7 de janeiro de 2025

Justiça torna réu ex-funcionário preso por extorquir dinheiro de patrão com quem teve envolvimento amoroso


Ministério Público de São Paulo (MP-SP) ofereceu denúncia pedindo a condenação do jovem de 23 anos. Homem foi preso em flagrante com dinheiro que extorquiu do ex-patrão (à esq.) após fazer ameaças em Santos (SP)
Reprodução
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) tornou réu o jovem de 23 anos acusado de pedir R$ 20 mil do ex-patrão para não divulgar informações sigilosas de uma empresa de alta perfumaria em Santos, no litoral paulista. A decisão foi tomada após denúncia do Ministério Público (MP-SP).
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O homem, que já teve um caso amoroso com o dono da companhia, ficou revoltado ao ser demitido e passou a ameaçar o empresário. O acusado foi preso em flagrante em 1º de novembro, após a vítima informar à Polícia Civil que encontraria com ele em um shopping da cidade para entregar R$ 7,5 mil — valor acordado entre as partes.
Os agentes foram ao local, efetuaram a detenção e recuperaram o dinheiro, que foi devolvido ao empresário. O acusado, porém, foi liberado em audiência de custódia no dia seguinte, sob fiança no valor de dois salários-mínimos (correspondente a aproximadamente R$ 2,8 mil).
Conforme apurado pelo g1, o MP-SP denunciou o ex-funcionário dias depois dele ser liberado pela polícia. Na ocasião, o promotor de justiça José Mário Barbuto afirmou que o caso deveria se tornar um processo penal para que o acusado recebesse a devida condenação por extorsão.
Ainda no documento, Barbuto solicitou a fixação de valor mínimo para reparação dos danos morais eventualmente sofridos pela vítima. A denúncia foi recebida pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Santos, Fernando Cesar do Nascimento, que determinou um prazo para o réu apresentar defesa.
Homem foi preso em flagrante por extorsão após exigir dinheiro de ex-patrão em Santos (SP)
Arquivo Pessoal e Divulgação/Polícia Civil
Segredo de justiça
A defesa do ex-funcionário se manifestou solicitando que fosse determinado segredo de justiça nos autos. O acusado justificou o pedido citando que a mídia o procurou para ouvir a versão dele sobre o crime e a prisão.
No entanto, o MP e o TJ indeferiram a solicitação. “O fato de ter sido o réu procurado pela imprensa não importa dizer que houve escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, considerando ainda que não se trata de pessoa pública”, esclareceu o juiz Andre Diegues Da Silva Ferreira, em decisão publicada no dia 14 de novembro.
Ainda segundo o magistrado, a publicidade do processo é um “meio de transparência dos atos judiciais possível de fiscalização por qualquer do povo”.
Dias depois, Ferreira expediu um mandado de citação em nome do réu, determinando o prazo de dez dias para que ele respondesse à denúncia do MP-SP por escrito.
O g1 tentou contato com a advogada de defesa do réu, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Capturas de tela
Capturas de tela mostram chantagens e ameaças feitas pelo acusado. Em um dos ‘prints’ enviados ao g1 pela vítima, o suspeito afirmou que o “chumbo vai ser grosso e pior do que vocês [membros da companhia] imaginam” (veja abaixo).
Prints mostram chantagens e ameaças de homem preso por extorquir dinheiro de ex-patrão
Arquivo Pessoal e Divulgação/Polícia Civil
Os prints mostram que o suspeito primeiro fez contato com a irmã do ex-patrão. Em uma das capturas de tela, é possível ver que o jovem entrou em contato com a mulher por meio de um aplicativo de mensagens e, em seguida, perguntou se ela havia falado com o “irmãozinho”, ou seja, o empresário.
Ainda na mensagem, o jovem afirmou que gostaria de conversar com a mulher pessoalmente, mas deu um “caminho” mais fácil para resolver a situação. Ele propôs um contrato de confidencialidade para não divulgar as informações da empresa.
“Aprendam a lição, vocês deveriam ter feito isso [contrato de confidencialidade] desde o início. Vocês me dão o que eu estou pedindo (minha rescisão + R$ 20 mil), eu assino o contrato e acabamos por aqui”, disse o ex-funcionário na mensagem.
Em outro print, o suspeito enviou um e-mail à gerente da loja reclamando de ter recebido os honorários sem uma “gordurinha mais”. Em seguida, ele ameaçou a companhia dizendo que “o chumbo vai ser grosso e pior do que vocês imaginam”. O jovem ainda disse que daria a “última chance” para acabar com a história.
Jovem enviou ameaças para ex-patrão em Santos (SP)
Arquivo Pessoal
O caso
O acusado atuava como assistente administrativo na empresa, que tem cinco lojas na Baixada Santista. Segundo o proprietário da companhia, o ex-funcionário tinha sido contratado em março, mas foi demitido em meados de outubro por mau comportamento.
O empresário relatou que as ameaças começaram no dia da demissão e registrou um boletim de ocorrência (BO) de extorsão no dia 29 de outubro após o ex-funcionário entrar em contato com a irmã dele e um dos fornecedores mais importantes da empresa.
“Se ele tinha algum problema comigo, que abrisse um processo cível contra mim ou contra a empresa. Mas como ele não tinha nada, não tinha poderes para nada, então só tinha coisas para difamar, para inventar, falando que eu vendia perfumes falsificados, falando que eu misturava coisas. Eu tenho uma carreira muito sólida, graças a Deus”, desabafou.
Três dias depois, o ex-funcionário mandou e-mail com o mesmo teor para outro fornecedor. Por isso, o empresário procurou novamente a Polícia Civil e o delegado sugeriu um plano para fazer um flagrante contra o suspeito.
O ex-funcionário foi preso no dia 1º de novembro, mas foi liberado em seguida. No dia 3, ele voltou com a perseguição, criando um grupo no WhatsApp com antigos e novos profissionais da empresa. “Fiquei nervoso com aquilo, ‘printei’ tudo novamente, passei para minha advogada e fomos novamente na delegacia fazer o terceiro B.O.”, explicou.
Enquanto o boletim de ocorrência estava sendo registrado no dia 4 de novembro, outro fornecedor da empresa também afirmou que tinha recebido as mensagens do ex-funcionário. Sendo assim, a empresa de alta perfumaria elaborou uma nota de esclarecimento sobre o ocorrido.
O empresário teme pela própria vida. “A minha preocupação hoje é com a minha segurança, minha vida pessoal. Eu não tenho medo de nada do que ele possa fazer contra a minha empresa, porque ele não tem poder para isso”, afirmou.
G1 em 1 minuto – Santos: Homem é preso por extorquir dinheiro de ex-patrão
Prisão
O dono da empresa combinou com o ex-funcionário de pagar parte da quantia desejada por ele, marcando encontro em um shopping de Santos. No local, o empresário levou um envelope com dinheiro e ficou posicionado próximo de policiais que estavam à paisana.
O suspeito apareceu no horário combinado, pegou o dinheiro e ainda debochou do ex-patrão, indo até a loja em que trabalhava para mandar beijos aos funcionários. “Ele me fez uma pergunta: ‘Se você é tão correto como disse e não está com medo das ameaças, por que está cedendo à minha extorsão?’. Então eu respondi que daqui a pouco ele entenderia”, relembrou o empresário.
Logo em seguida, a equipe policial do 7º Distrito Policial (DP) efetuou a prisão em flagrante do jovem. Segundo a Polícia Civil, ele foi abordado com R$ 7,5 mil em espécie, confessando o crime e sendo levado à delegacia.
Motivação passional
O empresário acredita que, além da revolta pela demissão, o acusado fez as ameaças por motivação amorosa. Isso porque o dono da empresa chegou a sair com o homem antes de contratá-lo.
“A gente dava uns beijos, saía de vez em quando, mas a gente nunca teve absolutamente nada”, explicou, dizendo que o acusado chegou a citar uma viagem dos dois quando foi questionado sobre o motivo das ameaças.
Na viagem, o jovem fez menção a estabelecer um compromisso, mas o empresário teria dito que prezava pela amizade dele e, inclusive, estava conhecendo outra pessoa.
“Ele disse que se sentiu trocado, só que eu nunca tive nada com ele. Então, tem um lance meio passional envolvido, mas é muito mais desvio de caráter ou algum problema psiquiátrico do que passional”, afirmou o empresário.
SSP e TJ
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o homem foi preso em flagrante no dia 1º de novembro por extorsão, “realizando ameaças e solicitando uma quantia em dinheiro de seu antigo chefe”.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) informou que o acusado foi liberado sob fiança de dois salários mínimos em audiência de custódia no dia 2 de novembro. Apesar disso, ele deverá cumprir as seguintes medidas cautelares:
Comparecimento bimestral em juízo para informar e justificar atividades;
Proibição de ausentar-se da comarca ou mudar de domicílio sem prévia autorização do juízo;
Compromisso de comparecer a todos os atos do processo.
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