Apicultores estimam que milhões de insetos morreram com fogo na região de Ribeirão Preto e que até outras culturas, como o café, podem ser prejudicadas. Produtor calcula prejuízo de R$ 500 mil ao perder quase metade das colmeias em Altinópolis (SP). Incêndios destruíram colmeias e devem impactar na produção de mel
Assim que soube do aumento dos incêndios no interior de São Paulo, na semana passada, o apicultor Getúlio Gomes Cardim se apressou para deixar seus apiários livres de folhas secas, para evitar que o fogo se propagasse. Mesmo assim, 900 das 2,5 mil colmeias que ele mantinha em meio a eucaliptos em Altinópolis (SP) foram destruídas pelas chamas.
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O prejuízo imediato estimado é de R$ 500 mil, uma amostra dos danos ainda não completamente dimensionados para o setor e para o meio ambiente.
“Prejuízo grande mesmo foi a natureza em si. Prejudica o todo, as árvores não têm nada. Tudo queimado, vai recuperar um pouco daqui uns 3 anos. E a gente, em termos de apicultura aqui na região, vai conseguir ter um pouco de abelha daqui a uns dois, três anos ainda. Nem sabemos como vamos fazer para o ano que vem, porque não tem área para por abelhas”, diz.
O apicultor Getulio Cardim estima prejuízo de R$ 500 mil com perda de abelhas em apiários da região de Ribeirão Preto (SP)
Valdinei Malaguti/EPTV
A onda de incêndios no interior de São Paulo, que chegou a níveis críticos no último fim de semana, com mais de 2,6 mil focos em três dias, e que voltou a preocupar esta semana, provocou perdas da ordem de R$ 1 bilhão para a atividade agropecuária paulista, estimou a Secretaria de Agricultura e Abastecimento. O número é preliminar e baseado apenas em 20 das 40 regionais da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).
Foram vegetações nativas, ao menos 80 mil hectares de canaviais, centros de pesquisa agropecuária e todo tipo de cultura que o fogo encontrou pela frente na zona rural, como as abelhas, não só importantes para a produção de mel, como para a polinização de plantas. Produtores estimam que milhões desses insetos morreram por não resistirem à fumaça e ao calor.
De acordo com o governo estadual, a apicultura é uma das atividades do campo mais prejudicadas pelos incêndios dos últimos dias.
“Com mais de 30 anos de apicultura, nunca vi uma situação, uma calamidade tão grande igual foi essa. Isso foi uma coisa que a gente deita na cama, e não está conseguindo dormir até hoje. Deito na cama e acordo assustado, pensando que estou no meio do fogo apagando e o trabalho de uma vida inteira foi embora”, afirma o apicultor Donizete Aparecido Barbosa.
Caixas de abelha de apiário na região de Ribeirão Preto, em cinzas após onda de incêndios
Valdinei Malaguti/EPTV
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Também da região de Ribeirão Preto, o apicultor Paulo Cesar Santos conta que perdeu praticamente todas as caixas de abelhas que estavam instaladas em sua propriedade há cerca de um ano. “Muita gente não tem consciência do que é a abelha pra nós. Isso daqui que aconteceu é uma tragédia muito grande. Foi um desastre. Pra recuperar isso daqui vai ser anos”, lamenta.
No apiário de Getúlio, que trabalha na área há 22 anos, 40 toneladas de mel se perderam e 45 milhões de abelhas morreram. O impacto, segundo ele, não deve ser sentido somente por apicultores. Com a região em cinzas, as abelhas que sobreviveram terão dificuldades para se alimentar.
“Como a queimada foi muito grande, alguns apiários que o fogo não consumiu, vamos ter de tirar as abelhas porque as abelhas estão passando fome e vamos tirar essas abelhas. E vamos ver o que vai acontecer com a flora do café, pode ser que caia muito a produção de café porque não vai ter abelha pra polinizar”, diz.
Área rural de Altinópolis (SP), atingida por incêndios
Valdinei Malaguti/EPTV
Incêndios no interior de São Paulo
Dezenas de cidades do interior de São Paulo enfrentaram uma onda de incêndios que começou na quinta-feira (22). Os momentos mais críticos foram registrados na sexta-feira (23) e no sábado.
Nove pessoas já foram presas por suspeita de participar dos incêndios que atingiram o interior de São Paulo nos últimos dias.
Em Ribeirão Preto, uma das regiões mais atingidas, casas precisaram ser evacuadas, rodovias foram bloqueadas, e pessoas ficaram impossibilitadas de chegar ao destino, sujeitas a condições respiratórias extremas de poluição.
Somente neste período, 2.621 focos de incêndio foram registrados por satélites de referência do Bando de Dados de Queimadas (BDQueimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Essas ocorrências levaram a acidentes e interdições nas estradas, devido à baixa visibilidade, além de mortes de pessoas que tentaram combater as chamas em Urupês (SP), ao cancelamento de aulas, operações de voos, atividades ao ar livre e jogos de futebol em Ribeirão Preto.
Ajuda a produtores
Durante visita ao interior de São Paulo, quando foi criado um gabinete de crise contra os incêndios, na última semana, o governador Tarcísio de Freitas informou que estudava, com a Secretaria de Estado da Agricultura, a criação de uma linha de crédito a juro zero pelo Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), para apoiar produtores rurais.
Fogo em canavial na região de Morro Agudo (SP) nesta quarta-feira (28)
Reprodução/EPTV
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