‘Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos’, afirmou o brasileiro em uma rede social. Justiça da Espanha condena três torcedores do Valência por insultos racistas contra Vini Jr.
A Justiça da Espanha condenou três torcedores do Valência a oito meses de prisão por insultos racistas contra o jogador brasileiro Vinicius Júnior.
A audiência foi realizada em um tribunal de Valência. Os três também estão proibidos de entrar em estádios do país por dois anos. Eles se declararam culpados e leram uma carta com pedidos de desculpas à Vini Jr. e ao Real Madrid, o clube em que Vini joga.
Apesar da condenação, os criminosos não devem cumprir a pena de oito meses na prisão. O Código Penal espanhol permite a liberdade para réus primários condenados a menos de dois anos de prisão em casos de crimes não violentos.
Os três proferiram ataques racistas contra o brasileiro no estádio Mestalla, no dia 21 de maio de 2023, durante o jogo entre Valência e Real Madrid pelo Campeonato Espanhol. Aos 27 minutos do segundo tempo, Vini Jr. identificou um dos torcedores que o chamavam de macaco. Repetiu o gesto que viu na arquibancada e o juiz paralisou o jogo por oito minutos.
A La Liga, entidade que organiza o Campeonato Espanhol, denunciou o caso à Justiça. A Federação Espanhola de Futebol, o Real Madrid e Vinicius Júnior se uniram à denúncia.
O crime de racismo não existe na legislação espanhola. A condenação dos três homens foi por delitos contra a integridade moral com agravante de discriminação por motivos racistas. Na decisão, a juíza diz que os réus repreenderam Vinicius com gritos, gestos e cânticos nos quais se referiam à sua “cor da pele, agindo com evidente desprezo pela cor negra do jogador”.
Javier Tebas, presidente da La Liga, comemorou a sentença e disse que é uma ótima notícia para o combate contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar.
Em nota, o Real Madrid afirmou que esteve ao lado de Vini Jr como acusação neste caso e que vai continuar trabalhando para proteger os valores do clube e erradicar o racismo no futebol mundial e no esporte.
Essa foi a primeira vez em que a Justiça da Espanha condenou à prisão torcedores que cometeram ataques racistas dentro de um estádio de futebol. Vini Jr está nos Estados Unidos com a Seleção Brasileira, que se prepara para a disputa da Copa América. Nas redes sociais, ele comentou as condenações.
“Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que minha luta era em vão e que eu deveria apenas ‘jogar futebol’. Mas, como sempre disse, não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos”, afirmou.
De acordo com a La Liga, entre janeiro de 2022 e março de 2024, a entidade denunciou outros 20 casos de racismo contra Vini Jr. A Justiça arquivou seis deles, principalmente porque a polícia não conseguiu identificar os autores dos delitos. Outros dois envolvem menores de idade e se encontram com as autoridades competentes. E os demais estão ou em fase de investigação ou com o processo em andamento.
Um caso de enorme repercussão é de janeiro de 2023, quando membros de uma torcida organizada do Atlético de Madrid penduraram um boneco com a camisa de Vini Jr em uma ponte da capital espanhola, simulando um enforcamento.
Na época, a polícia deteve quatro homens, que depois deixaram a prisão ao pagarem fiança. Eles estão sendo julgados por ofensa à integridade moral do atacante. Não podem se comunicar com o brasileiro e nem se aproximar dele, das instalações do Real Madrid e de qualquer estádio durante partidas do Campeonato Espanhol.
Vini Jr terminou dizendo o seguinte na mensagem postada nesta segunda-feira (10) na internet:
“Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado a La Liga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação histórica. Vem mais por aí”.