18 de novembro de 2024

Lula diz que governo de Maduro tem viés autoritário, mas não é uma ditadura: ‘Regime muito desagradável’

OEA, Estados Unidos, União Europeia e 21 países cobram a divulgação das atas eleitorais na Venezuela. Lula diz que a Venezuela tem um regime ‘muito desagradável’, mas não é uma ditadura
A Organização dos Estados Americanos, a União Europeia, os Estados Unidos e outros 21 países exigiram nesta sexta-feira (16) que a Venezuela apresente as atas da eleição presidencial. O presidente Lula disse que o governo de Nicolás Maduro tem viés autoritário, mas não é uma ditadura.
Na entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente Lula disse que discorda da nota do PT, divulgada no dia seguinte à eleição, em que o partido reconheceu a vitória de Nicolás Maduro, enquanto a oposição e a comunidade internacional já levantavam dúvidas sobre a lisura do pleito.
“Eu digo sempre para minha presidenta Gleisi Hoffmann: o dia que você tiver que criticar o governo, pode criticar. Não tem nenhum problema. Porque o dia que eu tiver que fazer as coisas, eu também não vou perguntar se o partido vai gostar. Eu vou fazer se for necessário”, disse Lula.
Repórter: Mas o senhor acredita na nota do PT?
“Não, eu não concordo com a nota. Eu não penso igual à nota. Mas eu não sou da direção do PT”, afirmou Lula.
Lula disse que não há uma ditadura na Venezuela, que o governo de Maduro é “desagradável” e tem viés autoritário.
Repórter: A Venezuela vive uma ditadura ou uma democracia?
Lula, presidente da República: A Venezuela vive um regime muito desagradável.
Repórter: É uma ditadura?
Lula: Não. Não acho que é ditadura. É diferente de uma ditadura, sabe…
Repórter: Por quê?
Lula: É um governo com um viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas ditaduras nesse mundo.
Lula diz pela primeira vez que não reconhece a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela
Na avaliação do professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Oliver Stuenkel, ao adotar uma posição mais crítica ao regime de Maduro, Lula indica que o governo brasileiro tenta não ficar isolado no cenário internacional.
“O Brasil também sentiu alguma pressão de também reconhecer que, neste momento, a Venezuela não é mais uma democracia. Ao mesmo tempo, uma parcela do Partido dos Trabalhadores, do qual o presidente do Brasil faz parte, apoia o presidente venezuelano, inclusive reconheceu prontamente sua ‘reeleição’. O Lula possui dois dilemas: por um lado, no âmbito internacional, que é quer deixar claro que ele não enxerga a Venezuela como democracia, mas, ao mesmo tempo, não quer fechar todas as portas para manter um diálogo aberto”, afirma Oliver Stuenkel.
O Brasil vai insistir, em parceria com a Colômbia, em uma saída negociada na Venezuela. Mas nesta sexta-feira (16), em duas frentes, grupos de países aumentaram as pressões contra Nicolás Maduro. Um dos movimentos foi organizado por chanceleres durante a posse do presidente reeleito da República Dominicana, Luis Abinader.
Estados Unidos, União Europeia e representantes de mais 21 países, como Paraguai e Argentina, assinaram um documento em que exigem a divulgação das atas de votação das eleições na Venezuela, requerem uma verificação imparcial e independente dos resultados e cobram o fim da repressão violenta à oposição e o respeito aos direitos humanos.
Na noite desta sexta-feira (16), a Organização dos Estados Americanos aprovou uma resolução no mesmo tom. A OEA cobra a preservação de todos os equipamentos usados no processo eleitoral, incluindo os resultados impressos das votações, além do respeito à liberdade de expressão, a garantia do pleno exercício de manifestação política e dos direitos civis. Por decisão de Nicolás Maduro, a Venezuela deixou a OEA em 2019.
Em outra iniciativa, um grupo de ex-presidentes e ex-chefes de governo da América Latina e da Espanha enviaram uma carta ao presidente Joe Biden. Eles afirmaram que Nicolás Maduro tenta ganhar tempo e rejeitaram a ideia de uma nova eleição. O grupo pediu ao presidente norte-americano para colaborar ativamente no sentido de por um freio no estado policial e repressor na Venezuela. O grupo também afirmou que a fraude eleitoral faz parte do claro propósito de Nicolás Maduro de continuar no poder, no controle de todos os poderes públicos da Venezuela.
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