29 de dezembro de 2024

Justiça nega pedido para revogar prisões preventivas de donos de clínica procurados por torturar e matar paciente na Grande SP

Defesa de Cleber Silva e Terezinha Conceição pedia suspensão das prisões contra enfermeiros em 26 de agosto. Justiça manteve mandados para serem cumpridos contra casal, que segue foragido há mais de uma semana. Ele é acusado de dar remédios a Jarmo Santana em Cotia. Casal Cleber Silva e Terezinha Conceição são donos de clínica de terapia em Cotia, onde paciente foi torturado e depois morreu
Reprodução
A Justiça negou nesta terça-feira (3) o pedido da defesa dos donos da clínica de terapia para usuários de drogas em Cotia, Grande São Paulo, para revogar as prisões preventivas contra eles.
Desse modo, a juíza Andressa Martins Bejarano manteve em aberto os mandados contra Cleber Fabiano da Silva e Terezinha de Cássia de Souza Lopes da Conceição. Os dois são enfermeiros, casados e proprietários da Comunidade Terapêutica Efatá.
Cleber Silva e Terezinha Conceição também são acusados pelo Ministério Público (MP) de participar da tortura e morte do paciente Jarmo Celestino de Santana em julho. A magistrada havia decretado as prisões dos réus em 26 de agosto. Desde então, os dois são considerados foragidos da Justiça e passaram a ser procurados há mais de uma semana pela polícia.
Até a última atualização desta reportagem eles não haviam sido presos ou se entregaram. Procurada para comentar o assunto, a advogada dos acusados, Terezinha Cordeiro de Azevedo, afirmou que “a defesa fará o que for necessário para provar a inocência dos meu clientes.”
O monitor da clínica, Matheus de Camargo Pinto, também é réu no mesmo processo que o casal e já está preso preventivamente desde julho. Prisões preventivas costumam durar até o eventual julgamento dos acusados.
De acordo com o Ministério Público (MP), os enfermeiros Cleber Silva e Terezinha Conceição deram para Jarmo um coquetel de medicamentos. O objetivo, segundo eles, seria o de sedar o paciente que teria chegado agitado e agressivo à clínica.
O casal já havia respondido a um processo anterior por maus-tratos contra internos em outra clínica que tinham na mesma cidade. Mas não foi responsabilizado nesse caso.
Tortura foi filmada
Paciente é torturado e morto em clínica na Grande SP
O monitor Matheus Pinto foi acusado pela Promotoria de agredir o paciente. Ele chegou a filmar e compartilhar um vídeo nas redes sociais que mostra a vítima com os braços para trás, amarrados com corda, e presos a uma cadeira. Nas imagens é possível ver outras pessoas rindo e zombando do paciente.
O monitor ainda enviou uma mensagem de voz para uma outra pessoa confirmando ter agredido o interno: “Cobri no cacete”. Em outros vídeos gravados, ele aparece rezando no local com mais internos antes do crime (veja acima). Jarmo não aparece nas imagens.
Laudo do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que Jarmo morreu por causa dos 11 tipos diferentes de remédios que foi obrigado a tomar e pelas agressões que sofreu. A vítima tinha 55 anos.
Segundo o documento da Superintendência da Polícia Técnico-Científica, o paciente faleceu em decorrência de “fármacos psiquiátricos” e “trauma abdominal”. Ele apanhou com socos e pontapés e ainda tomou um composto com comprimidos apelidado de “Danoninho”.
Policiais ouvidos pela reportagem disseram que quem tiver informações sobre o paradeiro dos procurados pode ligar para o telefone 181 do Disque-Denúncia. Não é preciso se identificar.
Internação de paciente
Paciente Jarmo Celestino de Santana aparece amarrado e torturado. Laudo do IML concluiu que ele morreu por causa das agressões que sofreu e dos remédios que foi obrigado a tomar na clínica
Reprodução
A reportagem não conseguiu localizar a defesa do monitor para tratar do caso. Matheus Pinto trabalhava como monitor da clínica havia duas semanas. Quando foi interrogado pelos policiais, confessou que bateu em Jarmo para contê-lo porque o paciente estava “transtornado psicologicamente” e em “surto”.
Jarmo havia sido internado na clínica em 5 de julho, quando foi levado à força para a Efatá por funcionários a pedido da família dele. A morte do paciente acabou confirmada em 8 de julho, quando deu entrada ferido num hospital em Vargem Grande Paulista, outro município da região metropolitana.
Quem o levou ao hospital foram outros monitores da Efatá. Jarmo apresentava diversas lesões de agressões pelo corpo e não resistiu aos ferimentos, segundo os médicos.
Conselho de Enfermagem
Preso por torturar paciente grava oração com outros internos
O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) também investiga se Cleber e Terezinha, que são enfermeiros, cometeram alguma infração ética e profissional em relação à clínica e ao próprio paciente morto.
As punições previstas, em caso de confirmação da infração são: advertência, multa, censura, suspensão temporária do exercício profissional ou cassação do exercício profissional pelo Conselho Federal de Enfermagem.
Segundo a Prefeitura de Cotia, a clínica de terapia era clandestina. Uma equipe da Vigilância Sanitária esteve no endereço, interditou o local e atestou que a clínica particular não tem nenhum tipo de autorização para funcionamento. Os donos alegam o contrário: de que estariam regularizados para funcionar.
Enfermaria da clínica onde paciente foi obrigado a tomar 11 remédios diferentes; ao lado foto no celular de um dos investigados mostra que Jarmo Santana tomou composto chamado de ‘Danoninho’
Reprodução

Mais Notícias