Kátyna Baía e Jeanne Paollini ficaram presas na Alemanha por 38 dias, entre março e abril de 2023; criminosos colocaram etiquetas das malas delas em bagagens com 40 kg de cocaína. Brasileiras presas na Alemanha há um mês por tráfico de drogas tiveram etiquetas das malas trocadas no aeroporto de Guarulhos
Montagem/g1
A Justiça de São Paulo condenou seis pessoas envolvidas em um esquema de tráfico de drogas que trocou as etiquetas de malas de duas brasileiras presas com cocaína em Frankfurt, na Alemanha. As condenações dos réus, que estão presos, foram por crimes como tráfico de drogas e associação para o tráfico. Confira mais abaixo os crimes e as penas de cada réu.
A informação foi divulgada pelo Ministério Público Federal (MPF), na noite desta sexta-feira (16). A decisão é do juiz Marcio Augusto de Melo Matos, da 6ª Vara da Justiça Federal de Guarulhos, na Grande São Paulo.
O casal Kátyna Baía e Jeanne Paollini, que mora em Goiânia (GO), ficou preso na Alemanha por 38 dias, entre março e abril de 2023, após terem as etiquetas das bagagens trocadas por malas com drogas. Havia 20 kg de cocaína em cada uma das malas. Leia mais abaixo sobre a prisão delas.
De acordo com a decisão, os dois principais chefes do grupo receberam as penas mais altas, de 39 anos e de 26 anos de prisão, pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico. O MPF afirmou que ambos têm “longa trajetória em atividades ilícitas e mantinham vínculos com facções criminosas”.
A investigação apontou que eles eram responsáveis pela compra da droga que seria enviada à Europa, aliciavam outros criminosos, realizavam pagamentos e cediam celulares para comunicação no interior do aeroporto.
Ao tratar da condenação de um dos chefes do grupo, o juiz afirmou que “o tráfico por ele promovido previa, como método, a aposição de etiquetas de passageiros inocentes em malas contendo elevada quantidade de cocaína, demonstrando personalidade desprovida de constrangimento ou hesitação em relação à possibilidade de prisão de outros cidadãos no estrangeiro”.
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Conforme a sentença, os demais réus, que também exerciam funções de comando, atuavam na logística para a remessa da droga ao exterior, coordenando desde a chegada do material ao aeroporto até a acomodação nas aeronaves. As penas deles variam de 7 anos a 16 anos de prisão.
A investigação indicou que parte dos envolvidos trabalhavam em prestadoras de serviços no terminal e ficavam encarregados de aliciar colegas para a execução de tarefas como a recepção das bagagens com cocaína em áreas restritas e a realização da troca de etiquetas.
Veja os crimes e as penas dos réus:
Gleison Rodrigues dos Santos (conhecido como Vovô): condenado a 39 anos, 8 meses e 10 dias de prisão, em regime fechado, por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
Fernando Reis de Araújo (conhecido como Brutus): condenado a 26 anos, 3 meses e 23 dias, em regime fechado, por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
Matheus Luis Melo da Silva (conhecido como Man): condenado a 8 anos e 2 meses, em regime fechado, por associação para o tráfico;
Charles Couto Santos: condenado a 7 anos, em regime semiaberto, por associação para o tráfico;
Eubert Costa Ferreira Nunes (conhecido como Bahia): condenado a 8 anos e 2 meses, em regime fechado, por associação para o tráfico;
Carolina Helena Pennacchiotti: condenada a 16 anos e 4 meses, em regime fechado, por tráfico de drogas e associação para o tráfico.
Eles também forma condenados ao pagamento de multas — que vão variar conforme os crimes e o poder aquisitivo de cada um —, além do perdimento de bens apreendidos, como carros. O g1 tenta contato com as defesas dos citados.
Condenados presos
Os seis condenados foram presos em julho do ano passado, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Colateral. O juiz determinou a manutenção da prisão preventiva deles. De acordo com o MPF, as penas ainda podem ser aumentadas, visto que os réus respondem a outras ações relacionadas ao esquema.
PF faz operação contra quadrilha que trocou malas de brasileiras presas por tráfico de drogas na Alemanha
Os processos, segundo os procuradores, também tratam da participação de integrantes de escalões inferiores da quadrilha, que são responsáveis pela execução da logística da remessa dos entorpecentes.
A partir do caso das brasileiras presas injustamente na Alemanha, a polícia descobriu outros crimes semelhantes cometidos pelo grupo. Em ao menos outras duas ocasiões, os criminosos mandaram 86 kg de cocaína aos aeroportos de Lisboa, em Portugal, e Paris, na França, entre outubro de 2022 e março de 2023.
Assim como no caso de Frankfurt, a droga foi enviada em bagagens com etiquetas trocadas e foi apreendida por forças policiais na chegada à Europa.
Presas injustamente
A viagem de 20 dias pela Europa das goianas Jeanne Paolline e Kátyna Baía acabou em prisão por tráfico internacional de drogas em 5 de março deste ano, horas antes de elas desembarcarem em Berlim, capital da Alemanha. O país seria o primeiro que elas iriam visitar, antes de seguirem para Bélgica e República Tcheca.
Uma irmã de Kátyna havia contado que elas planejaram a viagem com antecedência. O objetivo dos dias pela Europa era celebrar um novo momento da vida profissional dela.
A prisão do casal em Frankfurt, a última conexão que faria antes de Berlim, motivou uma operação da Polícia Federal para descobrir o que aconteceu com as malas que foram despachadas em Goiânia e nunca chegaram ao país europeu.
Em Frankfurt, a polícia apreendeu no bagageiro do avião duas malas com 20kg de cocaína cada, etiquetadas com os nomes de Jeanne e Kátyna. A prisão aconteceu na fila de embarque da conexão, sem que elas pudessem ter visto as malas.
A PF começou a investigar o caso e disse que elas eram inocentes. Vídeos obtidos pela PF mostraram quando duas mulheres chegaram ao aeroporto em São Paulo despacharam as malas com droga que levaram as brasileiras à prisão e foram embora em três minutos.
PF descobre que etiquetas das malas de turistas brasileiras presas na Alemanha foram trocadas; VÍDEO
As imagens das câmeras de seguranças do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, evidenciaram o desembarque de duas malas, uma branca e uma preta, diferentes das malas onde foram encontradas a droga na Alemanha.
As malas foram despachadas no aeroporto goiano, mas no meio do caminho, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o maior do Brasil, as etiquetas foram trocadas por funcionários terceirizados que cuidavam das bagagens.
Segundo a PF, nas escalas internacionais, o passageiro despacha a mala no aeroporto de origem e só pega de volta no destino final, ou seja, Jeanne e Kátyna nem viram a troca das bagagens e das etiquetas.