A instabilidade do clima, com temperaturas altas, explica a queda na produção nos maiores laranjais de São Paulo, principal polo produtor; as últimas quatro safras tiveram resultados ruins. Laranja atinge o maior preço em 30 anos, mostra levantamento da USP
O preço dos alimentos subiu mais que o dobro da inflação, em 2024. As frutas estão entre os itens que mais aumentaram. Um levantamento da USP mostra que a laranja atingiu o maior preço em 30 anos.
Suco de laranja é bom, mas tem ficado caro. Em fevereiro, a laranja pera, mais consumida, teve um aumento bem maior do que a inflação: mais de 6%. Em doze meses, a laranja encareceu mais de 36%.
“Esta semana mesmo eu nem comprei, porque está muito caro, muito salgado. Vou continuar pesquisando. Entrei aqui, olhei, nem comprei”, conta uma consumidora. “Está muito caro. Não sei se é a safra, se é o calor. Está bem caro”.
A explicação está na lavoura. O desenvolvimento da fruta vai depender de alguns fatores, como a saúde da planta, pragas e, principalmente, do clima. As plantações de laranja em Tanguá, no interior do Rio, viram a produção cair 40% na safra passada. Menos produtos, preços mais altos. Lá foi o clima que interferiu na produção.
“A falta de chuva e um calor muito intenso. E isso resulta em uma menor produção, porque o fruto não consegue ficar na planta e ela não consegue produzir nem em quantidade, nem em qualidade”, explica Alessandra Macedo, da Associação dos Citricultores e Produtores Rural de Tanguá.
A instabilidade do clima, com temperaturas altas, também explica a queda na produção nos maiores laranjais de São Paulo, principal polo produtor. As últimas quatro safras tiveram resultados ruins. Em fevereiro, o preço da caixa de 40 kg chegou perto de R$ 90, maior valor em 30 anos, mesmo descontando a inflação.
“Normalmente, janeiro e fevereiro são períodos em que o preço sobe porque a gente já está em praticamente entressafra dessa fruta. Este ano, especificamente, a gente pode dizer que essa escalada dos preços foi até mais intensa, porque, além de ser entressafra, estamos tendo disponibilidade de fruta ainda menor do que o normal”, diz Fernanda Geraldini, pesquisadora do Cepea.
Os laranjais ainda enfrentam uma praga, o greening, que destruiu lavouras em São Paulo e no Paraná. O impacto de tudo isso vai além da mesa do consumidor. O Brasil é o maior exportador de suco de laranja do mundo, abastecendo 75% do mercado internacional.
Em 2024, com a baixa produção, o estoque de suco da fruta foi o segundo menor da série histórica, que começou em 1994. Só não perdeu para o de 2023, o mais baixo da história da exportação. Para a Associação de Empresas Exportadoras, esse é um cenário ruim, mas que pode mudar.
“O setor desenvolve ano a ano diversas tecnologias de produção de combate a pragas e doenças. Agora, agricultura, ela é fábrica a céu aberto, mas a gente é muito dependente do clima, então o que a gente espera é que para o ano nós tenhamos um pouco mais de sobra de fruta para que a gente possa processar mais laranja, mas isso obviamente depende da safra e, sobretudo, do clima., afirma Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Citrus BR.
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