4 de março de 2025

Irmão de homem morto no Galo da Madrugada diz que PMs liberaram criminoso após ‘carteirada’ e ‘jogaram’ vítima no porta-malas de viatura


João Amancio foi baleado na dispersão do bloco, após defender um amigo que esbarrou acidentalmente numa mulher desconhecida. Família acredita que atirador é policial. João Amancio fantasiado para brincar o Galo da Madrugada
Reprodução/WhatsApp
O irmão do homem de 32 anos que foi morto durante a dispersão do Galo da Madrugada no sábado (1º) afirmou que o autor do disparo foi liberado pela Polícia Militar após dar uma “carteirada”, se identificando como policial.
Segundo ele, o atirador chegou a ser abordado por agentes, mas, ao se apresentar como policial, foi imediatamente liberado. Enquanto isso, a vítima, de acordo com o irmão, foi colocada no porta-malas de uma viatura e levada ao hospital. José Amancio Filho era caldeireiro, casado e pai de uma criança de 4 anos e de um adolescente de 12 anos.
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De acordo com o irmão da vítima, o crime aconteceu na Avenida Sul, próximo ao túnel de acesso ao bairro do Cabanga, na região central da capital.
Ele caminhava com um colega; em sua frente estava um casal de amigos e atrás, João Amancio com sua esposa. O grupo voltava para o Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, onde mora.
O desentendimento aconteceu após um dos amigos que estava no grupo esbarrar em uma mulher desconhecida. Segundo o irmão, a mulher reagiu irritada e, quando João tentou intervir na situação, o companheiro da mulher disparou imediatamente, acertando o tórax da vítima e outro amigo no queixo.
“Meu irmão vinha atrás e só perguntou: ‘Por que isso aí? Tem necessidade disso aí não’. Aí o cara foi e atirou. Ele já estava com a arma em punho, não estava nem a cintura dele. Ele só fez apontar para meu irmão e atirar. Só isso, mais nada”, contou.
Após o disparo, o homem e a mulher seguiram caminhando e foram abordados por quatro policiais militares, segundo a testemunha. A dupla teria sido liberada após o homem mostrar a carteira para os agentes.
“Ele ‘deu a carteirada’ e os policiais liberaram ele. Eu vi quando ele mostrou alguma coisa e os policiais liberaram. Enquanto isso, a gente estava gritando, um monte de gente gritando no túnel dizendo que foi ele que tinha atirado e os policiais liberaram. Eu continuei gritando e os policiais disseram: ‘Vamos socorrer teu irmão, depois a gente vê isso’”, afirmou.
Apesar dos policiais terem argumentado que a prioridade era o atendimento da vítima, para o irmão de João Amancio, os agentes tentaram defender o atirador. Segundo ele, o irmão foi encaminhado ao hospital no porta-malas, possivelmente já morto. E ele foi derrubado no chão quando contestou a conduta dos policiais.
“Jogaram meu irmão dentro da mala do carro. Eu queria ir junto. Não deixaram e eu continuei gritando que tinham sido eles que tinham liberado o cara. Eles me deram uma queda, eu caí e bati a cabeça no chão. […] Não sou nenhum médico legista, mas acredito eu que meu irmão já estava sem vida”, disse.
O irmão de João Amancio contou ao g1 que pegou um mototáxi para chegar ao hospital o mais rápido possível. Lá, ele teria confrontado novamente um dos agentes que liberou o atirador e o que o derrubou no chão.
“Quando eu cheguei, vi um dos policiais que me deu a queda e liberou o meliante. Eu disse: ‘Você liberou o cara que matou meu irmão. Você liberou o cara, o cara é polícia igual a você. Liberou o cara só porque o cara é polícia’. Aí ele saiu de dentro do hospital, não falou nada”, afirmou.
O que dizem as policias
O g1 procurou a Polícia Militar e a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco e fez as seguintes perguntas:
Por que o homem foi liberado pela PM mesmo após um flagrante de homicídio?
Por que João Amancio foi encaminhado ao hospital no porta-malas?
Se ele já estava morto, como suspeita o irmão, por que foi retirado da cena do crime?
O atirador foi identificado ou se apresentou à polícia?
O homem se identificou como policial?
O que a Polícia Militar tem a dizer sobre a agressão ao irmão da vítima e sobre a conduta dos quatro policiais militares que liberaram o atirador?
Até a última atualização desta reportagem, nem a PM, nem a SDS responderam.
Também procurada pelo g1, a Polícia Civil disse que:
A Polícia Militar foi acionada para uma ocorrência com vítima por disparo de arma de fogo após o encerramento dos trios;
A vítima foi atingida na região do tórax e socorrida por policiais militares para o Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife, mas não resistiu aos ferimentos;.
O caso está sendo investigada pela 1° Delegacia de Homicídios;
Um inquérito policial foi instaurado e, as diligências, seguem em andamento.
Confusão em prévia
Confusão deixa dois feridos durante desfile do bloco Virgens do Bairro Novo em Olinda
No domingo anterior, 29 pessoas foram parar na delegacia após brigas generalizadas durante o desfile das Virgens do Bairro Novo, tradicional bloco carnavalesco de Olinda.
A confusão aconteceu num dos corredores de acesso à prévia carnavalesca. Duas pessoas feridas nos confrontos foram hospitalizadas por causa da gravidade dos ferimentos (veja vídeo acima).
De acordo com a Polícia Militar (PM), cerca de 150 pessoas participaram das brigas e três menores de idade foram detidos entre o grupo levado para a delegacia. Não foi divulgado para qual hospital as duas vítimas foram levadas nem o estado de saúde delas.
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