Especialista analisam o potencial do live commerce no país, inspirados pelo sucesso chinês. Nos últimos anos, as lives de marketing ganharam destaque como uma ferramenta poderosa de engajamento entre marcas e consumidores. Impulsionadas pela pandemia de COVID-19, que restringiu eventos presenciais, empresas buscaram nas transmissões ao vivo uma forma de se conectar com o público, promover produtos e fortalecer a presença digital. Mas será que essa tendência veio para ficar no Brasil?
A popularização das lives foi notável em 2020 e 2021, com artistas, influenciadores e marcas realizando transmissões que alcançaram milhões de espectadores. Plataformas como Instagram, YouTube e Facebook se tornaram palcos virtuais para shows, lançamentos e campanhas promocionais. Grandes empresas investiram nesse formato, explorando sua capacidade de alcance e interação em tempo real.
“A live marketing representa uma evolução na forma como as empresas se comunicam com o público, oferecendo experiências mais imersivas e personalizadas”, explica Patricia Tendolini, coordenadora da Escola de Negócios do UniOpet. “No contexto brasileiro, onde a população é altamente conectada e engajada nas redes sociais, o potencial é enorme”.
Entretanto, com a gradual retomada das atividades presenciais, surge a dúvida: as lives de marketing continuarão a ser uma estratégia relevante ou perderão força? Patricia analisa os fatores que podem influenciar a permanência desse formato no cenário nacional.
“Acredito que as lives são muito mais que uma resposta circunstancial à pandemia, mas também uma evolução natural das estratégias de marketing digital. Elas oferecem vantagens próprias dela e que continuarão a ser exploradas pelas empresas”, opina a coordenadora.
O sucesso das lives de marketing na China e lições para o Brasil
Para entender o potencial das lives de marketing no Brasil, é válido olhar para a China, país que lidera essa tendência. Lá, o live commerce — combinação de comércio eletrônico com transmissões ao vivo — tornou-se um fenômeno massivo. De acordo com o Ministério do Comércio da China, em 2020 foram realizadas mais de 20 milhões de sessões de live commerce, gerando um faturamento de cerca de US$ 150 bilhões.
Um exemplo marcante é o surgimento de shoppings dedicados quase exclusivamente ao live commerce. Em algumas dessas estruturas, 99% das vendas provêm de lojas que utilizam os espaços como estúdios para transmissões ao vivo, enquanto apenas 1% resulta do fluxo físico de visitantes. “Esses shoppings foram projetados com essa finalidade, mostrando como a integração entre o espaço físico e digital pode ser inovadora e bem-sucedida”, comenta a especialista.
Esses empreendimentos funcionam como centros de produção de conteúdo, onde vendedores interagem com milhões de consumidores online, demonstrando produtos e fechando vendas em tempo real. “A China está redefinindo o varejo ao transformar lojas físicas em estúdios de live commerce, e isso está gerando resultados impressionantes”, observa a coordenadora.
A pergunta que surge é: o Brasil poderia seguir um caminho semelhante? Patricia acredita que sim, mas com adaptações culturais e estruturais. “Temos um mercado consumidor ávido por novidades e altamente conectado. No entanto, é preciso considerar as particularidades locais, como infraestrutura tecnológica e hábitos de consumo”, pondera.
Perspectivas e desafios para as lives de marketing no Brasil
O sucesso do live commerce na China oferece insights para o mercado brasileiro. “Podemos aprender com a experiência chinesa e adaptar estratégias que façam sentido para o nosso contexto”, sugere Patricia. Ela destaca que algumas empresas brasileiras já estão explorando o formato, mas ainda há muito espaço para crescimento.
Um dos desafios é a infraestrutura tecnológica. “Enquanto na China há uma ampla disponibilidade de internet de alta velocidade, no Brasil ainda enfrentamos desigualdades no acesso à conexão estável, o que pode limitar o alcance das lives em algumas regiões”, explica.
Outro aspecto é a cultura de consumo. “Os consumidores chineses estão habituados a comprar durante transmissões ao vivo, influenciados por hosts carismáticos e ofertas exclusivas. No Brasil, embora haja engajamento nas redes sociais, ainda estamos desenvolvendo essa cultura de compras via live”, analisa a coordenadora.
Patricia ressalta a necessidade de inovação e qualidade nas transmissões. “Para que as lives de marketing sejam eficazes, é fundamental oferecer conteúdo relevante, interativo e que realmente agregue valor ao consumidor. Isso inclui investimento em produção, treinamento de apresentadores e estratégias de engajamento”.
Além disso, ela aponta que a colaboração entre marcas, influenciadores e plataformas digitais é crucial. “Parcerias estratégicas podem ampliar o alcance e a eficácia das lives, conectando marcas a públicos específicos de maneira autêntica”.
Para as marcas brasileiras, o caminho pode ser adaptado, considerando as características do mercado local. “Investir em tecnologia, entender o comportamento do consumidor e buscar formas criativas de engajamento são passos importantes para o sucesso das lives de marketing no país”, finaliza a coordenadora da Escola de Negócios do UniOpet.