Em 2012, resolução da Anvisa proibiu o uso de substâncias para alterar gosto ou cheiro dos cigarros. Mas um estudo do Instituto Nacional do Câncer mostra que, na prática, essa proibição não está valendo. Proporção de jovens fumantes parou de cair, no Brasil
A proporção de jovens fumantes parou de cair nos últimos anos no Brasil. Um estudo relaciona isso a um aumento do número de produtos com tabaco saborizado.
O silêncio absoluto para ouvir a professora tem explicação: foram os próprios alunos da escola que pediram aulas a respeito do assunto.
“Parece que não faz mal para a saúde. Por isso é tão importante mostrar para eles que faz muito mal, pode até ser pior do que o cigarro convencional”, afirma Camila Cavalieri, diretora da escola.
Indústria usa aditivos e consegue frear queda de consumo de cigarros entre os jovens
Reprodução/TV Globo
Um dos motivos que fazem o cigarro eletrônico parecer menos agressivo são os aditivos de aroma e sabor.
“Principalmente jovens da minha idade, acaba sendo muito atrativo para essas pessoas mesmo”, diz Radha Werneck Canabrava, estudante do 2º ano.
Indústria usa aditivos e consegue frear queda de consumo de cigarros entre os jovens
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O cigarro eletrônico, ou vape, é proibido no Brasil. Mas a indústria dos cigarros tradicionais também usa aditivos em grande quantidade para disfarçar a aspereza do tabaco. Em 2012, uma resolução da Anvisa proibiu o uso de substâncias para alterar o gosto ou o cheiro dos cigarros. Mas um estudo do Instituto Nacional do Câncer acaba de mostrar que, na prática, essa proibição não está valendo. Nos últimos 12 anos, a indústria conseguiu levar aos consumidores 1.112 produtos com aditivos, enquanto contesta na Justiça a resolução da Anvisa.
“Acaba sendo uma estratégia da indústria do tabaco para capturar essa nova geração de usuários dependentes da nicotina, porque é disso que se trata. São produtos que levam à dependência à nicotina”, afirma André Szklo, pesquisador do Inca.
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O papel da escola é fundamental, porque os adolescentes são o público-alvo principal desses aditivos de aromas e de sabor. O Brasil, apesar de ser pioneiro em várias medidas de combate ao tabagismo, nos últimos anos, não tem conseguido derrotado os novos disfarces desse antigo vilão.
Desde 1989, a proporção de fumantes na população brasileira veio caindo acentuadamente. Mas os últimos dados mostram que essa proporção se estagnou, principalmente entre os jovens. Cada novo adolescente dependente da nicotina traz décadas de problemas para a saúde do país.
“Atualmente, a estimativa é que o uso dos derivados do tabaco seja responsável por 174 mil mortes anuais e representa um custo direto e indireto para a sociedade brasileira de R$ 153,5 bilhões. A arrecadação com impostos por meio da indústria do tabaco cobre apenas 5% desse custo atual”, afirma André Szklo, pesquisador do Inca.
Indústria usa aditivos e consegue frear queda de consumo de cigarros entre os jovens
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O estudo pede um controle mais severo dos aditivos. É mais ou menos a mesma conclusão de um bom conselho de uma adolescente.
“Alguns amigos meus falaram que começaram porque o cheirinho é gostoso, porque tem um gosto melhor. O que, para mim, não faz muito sentido, porque se você quer sentir o gosto da melancia, come uma melancia. Não precisa fumar, né?”, diz a estudante Mariana Vasconcelos.
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