No mês do aniversário de 54 anos da primeira revista publicada, g1 conversou com cartunista e visitou a região para mostrar o que mudou – e o que permanece (quase) igual. Confira em fotos. Mauricio de Sousa lembra inspiração em bairro de Campinas para criar Turma da Mônica
Os telhados triangulares, a grama sempre verde e as árvores com copas cheias do bairro do Limoeiro, casa da Turma da Mônica, podem parecer restritas à imaginação. Mas, segundo Mauricio de Sousa, o cenário das aventuras que marcaram a infância de brasileiros foi inspirado em um bairro real de Campinas (SP): o Cambuí.
Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp
Neste mês de maio, que marca o aniversário de 54 anos da publicação da primeira revista da Turma da Mônica, o g1 conversou com o cartunista e visitou a região para mostrar o que mudou – e o que permanece (quase) igual – desde a década de 1970. Confira abaixo.
Vista aérea de Campinas, com destaque do Cambuí, na década de 1960 (à esquerda) e 2020 (à direita)
Initial plugin text
Por que o Cambuí?
A escolha do bairro que passou a ser o cenário das aventuras de personagens como Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha não foi ao acaso. Na década de 70, Mauricio de Sousa morava com a família em Campinas, no próprio Cambuí, e decidiu se inspirar no lugar que chamava de casa.
“Campinas era então mais tranquila e os prédios ficavam mais para o horizonte. O que gostei foi ver que havia muitas árvores frutíferas e arbustos nas ruas, logo imaginei que gostaria de ver meus personagens brincando naquelas ruas tranquilas e seguras”, lembra.
Em período de expansão, não demorou muito para que os prédios, então distantes, tomassem conta do cenário da metrópole nos anos seguintes. Para o cartunista, a ideia de um bairro arborizado e tranquilo para crianças permanece “congelada” nas histórias em quadrinhos até hoje.
[Nos anos 70] Pessoas preferiam andar pelas ruas a pegar seu carro para ir em lugares próximos. Procuro manter este cenário até hoje em minhas historinhas para mostrar às crianças que viver feliz não é só se fechar em casa jogando videogames. A vida é muito mais. Veja que nossos personagens também não ficam colados em celulares. Preferem conversar e brincar ao vivo e em cores.
Mauricio de Sousa, cartunista e criador da Turma da Mônica
José Alberto Lovetro
Diferente, mas ainda igual
Uma caminhada pela região do Cambuí em 2024 revela que, apesar de transformado, o bairro tem imóveis e cenários que resistiram ao passar do anos, ainda que com pequenas mudanças. É o caso da Praça Carlos Gomes, onde o coreto parece ter viajado décadas no tempo, intocado.
Praça Carlos Gomes, em Campinas, na década de 1970 (à esquerda) e 2024 (à direita)
Initial plugin text
As casas também contam uma história. Na esquina entre as ruas Antônio Cesarino e Ferreira Penteado, por exemplo, um casarão antigo, agora revitalizado, é ocupado por uma galeria com lojas, espaços de atendimento, restaurante e até um estúdio de tatuagem.
Rua Ferreira Penteado, em Campinas, entre 1969 e 1975 (à esqueda) e em 2024 (à direita)
Initial plugin text
Já na esquina entre as ruas Antônio Cesarino e General Osório, há um casarão desocupado que existe há mais de 50 anos. Atualmente, porém, a estrutura tem pichações nas paredes, portas e janelas, e fica parcialmente tampada por tapumes.
Residência na Rua Antônio Cesarino na década de 1970 (à esquerda) e 2024 (à direita)
Initial plugin text
Na Rua Padre Vieira, a passagem do tempo é denunciada por novos prédios ocupando a paisagem, além de carros com modelos mais modernos trafegando pela via. Ao centro da imagem, a vegetação ainda garante o seu espaço.
Rua Padre Vieira, em Campinas, entre 1957 e 1962 (à esquerda) e em 2024 (à direita)
Initial plugin text
Inaugurado em 1976, o Centro de Convivência de Campinas é um marco da cidade e passa por obras de revitalização que devem terminar em 2025. Ainda que a estrutura esteja fechada, a Praça Imprensa Fluminense, onde está localizada, recebe vistantes todos os dias.
Centro de Convivência, em Campinas, em 1983 (à esquerda) e 2024 (à direita)
Initial plugin text
Mobilização popular
As mudanças no bairro foram acompanhadas de perto pela gestora ambiental Tereza Penteado. Moradora do bairro há mais de 60 anos, ela decidiu criar uma ONG dedicada à preservação do Cambuí após finalizar um curso de patrimônio histórico e arquitetônico em 2003.
“Numa das conversas com o pessoal da classe, eles falaram ‘nossa, o que a gente pode fazer pelo Cambuí?’. Nós decidimos criar uma ONG para cuidar das árvores, do meio ambiente, e aí começou a ideia. […] A certa altura do campeonato, a gente conseguiu plantar quase 400 árvores no bairro”, conta.
Para a moradora, alguns dos maiores desafios enfrentados pela região são a falta de arborização e de áreas que possibilitem a drenagem da água, evitando alagamentos. Os apontamentos são reforçados pelo engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton de Aguirre Junior, que também faz parte da ONG.
“É uma área de grande circulação de pessoas e carros, então é uma área extremamente poluída, que precisa também de muita arborização. Outro grande desafio é a drenagem do local, porque perdeu todas as áreas permeáveis, de jardim e quintal. Os prédios precisam ter também muita área permeável, com jardim, com áreas novas para colaborar com essa dinâmica de chuva”, afirma Aguirre.
A cada cinco anos, a organização se mobiliza para fazer um levantamento completo de todas as árvores existentes no Cambuí, além de verificar a saúde de cada uma delas. “[O objetivo é] entender essa dinâmica e qual a consequência, principalmente no momento de emergência climática, da perda da arborização ou da transformação dela”, destaca o engenheiro florestal.
O que diz a prefeitura?
O g1 questionou a Prefeitura de Campinas sobre os problemas apontados pelos moradores, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Assim que a administração municipal se manifestar, o texto será atualizado.
VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas