Alas foram estabelecidas ainda na concepção do Campo da Esperança, na Asa Sul, em Brasília. Enterros exigem declaração emitida por associações que representem comunidades. Mapa de sepulturas no cemitério Campo da Esperança, Asa Sul, em Brasília
Raquel Lima/G1
Os conflitos entre Israel e Palestina são travados desde a década de 1940 e remontam ao surgimento do movimento sionista, que defendia estabelecer um Estado judeu na Palestina. A guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, que começou em 7 de outubro do ano passado, alimenta ainda mais as divergências entre os dois povos.
No Distrito Federal, longe do conflito, judeus e mulçumanos são sepultados no mesmo cemitério. Dentro dos mais de 1 milhão de metros quadrados que compõem o cemitério Campo da Esperança, localizado na Asa Sul de Brasília, existem quatro “áreas especiais”: para pioneiros, para autoridades, para judeus e para muçulmanos.
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As alas especiais foram estabelecidas ainda na concepção do cemitério, e estão detalhadas no Art 10º do Decreto nº 40.569, de 2020. Esses espaços carregam simbologias que fazem parte de rituais religiosos (veja mais abaixo como é o local reservado para judeus e para seguidores do Islã).
Para que um corpo seja enterrado no local, os parentes precisam seguir os trâmites comuns a qualquer cidadão. A diferença, é a exigência de uma declaração que ateste a origem judaica ou a prática do Islã dos falecidos.
No caso dos israelitas, da Associação Cultural Israelita de Brasília; e dos muçulmanos, da mesquita a qual a pessoa pertencia. Não há cobranças extras para os sepultamentos, apenas a exigência da documentação necessária.
Nas áreas especiais há 473 pessoas sepultadas na ala de pioneiros e autoridades, 60 na de israelitas e 15 na de muçulmanos.
Cemitério Israelita
Portal de entrada no cemitério Israelita, em Brasília
Raquel Lima/G1
Próximo ao setor A – um do mais antigos do cemitério – está a área especial para o sepultamento de judeus. A diferença cultural e religiosa pode ser notada desde a entrada onde um pórtico, com a Estrela de Davi, chama a atenção.
O símbolo, segundo o dicionário judaico, representa proteção, união dos opostos, bem como a ligação entre o céu e a terra. A estrutura, como um todo, é uma espécie de “portal” que delimita o “início e o fim”.
Logo na entrada, um lavatório convida o visitante a “purificar o corpo” antes de se aproximar das sepulturas. Pela tradição, quando um judeu morre, o corpo é lavado e envolvido em uma mortalha, assim como acontece com os muçulmanos.
Local na entrada do cemitério israelita onde há um lavatório que convida o visitante a “purificar o corpo” antes de se aproximar das sepulturas.
Raquel Lima/G1
Segundo Abrahan Melul, da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB) é costume que os túmulos judaicos sigam o mesmo padrão.
“Procuramos ter uma uniformidade no formato das sepulturas para que para que iguale todo mundo. Não interessa se a pessoa era rica ou não, nesse momento não tem diferença”.
Cemitério israelita em Brasília
Raquel Lima/G1
Mais à frente, pedras brancas guardadas em um vaso de porcelana exercem o mesmo papel que as flores têm para os cristãos. As pedras, de várias formas e tamanhos, são deixadas também em cima dos túmulos. O significado é de eternidade, uma espécie de lembrança que fica de forma perene, afirma Abrahan.
“Não sabemos exatamente como surgiu essa tradição, mas as pedrinhas deixadas em cima dos túmulos são um sinal de que alguém visitou, entende-se que é o que vai ficar para sempre, não murcha como as flores. É um costume que se perpetuou”, diz Abrahan Melul.
Pedras sobre sepultura são deixadas pelos visitantes e simbolizam a eternidade.
Raquel Lima/G1
Cemitério Islâmico
Área especial dedicada a muçulmanos no cemitério Campo da Esperança, em Brasília
Raquel Lima/G1
Nas sepulturas mais à esquerda do setor B do Campo da Esperança – lado oposto ao da administração e da capela – fica o Cemitério Islâmico. Ao entrar, o visitante passa por um portão onde há a identificação do local.
Um símbolo da religião eleva nossos olhos em direção ao céu: a lua crescente. A marca do calendário lunar do Islã é uma analogia com o momento de renovação da vida.
Símbolo da lua crescente na entrada do Cemitério Islâmico em Brasília
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Mais à frente, um caminho de pedras leva às sepulturas que ficam em uma espécie de jardim coberto de plantas.
Segundo Mohamad al Bukai, sheikh da mesquita Brasil, logo após a morte os mulçumanos começam o processo de lavagem para que o corpo seja colocado na mortalha com três tecidos brancos e perfumado, em seguida é levado para serem feitas as orações pela comunidade e enterrado.
“Acreditamos que tudo isso faz parte da dignidade do corpo do ser humano, o ser humano tem sua dignidade desde o nascimento até o último momento dele aqui na terra. É recomendado plantar uma árvore ao lado, que fica para sempre, porque as plantas também glorificam o nome de Deus”, diz o sheikh Mohamad.
É costume todas segundas e quintas-feiras haver visitas aos túmulos. Segundo a tradição mulçumana, nesses dias as almas ficam ao redor do túmulo e recebem com muita felicidade a visita, como se fosse um presente.
Cemitério Islâmico de Brasília
Raquel Lima/G1
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