21 de setembro de 2024

Justiça dá 72 horas para USP efetivar matrícula de estudante que não foi considerado pardo por banca julgadora

Universidade de São Paulo (USP) negou recurso apresentado pela defesa de Alison dos Santos Rodrigues, de Cerqueira César (SP). Estudante foi aprovado, por meio do Provão Paulista, para medicina. O jovem de Cerqueira César (SP) foi aprovado pelo Provão Paulista no curso de medicina da USP, mas perdeu a matrícula
Alison Rodrigues/Arquivo pessoal
A Justiça determinou que a Universidade de São Paulo (SP) efetive a matrícula do estudante Alison dos Santos Rodrigues, de Cerqueira César (SP), que teve a vaga de cotista negada pela universidade por não ser considerado pardo pela banca julgadora.
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A USP tem o prazo de 72 horas para matricular o jovem, sob pena de multa de R$ 500 por dia. Conforme a advogada que representa a família de Alison, Giulliane Jovitta Basseto Fittipald, o prazo começa a contar a partir da data da publicação da decisão no Diário Oficial do Estado.
O g1 questionou a USP sobre a decisão, mas até a última atualização desta reportagem não havia retornado. Anteriormente, a universidade já havia dito que “quaisquer ordens judiciais serão cumpridas pela USP e serão apresentadas em juízo todas as informações que explicam e fundamentam o procedimento de heteroidentificação”.
Ao g1, o estudante comemorou a decisão:
“Estou muito feliz por ter conquistado isso, estamos muito ansiosos para conseguir a matrícula. Apenas quero estudar. Esperamos que tudo continue dando certo. É uma conquista para mim, para todos que possivelmente ajudei: as pessoas pardas.”
A universidade chegou a justificar a negativa da matrícula alegando que o estudante não possui o conjunto de características fenotípicas de uma pessoa negra. A universidade foi convocada pelo TJ-SP a prestar esclarecimentos no processo que o estudante, de 18 anos, que se autodeclara como pardo, move para tentar efetivar a matrícula com base na lei de cotas.
Conforme a advogada que representa a família de Alison, Giulliane Jovitta Basseto Fittipald, a universidade informou que o candidato tem pele clara, boca e lábios afilados, cabelos raspados impedindo a identificação, não apresentando o conjunto de características fenotípicas de pessoa negra e, por isso, não pode usufruir de uma das vagas reservadas a pretos, pardos e indígenas.
“Em relação ao caso específico do estudante Alison dos Santos Rodrigues, a deliberação final se deu na última sexta-feira [23 de fevereiro] e foi enviada no dia subsequente. Importante frisar que todos os candidatos que estavam com recursos sendo analisados sabiam que a matrícula estava condicionada ao resultado das bancas de heteroidentificação. O que o estudante tinha era uma pré-matrícula condicionada ao resultado do processo de heteroidentificação”, informou a instituição.
Relembre o caso
Alison foi aprovado na primeira chamada do Provão Paulista no curso de medicina, porém, teve a matrícula cancelada após uma banca julgadora não o considerar como pardo. Ele recebeu a notícia em seu primeiro dia de aula, em 26 de fevereiro. Desde então, ele não acompanha as aulas.
A universidade teve o prazo de cinco dias úteis para apresentar a justificativa do cancelamento da matrícula ao recurso administrativo apresentado pelo Alison ao Conselho de Inclusão e Pertencimento. O processo correu pela 2ª vara da Justiça em Cerqueira César.
Ao g1, Alison contou que sempre se autodeclarou como pessoa parda.
“Tive o desprazer de saber da notícia que eu não fui aprovado, mesmo me identificando formalmente como pardo. E tudo aquilo que aconteceu me deixou sem chão, parece que o mundo acabou porque foi algo muito difícil de conquistar.”
Veja abaixo reportagem da TV TEM:
Estudante de Cerqueira César processa USP após perder vaga por não ser considerado pardo
Como funciona a avaliação
A Universidade de São Paulo declarou que a análise é feita por fotografia e que, por meio de duas bancas de cinco pessoas, são avaliados somente os fatores fenotípicos: a cor da pele morena ou retinta, o nariz de base achatada e larga, os cabelos ondulados, encaracolados ou crespos e se os lábios são grossos.
Caso a foto do candidato não seja aprovada na primeira avaliação, ela é direcionada automaticamente para a outra banca. “Nenhuma banca sabe se a foto está sendo analisada pela primeira ou segunda vez, o que garante uma dupla análise cega das fotografias”, afirma a USP em nota.
Ainda de acordo com a instituição, se as duas bancas não aprovarem a foto por maioria simples, o candidato é automaticamente chamado para uma oitiva presencial.
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