Cadeira de rodas da mulher não passou pela porta da sala de aula de uma escola em Praia Grande (SP). Mãe cadeirante assistiu à apresentação da escola da filha do corredor em Praia Grande, SP
A mãe cadeirante de uma menina de quatro anos denunciou a falta de inclusão e acessibilidade dentro de uma escola municipal de Praia Grande, no litoral de São Paulo. As imagens obtidas pelo g1 nesta sexta-feira (23) mostram Amabile Moniz, de 40 anos, assistindo à apresentação da filha Gabriella do corredor da unidade de ensino, pois a cadeira de rodas dela não passou pela porta.
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Amabile disse que sempre usou muletas devido à mielomeningocele, uma malformação da coluna vertebral e da medula espinhal que ocorre quando o tubo neural [estrutura que dá origem ao cérebro e à medula espinhal] não se forma corretamente durante a gravidez. Com a progressão da doença, há cinco anos ela começou a usar cadeira de rodas.
A mulher explicou que a filha entrou na Escola Municipal Idílio Perticaratti, no bairro Vila Antártica, no começo deste ano. Ao g1, ela contou que desde então enfrenta dificuldades para subir a calçada que da acesso à unidade de ensino, mas minimizou a situação.
A frustração, porém, aconteceu quando precisou entrar pela primeira vez na escola. Amabile ficou no corredor da unidade para assistir à apresentação da filha no evento do Dia das Mães, em 10 de maio. A cadeira de rodas não passava pela porta da sala de aula.
“Como mãe, fiquei super feliz em ver a minha filha. Era tão bonitinho que ela virava para cantar para mim. Porém, é doloroso saber que até o direito da minha filha de se apresentar voltada para os pais, como todos os colegas, foi rompido”, lamentou ela.
Menina de quatro anos virava para ver a mãe que não conseguiu passar com cadeira de rodas na porta de escola de Praia Grande (SP)
Arquivo pessoal
Reclamações
No Dia das Mães, Amabile preferiu não reclamar com a direção da escola. Em 6 de junho, porém, ao voltar para a reunião de pais, vivenciou o mesmo problema. Ao se queixar da falta de acessibilidade, disse ter ouvido da professora que os alunos estavam sendo ensinados sobre inclusão.
Amabile afirmou ter respondido à professora que foi deixada para fora da sala, mostrando aos demais pais que uma pessoa com deficiência não tem vez e não pode participar da reunião.
Desta vez, ela decidiu reclamar sobre a situação com a direção, que a surpreendeu com a resposta. “Ela [diretora] me ouvindo com cara feia, olhou para mim e falou: ‘Pensei que você era muito bem resolvida'”.
Mãe cadeirante teve que assistir à apresentação da filha do corredor de escola em Praia Grande (SP)
Arquivo pessoal
“Eu sou muito bem resolvida com a minha deficiência. Acho que o que ela não entendeu. É sobre inclusão e acessibilidade”, afirmou a mãe.
Nada mudou
Segundo Amabile, a diretora avisou aos pais que o evento do Dia dos Pais seria na área externa, o que de fato ocorreu. A mãe, no entanto, disse que o lanche após a apresentação foi realizado dentro da sala de aula, novamente impedindo o acesso dela.
“Estou me sentindo discriminada e excluída dentro da escola […]. Estava muito difícil passar por tudo isso calada, quieta e fingindo que está tudo bem”. Amabile informou que a filha é muito pequena e não percebe que a mãe não está participando dos eventos como os outros pais.
Mãe cadeirante denunciou falta de acessibilidade em escola de Praia Grande (SP)
Arquivo pessoal
O que diz a prefeitura?
Em nota, a Secretaria de Educação (Seduc) de Praia Grande informou que tem conhecimento dos fatos e vem adotando as providências necessárias. Entre as medidas, de acordo com a pasta, está a realização de atividades em outros espaços da escola.
Ainda segundo a Seduc, a equipe gestora da escola fez dois eventos no pátio para garantir a participação da mãe. “Ressaltamos o cuidado e preocupação da pasta municipal em garantir o acesso a todos”.
A Seduc informou que a rede municipal de ensino conta com quase três mil alunos com deficiência matriculados nas 78 escolas. Diante disso, segundo a pasta, as unidades são adaptadas com acessibilidade para atender os estudantes e o público em geral.
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