20 de setembro de 2024

Laudos falsos de câncer usados por médica suspeita de fraudar diagnósticos eram feitos em máquina de xerox, diz delegado

Perícia concluiu que laudos apreendidos no consultório da médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti eram falsos. Defesa diz que não comentará ‘especulações que podem interferir na investigação’. À esquerda, laudo laboratorial, à direita, laudo apresentado pela médica para paciente
Arquivo pessoal
O delegado de Polícia Civil Helder Lauria afirmou que os laudos de câncer de pele apresentados aos pacientes pela médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti eram adulterados com a ajuda de uma máquina de xerox.
Conforme o delegado Lauria, documentos falsos eram colocados sobre os verdadeiros e, com ajuda do equipamento, eram criadas novas versões dos laudos.
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A prática foi confirmada pela perícia final do Instituto de Criminalística do Paraná, que avaliou diversos laudos apreendidos em prontuários e em gavetas do consultório de Caminatti – em Pato Branco, no Paraná.
Os materiais foram encontrados em uma operação realizada em 23 de fevereiro deste ano para apurar emissão de laudos falsos e indicação de cirurgias desnecessárias pela profissional.
“Agora temos a certeza de que eram laudos falsos. […] De acordo com a perícia, [os laudos falsos] eram baseados em laudos verdadeiros, fornecidos pelo laboratório responsável, onde na parte do diagnóstico, havia a sobreposição de uma outra folha com diagnóstico falso, e com isso era retirada uma cópia, um xerox, e com isso produzido um novo documento, falsificado”, disse o delegado.
Questionada sobre a conclusão da perícia, a defesa de Carminatti disse que vai aguardar as conclusões e que não vai “comentar sobre especulações que podem interferir na investigação”.
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Médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti, de Pato Branco
Redes sociais
Segundo o delegado, a perícia mostrou que algumas folhas tinham vários diagnósticos diferentes de câncer, que seriam recortados para colar em cima dos diagnósticos originais.
A emissão dos laudos falsos era feita no próprio consultório da médica, afirmou Lauria.
A investigação apurou que nas consultas a médica examinava pintas e manchas dos pacientes e afirmava que algumas poderiam ser cancerígenas. Na sequência, fazia retirada de material e encaminhava para um laboratório.
Na reconsulta, segundo a investigação, ela apresentava ao paciente um laudo falso com diagnóstico de câncer de pele e realizava a ampliação de margem – procedimento em que é retirado pedaço da pele na área suspeita de haver células cancerígenas. Os procedimentos custavam até R$ 13 mil.
Dezenas de vítimas denunciaram médica
Com a comprovação de falsificação dos laudos, o delegado diz que ouvirá as últimas quatro supostas vítimas para que na sequência a médica possa ser ouvida também.
Até esta terça-feira (2), pelo menos 31 vítimas denunciaram o caso. Entre elas, está uma paciente que fez a gravação por precaução de uma consulta com a médica, pensando em repassar o material aos familiares, uma vez que ela teve melanoma, tipo mais grave de câncer de pele, em 2013.
O diagnóstico foi novamente confirmado pela médica, com uso de laudo falso, segundo a paciente. Conforme o delegado, o áudio da consulta “ajuda a comprovar o alegado pela vítima, pois confirma as palavras ditas pela médica”.
OUÇA CONSULTA: Médica foi gravada por paciente comemorando retirada de falso melanoma
Criminalmente, se for comprovada a fraude, a médica pode responder por crimes como estelionato e lesões corporais. Somadas as penas podem chegar a 6 anos de prisão.
O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) disse que abriu uma sindicância para apurar a denúncia de possível desvio ético pela médica.
Segundo a organização, o Código de Processo Ético-Profissional determina que o processo tramite sob sigilo, garantindo o contraditório e ampla defesa.
Médica sem especialidade
Registro da profissional no Conselho Federal de Medicina
CRM
Nas redes sociais, Carolina se apresenta como dermatologista, especialidade que não possui, segundo o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR).
Por anunciar uma especialidade que não possui, ela foi punida com censura pública pelo conselho.
Agora o CRM investiga, no atual processo, a suspeita de emissão de laudos falsos.
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