Mulher condenada por morte do menino de 5 anos após cair do 9º andar de prédio no Recife em 2020 processa atriz por postagens em rede social e pediu R$ 50 mil por danos morais. ‘Inversão de valores’, diz Luana Piovani sobre ação movida por Sari Corte Real
A atriz Luana Piovani voltou a falar, nesta segunda-feira (20), sobre o processo movido contra ela por Sari Corte Real, a mulher condenada pela morte de Miguel Otávio Santana da Silva, o menino de 5 anos que caiu do 9º andar no Centro do Recife, em junho de 2020. No Instagram, a influenciadora diz que a ação judicial representa “uma inversão de valores muito maluca” (veja vídeo acima).
✅ Receba as notícias do g1 PE no WhatsApp
No processo, a defesa de Sari alega que a artista usou termos depreciativos que violaram “sua honra e dignidade” ao fazer comentários sobre o caso nas redes sociais e pede o pagamento de R$ 50 mil em indenização por danos morais (saiba mais abaixo).
“A condenada pela morte do incapaz Miguel está me processando porque se sentiu com a moral ferida, porque eu disse que ela é branca, privilegiada, enfim… Eu vim aqui dizer que há uma inversão de valores muito maluca e que a gente não pode deixar isso acontecer”, declarou a atriz, sem citar o nome de Sari Corte Real.
Na publicação, Luana afirmou que resolveu falar com “todas as mulheres, mães e artistas” que apoiam a luta de Mirtes Renata, mãe da criança que trabalhava na casa de Sari no dia em que o filho dela morreu, durante a pandemia da Covid-19.
“Não é possível que essa já condenada […] está recorrendo à sua condenação, aguardando em liberdade, cursa medicina, no Instagram já se coloca como doutora, leva uma vida linda e maravilhosa como se nada tivesse acontecido. E tem cinco anos que uma mãe perdeu um filho e está esperando alguma coisa da Justiça”, afirmou Luana Piovani, em referência às notícias de que Sari começou a cursar a faculdade de medicina depois da morte do menino.
A atriz Luana Piovani e Sari Corte Real, condenada pela morte do menino Miguel
Montagem/g1
A influenciadora disse, ainda, que espera contar com a indignação das pessoas para cobrar respostas da Justiça, citando autoridades como a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB); o presidente Lula (PT) e a primeira-dama do Brasil, Janja da Silva; além do Ministério Público estadual.
“Imagina só: a Justiça está sem tempo de julgar o processo da condenada e aí ela abre um processo, achando que a Justiça vai ter tempo de cuidar do processo que ela abriu contra mim porque ela se sentiu vítima. Ela, vítima. Gente, o mundo está de ponta-cabeça e ninguém avisou”, afirmou Luana.
A atriz informou também que acionou a sua equipe jurídica e que está sendo representada por um escritório de advocacia no Recife para fazer a defesa no processo.
“A gente tem que chamar e clamar justiça para essa mãe [Mirtes], que está há cinco anos vivendo essa tragédia, esse buraco, diariamente. Enquanto a outra está lá, linda, se chamando de doutora, mudou completamente a imagem dela, cheia de procedimentos estéticos, se achando a miss Brasil 2025, só pode”, disse a influenciadora no vídeo.
Luana, que mora em Portugal, já tinha se pronunciado sobre o processo movido por Sari depois que notícias sobre o assuntos foram publicadas na internet no fim de semana. Em um story publicado no domingo (19), a influenciadora comentou: “O mundo está acabando e ninguém me avisou?”.
Depois, em outra postagem, Luana escreveu uma mensagem para os mais de 5 milhões de seguidores pedindo justiça por Miguel. O g1 entrou em contato com a defesa de Sari Corte Real para saber se ela iria comentar as declarações da atriz, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.
Processo por danos morais
Ex-primeira dama de Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco, Sari é ré na Justiça por ter deixado a criança sozinha no elevador e, depois, apertado o botão que levava à cobertura do edifício (relembre o caso abaixo).
A ação tramita no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) desde 22 de novembro de 2024, após Luana Piovani publicar vídeos comentando a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de suspender o processo que condenou Sari e o marido, Sérgio Hacker, a pagar uma indenização de R$ 1 milhão à família de Miguel, em setembro do ano passado.
Ao receber a petição, a juíza Ana Claudia Brandão de Barros Correia, da 29ª Vara Cível da Capital, determinou que a atriz fosse intimada para se manifestar no processo.
O g1 teve acesso aos três vídeos que foram anexados ao processo. Eles foram publicados no dia 18 de setembro de 2024. Em um deles, a atriz cobra do governo de Pernambuco ajuda para agilizar o processo penal contra Sari e chama o marido dela de “corrupto”.
Em outro vídeo, que foi anexado ao processo, a influenciadora compartilhou uma publicação da mãe de Miguel e pede “cadeia para os criminosos Sari e Sérgio”, marcando os perfis do presidente Lula (PT) e da primeira-dama, Janja da Silva.
No terceiro story, a atriz compartilhou outro vídeo de um influenciador que comenta sobre a suspensão da indenização à família de Miguel e escreveu na legenda: “Po***, façam alguma coisa!”, marcando, novamente, os perfis de Lula e Janja e as páginas do governo de Pernambuco e do Ministério Público do estado.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Relembre o caso
Laudo pericial sobre a morte do menino Miguel desmente versão de Sari Corte Real
Em 2 de junho de 2020, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, caiu do 9º andar do Condomínio Pier Maurício de Nassau, no bairro de São José, no Centro da cidade;
Mirtes, mãe dele, tinha descido ao térreo para passear com a cadela dos patrões, enquanto a então patroa, Sari Corte Real, responsável por cuidar do menino naquele momento, pintava as unhas com uma manicure;
O garoto ficou no apartamento de Sari, localizado no 5º andar e, num determinado momento, correu até o elevador;
Imagens de uma câmera de segurança mostram Sari Corte Real apertando um botão do elevador e deixando a porta fechar com o menino dentro (veja vídeo acima);
Um laudo pericial concluiu que o botão que Sari apertou levava o elevador para a cobertura do edifício;
O vídeo mostra, ainda, o equipamento parando no 9º andar e o garoto saindo da cabine;
Perdido, Miguel caminhou até um vão onde fica o maquinário dos aparelhos de ar-condicionado e caiu no térreo, morrendo enquanto era socorrido;
Sari foi presa em flagrante na época e autuada por homicídio culposo, mas pagou fiança de R$ 20 mil e foi liberada;
Em 2021, Mirtes Renata começou a cursar direito, para entender melhor os trâmites processuais do caso do filho;
Com a repercussão do caso, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) criou o Instituto Menino Miguel, voltado para discussões sobre infância, família e envelhecimento;
Em 2022, em visita ao instituto, a mãe do garoto homenageou a cantora e compositora Adriana Calcanhotto, que em 2020 compôs a canção “2 de Junho” sobre a morte de Miguel;
Em maio de 2022, Sari foi condenada a oito anos de prisão e seis meses de prisão por abandono de incapaz com resultado morte, porém, em novembro do ano seguinte, a pena foi reduzida a sete anos;
Além do processo criminal, o casal Sari e Sérgio Hacker responde a uma ação trabalhista por convocar as ex-funcionárias Mirtes Renata Santana e Maria Marta, mãe e avó de Miguel, para trabalhar durante a pandemia e por pagar os salários delas com dinheiro da prefeitura de Tamandaré;
O processo, que condenou o casal a pagar uma indenização de R$ 1 milhão à família do menino, foi suspenso pelo STJ em setembro de 2024;
A família do menino também entrou com uma ação cível contra Sari por danos morais, pedindo uma indenização de R$ 1 milhão;
Em maio de 2023, um abaixo-assinado com quase 2,8 milhões de assinaturas pediu celeridade no julgamento sobre o caso;
No mês seguinte, Sari Corte Real se matriculou no curso de medicina numa faculdade particular;
A defesa de Sari recorreu em todos os processos movidos contra ela, que segue em liberdade quase cinco anos após a morte de Miguel.
VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias
A