19 de setembro de 2024

‘Liberdade inexplicável’, diz primeira mulher trans a fazer redesignação sexual pelo SUS em Juiz de Fora

Aos 23 anos, Mirella da Silva Perreira iniciou transição de gênero e, após três anos de acompanhamento, realizou o procedimento no Hospital Universitário da UFJF. Mirella Lopez, primeira mulher trans a realizar cirurgia de redesignação sexual pelo SUS em Juiz de Fora
Reprodução/Instagram
Aos 23 anos, Mirella da Silva Perreira, hoje com 31, iniciou transição de gênero e, após três anos de acompanhamento, realizou a cirurgia de redesignação sexual.
A bailarina e estudante de psicologia foi a primeira mulher a passar pelo procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Juiz de Fora realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF).
“Estou com uma sensação inexplicável por ter aberto esse portal tão importante e histórico para tantas pessoas da minha comunidade”, disse ela em uma postagem nas redes sociais.
Para Mirella, a cirurgia representou a tão sonhada liberdade. Ela destaca, ainda, que cada pessoa deve ter autonomia sobre o próprio corpo e acesso a este e outros procedimentos na saúde pública.
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“Antes, eu tinha muitas limitações, das mais simples, como usar um traje de banho, às mais complexas, como ter bloqueio em me relacionar sexualmente. Hoje essa sensação de poder colocar uma peça íntima ou até mesmo poder ir a um clube ou praia de uma forma leve me traz conforto e prazer, me olho no espelho com muito mais sentido”, completou.
👩‍⚕ Acompanhamento médico e terapia hormonal
Primeira mulher trans realiza cirurgia de redesignação sexual em Juiz de Fora
Inicialmente, Mirella buscou o Ambulatório de Diversidade de Gênero do HU-UFJF em busca de acompanhamento para a terapia hormonal, até que em uma das consultas foi citada a possibilidade da cirurgia ser realizada.
“É indescritível a emoção e a honra de ver a ciência mais uma vez ocupando seu lugar de mantenedora da vida e da dignidade humana em sua plenitude”, disse a médica ginecologista, Carolaine Bitencourt, uma das responsável pela cirurgia.
Segundo o hospital, o procedimento cirúrgico ocorreu de forma tranquila, com duração de quatro horas e pós-operatório imediato, sem intercorrências.
“Foram 7 dias de internação, 3 dias somente deitada, bem monótonos, porém, cercada de profissionais maravilhosos, enfermeiros e fisioterapeutas que me auxiliaram ainda no leito”, contou Mirella.
O HU-UFJF foi habilitado pelo Ministério da Saúde como Serviço de Atenção Integral à Saúde da População em Diversidade de Gênero em 2023. A partir daí, foi estruturada uma equipe multiprofissional, que conta com profissionais e residentes nas áreas de psicologia, serviço social, , enfermagem, fisioterapia, endocrinologia, cirurgia plástica, ginecologia e urologia.
Entre os procedimentos hospitalares/cirúrgicos oferecidos pelo Serviço de Atenção Integral à Saúde da População em Diversidade de Gênero estão:
Mastectomia (retirada de seios);
Histerectomia (retirada de útero);
Cirurgia de transgenitalização (construção de neovagina).
Como é a cirurgia
Conforme a ginecologista Carolaine Bitencourt, a cirurgia de redesignação sexual consiste na mudança de função urinária, evacuatória, sensitiva e motora, visto que todos os órgãos pélvicos externos e internos são reestruturados.
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Normalmente o período de internação é de 7 dias, sendo o pós-operatório inicial, com cuidados mais frequentes, previsto em torno de 90 dias, e total recuperação em 180 dias. Após este período, pode ser semestral e anual. Mas, no caso de intercorrências, este tempo pode variar.
O urologista José Murillo Netto, que também foi um dos cirurgiões responsáveis pela cirurgia em Mirella, explica que o procedimento de transgenitalização já é uma realidade em todo mundo, embora em poucos centros brasileiros:
“Poder realizar a cirurgia de transgenitalização traz uma grande mudança em suas vidas. Esse impacto é único e individual. Participar desse marco histórico foi uma grande honra, tendo a possibilidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas e realizando seus sonhos”, disse.
Também é fundamental o trabalho da fisioterapia pélvica, ligado diretamente à reabilitação do assoalho pélvico e suas disfunções.
“Quando pensamos na cirurgia de redesignação sexual, entendemos que a musculatura pélvica será readequada à sua nova inserção e função”, explica Priscila Almeida Barbosa, fisioterapeuta pélvica do HU-UFJF.
Mirella Lopez
Reprodução/Instagram
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