Brasil, disse que o veto à entrada nos Brics foi uma “agressão inexplicável”
“Lamento o que disse o Maduro. O Brasil achou que nesse momento a Venezuela não contribuiria para o melhor funcionamento dos Brics”, disse o assessor especial de Lula.
“Temos que manter a Interlocução com a Venezuela, com que grau de proximidade eu não sei. A não entrada da Venezuela nos Brics, teve uma reação desproporcional, uma série de acusações ao Lula. Tem o lado dos EUA e de países distantes, não queremos que a Venezuela seja palco de uma Guerra Fria”, completou.
Ao longo de toda a audiência, parlamentares de oposição queriam extrair de Amorim uma resposta concreta sobre se ela considera ou não a Venezuela uma ditadura. Maduro está no poder de 2013 e renovou o mandato em eleições consideradas suspeitas.
“Eu não classifico governos. Acho mais importante com relação a Venezuela é manter a interlocução pra melhorar. Temos q ter grandeza, somos um grande país, as vezes temos que aceitar bobagenzinhas para influenciar depois”, argumentou Amorim.

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