27 de dezembro de 2024

Luzes e sombras de Belo se alternam em documentário sobre o cantor que fez escola no pagode dos anos 1990


♫ OPINIÃO
♪ O documentário sobre Belo justifica o sucesso que tem feito desde que estreou no Globoplay em 28 de novembro. Produção original da plataforma, em parceria com a produtora AfroReggae Audiovisual, a série documental Belo – Perto demais da luz prende a atenção ao longo de quatro episódios.
O maior mérito do documentário é perfilar Belo com toda a complexidade que envolve a trajetória e a alma do artista e do cidadão Marcelo Pires Vieira. Belo é incensado com toda razão como um dos grandes cantores do Brasil. Um cantor que, diga-se, fundou uma escola de canto no pagode quando foi projetado nacionalmente como vocalista do grupo Soweto ao longo dos anos 1990.
Belo é referência para pagodeiros que vieram no embalo do estouro da geração paulista revelada na década de 1990. Uma geração que, ela própria, foi um norte para toda uma juventude negra e periférica nascida na grande São Paulo (SP).
Belo veio ao mundo nessa cidade em 1974. Hoje com 50 anos, ele lutou muito antes de alcançar a fama. Quando o sucesso bateu à porta, o Marcelo se iludiu com o sucesso avassalador do Belo.
O apego às armas e a aproximação com as pessoas erradas levaram Belo para as páginas policiais dos jornais. Dessas páginas, ele saltou para a cadeia duas vezes, em junho de 2002 e em novembro de 2004, mês em que foi condenado por suposto envolvimento com tráfico de drogas, ficando preso até 2007.
Com produção de José Junior, direção artística de Jorge Espírito Santo e roteiro de Gustavo Gomes, a série documental não absolve Belo, mas tampouco o condena, procurando somente mostrar e comentar o que aconteceu na vida do Marcelo e na carreira do Belo, ainda que nem sempre fique claro se quem está em cena é um ou outro.
Os fatos são narrados e cabe ao espectador dar o veredito a partir dos depoimentos colhidos para o doc. Mas fatos são fatos. E um fato inquestionável é que Belo se reergueu. Muitos artistas na história da música brasileira foram do céu ao inferno. Mas nenhum voltou do inferno para o olimpo como Belo, um cantor de multidões, como comprovou neste ano de 2024 a turnê comemorativa dos 30 anos do Soweto. O show percorreu o Brasil desde abril com concorridas apresentações em grandes espaços. Aliás, números do show costuram os roteiros dos quatro episódios.
A luz do artista é posta em foco, mas as sombras também entram na narrativa que aborda questões como racismo, vaidades no meio artístico e deslumbramento com o sucesso, esse senhor tão ardiloso. E é isso que torna o documentário tão especial e cativante.
Os depoimentos de cantores, delegados, advogados, diretores de gravadoras, chefes de polícia, ex-mulheres e jornalistas sobre Belo se afinam ao apontar um artista e um cidadão de várias camadas. Somente Marcelo Pires Vieira talvez consiga decifrar o enigma que se tornou Belo.
Contudo, o documentário Belo – Perto demais da luz ilumina esse rico personagem e ajuda a compreender os caminhos que levaram Belo a transitar entre o céu e inferno com luz própria.

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