Farid Madi (Pode) alega que ato teve como objetivo defender e demonstrar amor pela cidade. Prefeito do litoral de SP bebe água do mar para provar que praias estão limpas
A atitude de Farid Madi (Pode), o prefeito de Guarujá, no litoral de São Paulo, que bebeu água do mar para provar que as praias da cidade estão limpas, gerou repercussão. O g1 procurou um médico infectologista, que discordou da ‘estratégia’ usada pelo político e alertou sobre os riscos da ação. O chefe do Executivo explicou que o ato teve com objetivo demonstrar amor e defender o município.
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O momento em que o prefeito ingeriu água do mar foi filmado e compartilhado nas redes sociais dele. Farid Madi fez uma publicação convidando turistas para Guarujá. “Venham para cá, não percam a oportunidade”, declarou ele (assista acima).
O médico infectologista Leandro Curi, porém, discordou da ação. “Não é uma estratégia muito boa beber voluntariamente água do mar porque os riscos estão aí e principalmente quando a água tem uma procedência duvidosa ou quando o esgoto é despejado no local”, disse.
A ingestão de água do mar contaminada por esgoto, segundo Curi, aumenta o risco de infecções. “Não só de patógenos, ou seja, bactérias, vírus e outros micro-organismos, outros germes, mas também até de metais pesados e outros elementos completamente indesejados em nossa ingestão”.
De acordo com ele, adultos com bom sistema imunológico têm menos chances de sofrerem mal-estar. “Não é seguro beber água do mar. A gente bebe por acidente quando a gente é banhista, mas em volume pequeno, e é menos problemático, mas também não nos isenta de comprometimento da saúde”, complementou Curi.
O médico acrescentou que a ingestão da água do mar pode causar gastroenterites virais, como os casos registrados na Baixada Santista. Além disso, segundo ele, gastroenterites bacterianas também podem ocorrer com a ingestão de água e alimentos contaminados.
“O principal risco é a gastroenterite, que vai dar vômito e diarreia, que em idosos e nos pequenos, abaixo de cinco anos, pode ser muito grave, causando desidratação, febre, mal-estar, prostração [fraqueza] e perda de apetite. Em casos muito graves, necessitando de hospitalização e [gerando] risco de morte”, afirmou.
O que fazer se ingerir água do mar?
⏰ Observe as reações do corpo nas próximas horas;
💩 Se as atividades do estômago e intestinos estiverem normais, não há problema;
🚰Hidrate-se com água cuja procedência não seja duvidosa;
🏥 Caso tenha mal-estar, procure assistência médica e relate o ocorrido.
“A virose do litoral paulista pode estar no mar, claro, mas pode também estar em outros focos, então não é necessariamente bebendo água do mar que vai se contraprovar que não existe infecção local. Existe. Outras fontes de alimento e higienização também [podem] estar contaminadas, não necessariamente só na água do mar”, finalizou Curi.
Prefeito Farid Madi (Podemos) tomou água do mar para provar qualidade das praias em Guarujá (SP)
Redes sociais
‘Ato de amor’
Ao g1, o prefeito Farid Madi (Pode) disse que a atitude foi em tom de defesa e amor por Guarujá. “Jamais deixaria de defender a minha cidade, que é uma cidade linda, maravilhosa, uma praia que sempre recebeu turista, uma cidade querida por todos, uma cidade que sempre foi amada por todos”.
Madi afirmou que vê como um “exagero” a forma como Guarujá tem sofrido com os reflexos da virose. “Foi rápido, já foi superada e a grande verdade é que não foi uma coisa do Guarujá, foi uma coisa que aconteceu no país inteiro, na Baixada inteira”, complementou.
A ação, de acordo com ele, teve como objetivo deixar as pessoas seguras e tranquilas nas visitas à cidade. “Além de termos praias próprias para banho, acho que da Baixada, não quero aqui fazer comparação, mas da Baixada é a que mais tem praias próprias para banho”, pontuou.
O prefeito acrescentou que, apesar do “ato de amor”, não aconselha a atitude para outras pessoas. “Fiz para, de verdade, mostrar que está tudo bem e que venham para cá”, finalizou.
Prefeito bebe água do mar
No vídeo gravado domingo (12), Farid apareceu na Praia de Pitangueiras. “Aquelas pessoas que gostam de Guarujá podem vir para cá, nossas águas estão limpas”, garantiu.
Em seguida, ele entrou no mar e bebeu a água. A atitude foi semelhante ao ato da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que mergulhou no Rio Sena para mostrar que as águas não estavam mais poluídas e tinham condições de receber as provas de águas abertas das Olimpíadas de 2024.
A Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp) alegou que o surto de virose e arrastões nas cidades da Baixada Santista motivou o cancelamento de 19% das reservas em hotéis, pousadas e aluguéis de veraneio da região. Desta forma, a instituição encaminhou um ofício ao governador para que providências fossem tomadas.
Anteriormente, a Prefeitura de Guarujá havia informado que a contaminação no mar, possivelmente causada pelo escoamento de esgoto clandestino nas águas, poderia ser a origem do aumento exponencial de casos de virose. A administração municipal, inclusive, chegou a notificar a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Ainda no vídeo, o prefeito afirmou que Guarujá está muito bem estruturada em relação à segurança, pois está reforçada de autoridades policiais e câmeras de monitoramento. “Além das nossas praias próprias para banho, nós também somos uma cidade segura, todas as câmeras funcionando”, afirmou.
“Nossa rede hoteleira é uma das melhores da região, pronta para receber vocês de braços abertos”, finalizou Farid Madi.
Prefeito Farid Madi (Podemos) tomou água do mar em Guarujá (SP)
Reprodução/Redes sociais
Cetesb
De acordo com o boletim semanal disponibilizado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que classifica a balneabilidade, duas das 12 praias de Guarujá estão impróprias para banho: Perequê e Enseada.
A companhia informou ao g1 que o boletim é de quinta-feira (8) e a próxima atualização será divulgada na quinta (16).
A classificação é baseada nas densidades de bactérias fecais, medidas em amostras coletadas ao longo de cinco semanas consecutivas.
Ofício Fhoresp
Em nota, a Fhoresp informou que recebeu dezenas de relatos de cancelamentos de reservas na região. Preocupada com os prejuízos no turismo, a entidade enviou um ofício ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para que providências fossem tomadas para diminuir o impacto dos casos de virose e arrastões.
De acordo com a instituição, embora a virose seja mais comum nesta época do ano, houve na Baixada Santista um “agravamento desproporcional”. Em Guarujá, ainda segundo a Fhoresp, o problema se fundiu a uma outra ocorrência importante: os arrastões.
“É um combo explosivo: virose em surto e arrastões. É o ‘apagão’ do nosso litoral”, afirmou o diretor-executivo da Fhoresp, Edson Pinto. “Essas ocorrências, afinal, afastam o turista. Sem contar que, muitos hotéis, restaurantes e bares do litoral dependem da alta temporada para sair do vermelho e compensar o baixo fluxo ao longo do ano”.
O diretor-executivo também fez um alerta quanto à confiança do turista para o resto do ano. “Será que ele vai se sentir seguro em voltar para a Baixada Santista? A imagem do nosso litoral está seriamente comprometida”, lamentou.
Por meio de nota, o Governo do Estado afirmou que mantém um diálogo contínuo com o setor e atua para fomentar a indústria do turismo, responsável por grande parte da geração de emprego e renda no litoral paulista.
O governo explicou que a Secretaria de Estado da Saúde monitora o cenário de contaminações e reforça com a população os cuidados preventivos para a redução de casos, além de ter se reunido com as cidades para dar suporte e implementar medidas — não especificadas.
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