19 de setembro de 2024

Impasse eleitoral na Venezuela: Maduro insiste que foi reeleito; oposição contesta

Aumenta o número de mortos nos protestos de rua. O Conselho Eleitoral, dominado por Nicolás Maduro, não apresenta os registros de votação. Maduro agora diz que vai entrar 100% das atas de votação em poder de seu partido
A oposição na Venezuela declarou nesta quarta-feira (31) que tem provas de que venceu a eleição. Já o presidente Nicolás Maduro disse que está pronto para entregar as atas de votação com resultado oposto.
Com as Forças Armadas e policiais nas ruas, lojas em Caracas ficaram fechadas. Um morador disse que as pessoas estão com medo de sair de casa.
Nesta quarta-feira (31) de manhã, a esposa do ex-deputado Freddy Superlano disse que está há mais de 24 horas sem informações do marido. Na terça-feira (30), homens levaram à força o líder da oposição.
A Human Rights Watch afirma que 20 venezuelanos já morreram nos protestos contra o resultado da eleição.
O governo de Nicolás Maduro decidiu fechar ainda mais o país. Suspendeu os voos entre a Venezuela e o Peru. Voos para o Panamá já estavam suspensos. Panamá e Peru não reconhecem a vitória proclamada de Maduro.
No fim da noite de terça-feira (30), o Centro Carter – uma das poucas organizações independentes autorizadas a acompanhar a votação – declarou que a eleição da Venezuela “não pode ser considerada democrática”. O instituto acompanhou a votação na Venezuela, mas disse que não pode verificar ou corroborar o resultado por causa de sérias violações dos princípios eleitorais. Citou, também, a falta de transparência.
Venezuela: aumenta o número de mortos nos protestos de rua
Jornal Nacional/ Reprodução
Nesta quarta-feira (31) de manhã, o espanhol Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, declarou que o bloco não vai reconhecer a legitimidade da eleição até que todos os votos sejam contados e os registros fornecidos.
O G7 – formado por Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Japão, França, Canadá e Itália- afirmou que relatórios de observadores independentes levantaram sérias preocupações sobre as irregularidades e falta de transparência do processo eleitoral. O G7 pediu a publicação detalhada dos resultados da eleição.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, é aliado de Nicolás Maduro e não havia se manifestado desde o dia da eleição. Nesta quarta-feira (31), em uma rede social, o presidente colombiano afirmou que as sérias dúvidas sobre o processo eleitoral podem levar a uma polarização violenta e há uma divisão permanente da Venezuela. Ele pediu ao governo venezuelano que seja transparente e permita a análise da contagem de votos, das atas, com acompanhamento de todas as forças políticas do país e observação internacional profissional.
O candidato de oposição, Edmundo González, agradeceu à ONU, OEA, União Europeia e vários países, entre eles o Brasil, por exigirem a publicação das atas de votação.
O comitê de campanha da oposição divulgou uma contagem própria dos resultados das eleições. A oposição diz que já teve acesso a 81% das atas eleitorais, e que Edmundo González venceu com mais de 7 milhões de votos. Pela contagem da oposição, Maduro obteve pouco mais de 3 milhões de votos.
Na tarde desta quarta-feira (31), Nicolás Maduro disse que pediu à Suprema Corte do país que conduza uma auditoria da eleição presidencial. Foi Maduro que indicou a maioria dos integrantes do tribunal. O presidente da Venezuela também disse que seu partido está pronto para mostrar a totalidade da apuração das atas eleitorais, mas não disse quando.
Praticamente na mesma hora, o porta-voz de defesa dos Estados Unidos, John Kirby, dava uma coletiva de imprensa. Kirby declarou que a paciência do governo americano e da comunidade internacional com as autoridades eleitorais da Venezuela está se esgotando e que o resultado detalhado da votação precisa ser divulgado.
Kirby acrescentou que os Estados Unidos têm sérias preocupações com os relatos de mortes, violência e prisões, inclusive de integrantes da oposição. A correspondente da TV Globo, Raquel Krähenbühl, perguntou se o governo americano considera que o candidato Edmundo González venceu a eleição.
“Queremos ver os dados tabulados dos locais de votação. Queremos ver algo que seja verificável e que convença não só os Estados Unidos, mas também a comunidade internacional sobre quais são de fato os resultados”, disse John Kirby.
O governo brasileiro mantém a posição de cobrar mais informações sobre o processo eleitoral da Venezuela para fazer uma declaração oficial sobre o resultado das urnas. No Ministério das Relações Exteriores, a expectativa é de que o Conselho Eleitoral da Venezuela cumpra a promessa de Maduro e apresente os dados detalhados da votação, o ponto de partida da discussão.
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