Indústria de confecção no interior movimenta bilhões de reais e une tecnologia e cuidado com a natureza. Empresas do ramo da confecção vestuário inovam com práticas sustentáveis que ajudam o meio ambiente
Reprodução/Joggofi
O Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco movimenta uma cadeia produtiva em 27 municípios na área Central e outros 19 do Agreste Setentrional. Essas cidades compõem o Polo de Confecções que produz moda para todo o país. O trabalho, que começou pela necessidade e pela força empreendedora nas feiras da região, hoje movimenta uma indústria pujante que está antenada com conceitos como economia circular, moda 4.0 e ESG.
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O Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções estima que o setor movimente mais de R$ 5 bilhões por ano. Essa força econômica exige das indústrias uma adequação às novas realidades produtivas e também às exigências do mercado consumidor.
De acordo com a pesquisa Panorama ESG 2024, 87% das empresas brasileiras já adotam as melhores práticas de Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança (ESG). A pesquisa foi feita pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) e ouviu 687 empresas no país.
Quem investiu para ter uma condição mais sustentável foi o empresário José Gomes Filho, dono de uma fábrica de roupas que produz desde 1991. Foi pensando em aprimorar os métodos de produção, que ele decidiu construir uma fábrica em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste, voltada para produzir peças de vestuário gerando menor impacto ambiental (veja vídeo abaixo).
José Gomes fala sobre a Joggofi e as práticas da empresa aliadas ao meio ambiente
De acordo com o empresário, no período de 4 anos e 6 meses em que passou a produzir com 100% da sua própria energia por painéis fotovoltaicos, houve uma redução de mais de 36 mil quilos de emissão de carbono (CO2), o que equivale a ter evitado o corte de 4.704 árvores.
“Eu sempre fui muito adepto da sustentabilidade, então eu procurei uma consultoria e fizemos nessa nova planta a implantação de energia solar e de captação de água das chuvas, além de fazer uma estação de tratamento de efluentes para tratar 100% dos efluentes e reutilizar a maior parte do que a gente trata. Os produtos que sobram aqui como pequenos retalhos, a gente envia para uma ONG que produz outras peças com base nas sobras de produtos da nossa indústria”, afirmou José.
A iniciativa de José foi reconhecida e saiu como vencedora na VII Edição do Prêmio de Sustentabilidade e ESG da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE). O empresário explicou que busca utilizar a tecnologia inspirado em conceitos como a moda 4.0 para aprimorar a maneira de produzir roupas. Ele contou ainda que se mantém antenado com os objetivos de Desenvolvimento Sustentável proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“A gente sabe que tem os ODS’s que precisam ser seguidos e os conceitos de ESG que precisam ser mais conhecidos. É um trabalho que estamos fazendo para aumentar o conhecimento sobre esses assuntos. Nós recebemos até visitas aqui na nossa indústria e também participo de palestras para fazer com que as pessoas reconheçam que esse é o caminho certo”, concluiu o empresário.
MATERIAIS QUE IRIAM PARA O LIXO VIRAM NOVOS PRODUTOS
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Indústria (CNI) e do Centro de Economia de Pesquisa Circular da Universidade de São Paulo (USP), aponta que 85% das indústrias do país desenvolvem pelo menos uma prática de economia circular. O estudo divulgado em outubro de 2024 demonstra a abrangência das atitudes de adoção do sistema circular em que o modo de produção é redesenhado para minimizar os resíduos e contribuir para o desenvolvimento sustentável.
É o que faz a indústria Gesseplast, que há 26 anos atua em Caruaru, no agreste de Pernambuco. Ela produz fitilhos, um produto de plástico usado na amarração de fardos e embalagens de peças de roupas, feitas no Polo de Confecções do Agreste, região que é a maior consumidora das mais de duas toneladas de fitilhos produzidas por mês pela indústria.
Plásticos que iriam parar no lixo viram fitilho, que é utilizado para amarrar materiais.
Robson Santos/TV Asa Branca
No processo industrial, a matéria-prima vem de cooperativas de catadores de materiais recicláveis e de sobras de embalagens de outras indústrias da região, que iriam para o lixo, mas são compradas pela indústria e se tornam um novo produto, minimizando os impactos no meio ambiente.
Segundo o diretor industrial da empresa, Tiago Santos, adotar essas medidas de economia circular, tem contribuído com a natureza e também com a economia. “Somos uma indústria de plástico reciclado e nosso impacto é positivo porque a gente tenta coletar os resíduos de plástico que tem no meio ambiente que são descartados para usar aqui na indústria e transformar em um produto final”, afirmou o diretor industrial.
CENTRO DE INTELIGÊNCIA E SUPORTE AOS EMPREENDEDORES QUE BUSCAM INOVAR
Para se manter antenado em relação ao que acontece no mundo, não só sobre tendências de moda, mas também métodos produtivos sintonizados com as necessidades atuais, as indústrias do Polo
de Confecções do Agreste contam com o suporte de instituições que atuam para fortalecer as empresas do arranjo produtivo do agreste pernambucano.
O Serviço Nacional da Indústria (SENAI), administrado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), colabora com os produtores de moda do polo com ferramentas como o Observatório da Indústria, um centro de inteligência que visa impulsionar o desenvolvimento regional, produzindo informações estratégicas, com estudos prospectivos e pesquisas.
O Observatório da Indústria produziu, para o setor de confecções e vestuário, um estudo em que analisou mais de 1.145 artigos divulgados em todo o mundo nos últimos 10 anos, além de mais de 570 patentes e que compilou informações acerca de 13 grandes áreas de desenvolvimento da indústria de confecção e inovação.
Além disso, a ferramenta ainda fez um estudo que avalia o quociente locacional, com o objetivo de apontar os municípios especializados em algum tipo de produção.
Com base no relatório anual de informações sociais, o Observatório identificou, antes da pandemia, os municípios que tinham a maior quantidade proporcional de funcionários ligados à indústria da confecção (veja imagem abaixo).
Municípios de Pernambuco especializados em algum tipo de produção.
Observatório da Indústria – Senai/PE
A gerente de pesquisa e prospectiva no SENAI Pernambuco, Ana Paula Vasconcelos, detalha a importância desse trabalho feito pelo Observatório da Indústria para coletar informações que ajudam a entender o funcionamento do polo de confecções do agreste.
“O objetivo do observatório é buscar informações para ajudar a indústria na tomada de decisão. Dentro da pesquisa, a ideia é buscar informações que ainda não existem, mas que precisam ser coletadas. Fizemos isso com a rota tecnológica do polo de confecções do Agreste, para obter informações direcionadas para a tomada de decisão mais assertiva da indústria.”, declarou a representante do SENAI.