7 de janeiro de 2025

Investigações de cinco mortes do Escritório do Crime não foram concluídas sob gestão Rivaldo, diz PF

Dessas 5, quatro tratavam da guerra dos caça-níqueis. Investigações mostram que grupo de matadores são os principais responsáveis de terem praticado os crimes. Rivaldo Barbosa, preso na investigação da morte de Marielle, em imagem de abril de 2018
Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Relatório da Polícia Federal aponta que, pelo menos, cinco mortes violentas, que tiveram a participação do chamado Escritório do Crime, não foram concluídas pela Delegacia de Homicídios da Capital.
Os assassinatos aconteceram entre 2011 e 2018, período em que o delegado Rivaldo Barbosa, ocupou, respectivamente, a equipe da DH, a chefia da delegacia e assumiu a chefia de Polícia Civil.
As investigações apontam que os crimes foram cometidos por Adriano da Nóbrega e pelo Escritório do Crime. O capitão Adriano, morto em fevereiro de 2020, é um dos fundadores do grupo junto com o tenente João André e o ex-PM Antônio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré. Ambos já mortos.
Neste domingo (24), a Polícia Federal, o Gaeco, do Ministério Público estadual e a Procuradoria Geral da República realizaram a operação Murder Inc que prendeu Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE); seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-Chefe da Polícia Civil, entre 2018 e 2019.
Rivaldo Barbosa entrou para a Delegacia de Homicídios em 2012. Em 2015, o delegado assumiu a chefia da DH. Em 13 de março, ele tomou posse como chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro – na ocasião, a corporação não tinha status de secretaria, como ocorre desde o governo Witzel.
“Os indícios da existência de uma organização criminosa – enraizada no seio da Delegacia de Homicídios da Capital, composta por agentes públicos que, mediante suas condutas “omissivas” (em não apurar crimes) e ‘comissivas’ pelo direcionamento consciente e voluntário de atos de investigação para focos diversos da realidade), permitem a manutenção do esquema criminoso envolvendo contraventores e milicianos”, indica o relatório da PF.
Os fundadores do Escritório do Crime: Capitão Adriano, tenente João e o ex-PM Batoré
Reprodução
Os crimes apontados como suspeitos e que não foram concluídos durante a gestão Rivaldo são:
José Luís de Barros Lopes, o Zé Personal – 16 de setembro de 2011. Assassinato ocorreu em um Centro Espírita da Praça Seca. Motivação: guerra de caça-níqueis. Zé Personal era marido de Shanna Garcia, filha do contraventor Maninho, morto em 2004.
Geraldo Antônio Pereira, vulgo Pereira – 17 de maio de 2016 – Sargento da PM. Morto na saída de uma academia no Recreio dos Bandeirantes. Motivação: guerra de caça-níqueis.
Marcos Vieira de Souza, o Marcos Falcon – 26 de setembro de 2016. Crime cometido no comitê de campanha em Oswaldo Cruz. Falcon era ex-PM, presidente da Portela e candidato a vereador quando foi assassinado.
Haylton Carlos Gomes Escafura – 14 de junho de 2017 – Também foi assassinada na ocorrência Franciene Soares de Assis, PM e namorada de Haylton. Filho do contraventor Piriunha, ele foi morto no interior do Hotel Transamérica, na Barra da Tijuca. Motivação: guerra de caça-níqueis.
Marcelo Diotti da Matta – 14 de março de 2018. Morto no estacionamento do Outback, na Barra da Tijuca. Diotti era marido de Samantha Miranda, ex-mulher de Cristiano Girão, apontado como chefe da milícia da comunidade Gardênia Azul. Motivação do crime: guerra de caça-níqueis.
Em seu relatório, a PF informa que, se fossem investigados, os crimes praticados por Adriano da Nóbrega e pelo Escritório do Crime poderiam ser evitados:
“Impende destacar que, caso fosse efetivamente investigado, uma série de homicídios atribuídos ao CAPITÃO ADRIANO e ao Escritório do Crime poderiam ter sido evitados”
Delação de Ronnie Lessa
O matador de aluguel Ronnie Lessa afirmou, em delação premiada à Polícia Federal, que o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa perdeu o controle do caso Marielle Franco e decidiu entregar os executores do atentado. Antes do ataque, o delegado teria dado uma garantia prévia de impunidade aos mandantes Domingos e Chiquinho Brazão.
“[Os irmãos Brazão] Estavam revoltados da vida, estavam incorporados porque o Rivaldo estava pulando fora; o Rivaldo virou as costas; e o Rivaldo alegou que não tinha mais como segurar, fugiu a alçada dele, e não tinha mais como segurar, tentaram até onde deu e perdeu o controle”, afirmou Lessa em seu depoimento aos investigadores.
A Polícia Federal aponta nas investigações que a morte da vereadora foi um crime idealizado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e “meticulosamente planejado” pelo delegado Rivaldo Barbosa. Os três foram presos neste domingo (24).
Ronnie Lessa
Reprodução/TV Globo
O relatório final da Polícia Federal sobre o caso concluiu que a grande repercussão do crime foi determinante para atrapalhar o planejamento dos mandantes.
“Ainda que tenha conseguido adiar a resolução da investigação por seis anos, a sabotagem do trabalho apuratório esbarrou em uma variável que nenhum dos agentes participantes da empreitada criminosa previu: a magnitude da repercussão midiática do crime”, diz o relatório.
“Com o fim de estancarem a pressão imposta pela sociedade civil e pela mídia, Rivaldo e Giniton, de supetão, conforme será visto adiante, jogaram os executores do delito aos leões e imputaram-lhes a tese do ‘crime de ódio’, com o fim de fechar a tampa da apuração e preservar os autores intelectuais”.
Segundo a PF, Rivaldo Barbosa “foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências”.
A PF também afirma que criminosos pagavam uma “mesada” que podia chegar a R$ 300 mil para evitar investigações da DH.
Todos os presos negam as acusações.
Barbosa assumiu chefia da polícia na véspera do atentado
O ex-chefe da Polícia Civil do RJ Rivaldo Barbosa, preso neste domingo (24), é apontado pela Polícia Federal como mentor do assassinato de Marielle Franco. Ele tomou posse em 13 de março de 2018, um dia antes da execução da vereadora.
Após a delação do ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do assassinato, a PF concluiu que Rivaldo já tinha uma “relação indevida” com os mandantes antes mesmo do crime.
De acordo com a ordem de prisão, “se verifica claramente que o crime foi idealizado pelos dois irmãos e meticulosamente planejado por Rivaldo”.
Segundo a investigação, Rivaldo exigiu que Marielle não fosse morta entrando ou saindo da Câmara. “Tal exigência tem fundamento na necessidade de se afastar outros órgãos, sobretudo federais, da persecução do crime”, diz a PF.
Rivaldo Barbosa ao lado da família logo após o crime.
TV Globo/Reprodução
Morte do menino Eduardo de Jesus
Terezinha e José Maria com a foto do filho Eduardo, morto por um tiro no conjunto de favelas do Alemão em abril de 2015
Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
A delegacia que era comandada por Rivaldo também conduziu a investigação da morte do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, no Complexo do Alemão, em 2015. O caso ganhou repercussão nacional.
O menino foi atingido na cabeça por um tiro de fuzil disparado por PMs, na porta de sua casa. Na ocasião, a Delegacia de Homicídios era chefiada por Rivaldo. O delegado pediu o arquivamento das investigações.
O delegado entendeu que os PMs agiram em legítima defesa.

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