Atiradora de 48 anos chegou a morar de aluguel na residência onde cometeu o crime. Ela deixou a casa com avarias e travava uma ‘batalha’ com o dono, que pedia o conserto de itens danificados. Imagens mostram momento em que mãe e filho atiram em idosos em MT; crime pode ter sido motivado por aluguel atrasado
O Fantástico deste domingo (28) mostrou o caso de mãe e filho que invadiram uma casa em uma cidade de Mato Grosso para assinar uma família. A reportagem ouviu as pessoas que estavam na residência no momento do crime.
As imagens obtidas mostram o desenrolar do crime e como agiram mãe, filho e outros familiares envolvidos.
Era para ser um fim de semana de festa na casa da família Lavall, em Peixoto de Azevedo, cidade a 670 km de Cuiabá (MT). “O meu aniversário era na segunda-feira e resolvi fazer um churrasco no sábado à noite”, diz o minerador Erneci Lavall.
Por volta das 15h14, de uma caminhonete branca, descem três pessoas. As câmeras de segurança mostram a pecuarista Inês Gemilaki, de 48 anos, o filho dela, o médico Bruno Gemilaki, de 28 anos, e o cunhado de Inês, Éder Gonçalves.
Bruno carregava uma espingarda calibre 12. Éder veio logo atrás e ficou posicionado na retaguarda.
Os donos da casa são o produtor rural Erneci Afonso Lavall, conhecido como “Polaco”, e a esposa dele, Raquel Soares.
Os atiradores foram para um local da casa onde estavam reunidos os familiares de “Polaco”. Boa parte dos convidados estava em uma mesa, jogando cartas. No momento do ataque, o produtor rural descansava em um sofá.
Inês Gemilaki atira contra o vidro e passa pelos estilhaços. Ela entra na sala, se agacha e começa a sequência de disparos. “Foi muito rápida, muito rápida, sem chance de defesa de ninguém, e não tínhamos para onde correr, as mulheres entraram na casa e outros se deitaram”, relata José Roberto Domingos, um dos sobreviventes.
Inês atira primeiro contra Rui Luiz Bogo, de 69 anos, que era um conhecido dela. Ela chega a olhar para a câmera e sorri no momento do ataque.
Dez pessoas estavam na casa e uma criança dormia no quarto. A filha de Rui, Lourdete Bogo, estava sentada ao lado do pai.
“Para mim, eles chegaram muito bem sabendo o que ia fazer, e olha, eu agradeço a Deus que, da minha família, foi só um”, diz Maria de Lourdes Bogo, viúva de Rui. “O meu pai nunca fez um mal para ninguém. O que ela fez foi covardia”, disse Lourdete Bogo.
O padre José Roberto, que também estava na casa, tentou escapar dos tiros e se escondeu atrás do sofá. Mas Inês atira mais uma vez, atingindo o Roberto, que sobreviveu.
Já o pai de Raquel Soares, Pilson Pereira da Silva, de 81 anos, levou um tiro na barriga e morreu nos braços da filha. “Me senti tão impotente. Eu chamava: “pai, pai, pai pai, pai, paizinho”, relata ela ao Fantástico.
Inês segue atirando e, desta vez, tenta acertar “Polaco”, mas a arma falha pelo menos duas vezes.
A ação dura cerca de dois minutos. Antes de deixar a casa, ela atira contra uma câmera de segurança, mas sem sucesso, A mulher, então, pede ao filho, Bruno, mas ele também não consegue atingir o equipamento.
Eles vão embora, passam por uma loja de conveniência e compram água e refrigerante. A família pistoleira segue em fuga e param novamente para abastecer a caminhonete.
Segundo as investigações, Márcio Ferreira Gonçalves, marido de Inês, teria ajudado na fuga. Dois dias depois do ataque, ele e o irmão, Éder, foram presos em Alta Floresta, a 791 km de Cuiabá. Inês e Bruno foram presos na fazenda da família, em Peixoto de Azevedo.
Qual a motivação?
Inês foi inquilina de “Polaco” por mais de um ano e morou na casa onde aconteceram os crimes. Segundo “Polaco”, ao devolver o imóvel, ela teria deixado dívida de aluguel, além de câmeras quebradas e outras avarias.
Em trocas de mensagens, Inês disse que consertaria o que havia danificado na residência, o que não aconteceu. “Polaco” resolveu levar o caso à justiça, mas não conseguiu responsabilizá-la pelos danos à casa.
Horas antes do ataque, Inês Gemilaki e o marido foram até uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência contra o proprietário da residência. Ela disse que estava recebendo ameaçadas por causa de uma dívida antiga de aluguel.
A caminhonete e as armas de Bruno e Éder foram localizadas neste fim de semana. A polícia busca agora o revólver usado por Inês no dia do crime.
Questionada pela reportagem, a delegada Anna Marien disse que ainda não é possível saber a motivação do crime.
“Que ela pague pelo que fez. Ela, os filhos dela, o marido dela, o irmão do marido dela”, disse “Polaco”. “O que vai ficar dele [Rui] agora? A saudade, as lembranças, os conselhos que ele me dava. A saudade de saber que eu nunca mais vou ver ele, isso é o que mas me dói. Meu filho pedindo ele a todo momento”, diz Raquel Soares.
O que dizem as defesas
Angelita Kemper, advogada de Inês, disse que sua cliente “relatava que sofria inúmeras ameaças por conta dessa ação, ao ponto de culminar que pela outra parte ali não ter gostado da decisão do juiz de ser desfavorável a ele. Ele não aceitava que iria perder o valor”, completa.
A defesa de Bruno, filho de Inês, afirmou que requereu o tratamento psiquiátrico, para o médico, o que foi deferido em sede de audiência de custódia. Já o advogado de Márcio Ferreira pediu a revogação da prisão preventiva e aguarda a decisão na justiça.
O advogado do irmão dele, Éder Ferreira, foi procurado, mas não se posicionou.
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