Filho autista inspirou a empresária Regiane Bragagnolo a abrir espaço em São Carlos. Como me virei: veja como ter um filho autista mudou a vida de uma mulher
Mãe atípica, a empresária Regiane Cardoso Bragagnolo decidiu abrir uma barbearia especializada em crianças autistas em São Carlos (SP), após acompanhar o sofrimento do seu filho João Antônio para cortar o cabelo.
O garoto de 7 anos é autista e tem hipersensibilidade. Ele se incomodava com o toque no cabelo e o barulho da maquininha ao ponto de vomitar.
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Regiane abriu uma barbearia especializada em crianças autistas em São Carlos
Rodrigo Sargaço/EPTV
“Quando eu comecei a cortar, ele era pequeno, eu levava numa barbearia de bairro, então ele não gostava de sentar na cadeira, eu tinha que sentar junto, colocava no colo, ele não aceitava a capa e começava a chorar, o cabelo caia na boca, ele vomitava, quantas vezes eu tinha que parar de cortar, dar banho, depois levava de novo. Chegou um ponto que eu estava cortando em casa, eu peguei uma maquininha e passava na cabeça a máquina inteira, mas era assim, aquela luta. O que para nós pentear o cabelo é fácil, para ele não é”, contou.
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João foi diagnosticado como autista aos dois anos após a família perceber que o garoto não comia direito e não falava. O autismo está ligado à variação de humor, comportamento e também de raciocínio.
João Antônio inspirou a mãe Regiane Bragagnolo a abrir uma barbearia especializada em autistas em São Carlos
Rodrigo Sargaço/EPTV
Ambiente familiar
De ambiente familiar, a barbearia veio com propósito de ajudar outras mães que passam pela dificuldade toda vez que precisam levar filhos que possuem alguma deficiência para o salão. Alguns autistas podem ter dificuldades para lidar com ruído, como é o caso da maquininha de cortar o cabelo.
A frente do serviço está o seu genro e João se sente mais seguro. Para distrair o garoto e as demais crianças atendidas, a proprietária utiliza brinquedos que são chamados de reforçador positivo.
“A sensibilidade dele é tão grande que incomoda o ponto de ser uma dor. A gente deixa o reforçador positivo na mão, que é um celular, ou liga a televisão para ele no Youtube que ele gosta, mas mesmo assim ele fica incomodado, quer que passe o secador, que tire aquele cabelo dele, então o barulho da maquininha deve incomodar, porque como ele não fala, a gente não sabe qual esse grau de dor. Mas a gente sabe que é uma necessidade aumentada”, contou.
Barbearia especializada em crianças autistas foi inaugurada neste ano em São Carlos
Rodrigo Sargaço/EPTV
Regiane comentou o ideal é os pais irem introduzindo os filhos aos poucos, por exemplo, passar na barbearia semanalmente e ir aumentado o tempo no local até a criança se adaptar e não estranhar. O salão conta com uma equipe de barbeiros treinados para cortes rápidos e acolhedores.
“Se é difícil pra mim, imagina para essas outra mães e pais. A gente faz uma adaptação gradual. Você vem um pouco, fica um pouco, senta aqui. Ele tem nesses brinquedos, tem a televisão, tem um tablet. Tudo assim, algo que goste, que seja prazeroso, que ele se sinta bem. A gente não deixa, por exemplo, a criança não gosta muito de ar, a gente diminui ou desliga. Ou a criança não está gostando daquele som, está alto, a gente vai e desliga. Então, os meninos são orientados para isso, é para dar esse suporte”, contou.
Vapt-vupt
O corte é realizado rápido para não estressar as crianças e confiança vai crescendo aos poucos. Hoje muitos clientes-mirins já se sentem em casa.
O barbeiro Matheus Marino contou que apesar de ser um pouco mais difícil fazer o corte devido à hiperatividade de alguns, quando ganha a amizade dos pequenos é só alegria.
“Muitos são hiperativos e é preciso ter paciência, antes para cortar o cabelo do Miguel era preciso dois barbeiros para eu finalizar. Hoje ele pegou confiança na gente e é tudo melhor”, disse.
João Miguel se adaptou na barberia de São Carlos e agora gosta de cortar o cabelo
Rodrigo Sargaço/EPTV
Criseide Cardoso é mãe do João Miguel e comentou que o jeito dos barbeiros lidarem é um diferencial.
“Hoje nesse ambiente ele está se sentindo mais tranquilo para cortar, embora ele só deixe uma pessoa para cortar, para gente já é um avanço. O barbeiro tem um jeito de lidar com as crianças, isso é muito importante e está dando tudo certo”, comentou.
João Miguel concorda: “Os meninos são legais e eu fico bonito”, disse.
A barbearia fica na Rua Alberto Lanzoni 127 no Parque Santa Felícia em São Carlos.
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