Carlos Teixeira, de 13 anos, morreu após sofrer três paradas cardiorrespiratórias na Santa Casa de Santos (SP). Família diz que menino sofria bullying de colegas em Praia Grande (SP). Mãe de Carlinhos fala pela primeira vez sobre a morte do filho
Arquivo pessoal e Reprodução/TV Tribuna
A mãe do adolescente Carlos Teixeira, de 13 anos, que morreu uma semana após dois estudantes pularem sobre as costas dele dentro de uma escola estadual em Praia Grande, no litoral de São Paulo, falou pela primeira sobre a morte do filho. Ela afirmou que espera que a história de Carlinhos ajude outras crianças que sofrem bullying, mas lamentou as críticas que recebeu por não ter se posicionado antes.
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“As pessoas falando que foi minha culpa. Como que eu imaginar que uma coisa dessas iria acontecer? Como eu imaginar que uma criança iria matar meu filho?”, lamentou Michele de Lima Teixeira.
Carlos Teixeira morreu após sofrer três paradas cardiorrespiratórias, no último dia 16, quando estava internado na Santa Casa de Santos (SP) . O jovem precisou de atendimento médico após dois meninos pularem nas costas dele em 9 de abril, na Escola Estadual Júlio Pardo Couto.
Em entrevista à TV Tribuna, emissora afiliada da Globo, Michele contou que percebeu que o filho estava sofrendo bullying quando o menino relatou que precisava ficar forte para enfrentar os estudantes da unidade de ensino.
Ela contou que sugeriu para o filho que ele mudasse de escola, mas Carlos negou a proposta da mãe pelos amigos. “Ele falou assim: ‘Mãe, eu não quero sair porque eu sou o maior da minha turma […] Eu vou ficar lá pra defender eles [colegas de classe]”, lembrou ela.
Michele ainda não voltou para casa onde morava com a família. De acordo com ela, os cômodos da residência a fazem lembrar de Carlinhos, principalmente, nos últimos dias de vida em que ele chorava de dor após os dois meninos pularem nas costas dele.
Para Michele, devem responder pela morte de Carlinhos: a diretoria da escola, os meninos que fizeram bullying e o Pronto-socorro Central, onde o filho foi atendido cinco vezes e liberado em todas elas.
Ela também disse acreditar que a história do filho cairá no esquecimento. “Eu não acredito que venha a acontecer nada com essas pessoas”, disse.
“Meu filho tem uma história e uma família. O vazio vai ficar para sempre e ninguém vai sofrer nada porque eu não acredito [na Justiça]. Mas eu acredito que cada um colhe o que planta”, disse a mãe.
Carlos Teixeira, de 13 anos, foi agredido por estudantes em Praia Grande (SP)
Arquivo Pessoal
Carlos Teixeira
O adolescente no último dia 16, na Santa Casa de Santos. O pai dele, Julisses Fleming, afirmou que o filho era saudável e acredita que a morte aconteceu em decorrência da agressão sofrida. Segundo apurado pelo g1, o caso foi registrado na Polícia Civil e a causa da morte ainda está sendo investigada.
Julisses afirmou que os médicos disseram que a suspeita era de que a causa da morte seria uma infecção no pulmão. Em nota, a Santa Casa de Santos confirmou a transferência da UPA Central, mas disse não ter autorização para dar mais informações sobre o caso.
O g1 teve acesso à declaração de óbito de Carlos Teixeira, que apontou a causa da morte como: broncopneumonia bilateral. O documento servirá como ‘base’ para o atestado de óbito, que pode apontar a morte em decorrência de agressões, e que leva de 30 a 90 dias para ficar pronto (confira, mais adiante, a explicação de um médico)
Menino morto após ser agredido em escola chorou em casa relatando caso ao pai
Reprodução
Últimas palavras
As últimas palavras de Carlos Teixeira foram sobre o medo que ele tinha de morrer. Julisses contou à equipe de reportagem que, no hospital, mesmo com fortes dores nas costas e dificuldades para respirar, o menino agradecia aos médicos e a Deus.
Minutos antes de Carlos morrer, no entanto, o homem contou ao g1 que precisou acalmá-lo. O adolescente passou a dizer repetidamente que tinha medo de partir. “Me sinto acabado e destruído”, afirmou o pai.
Médicos
Declaração de óbito de adolescente em Praia Grande (SP) traz como causa da morte uma broncopneumonia bilateral
Reprodução
Ao g1, o médico clínico Carlos Machado explicou o que é uma broncopneumonia bilateral. Segundo ele, trata-se de uma infecção ‘mais ampla’ do que uma pneumonia, que normalmente é causada por vírus e pode se agravar por uma bactéria nos dois pulmões.
Antes da declaração de óbito, a pedido do g1, Carlos Machado e o também médico clínico Marcelo Bechara analisaram o caso com base nas próprias experiências profissionais e nas informações passadas pela equipe de reportagem.
Ambos afirmaram que o excesso de peso nas costas pode ter levado a um trauma — lesões causadas por um evento traumático externo ao corpo e que acontece de forma inesperada.
De acordo com Carlos Machado, o trauma pode ter sido uma fratura ou esmagamento da vértebra na coluna cervical, torácica e até na costela.
“Se ele estiver com uma dessas lesões, […] podia estar furando o pulmão, o que dificulta a respiração e, respirando menos, faz com que tenha secreção acumulada, que é uma infecção pulmonar”, afirmou o profissional.
Marcelo Bechara acrescentou que, pelo mesmo motivo, ocorre uma parada cardiorrespiratória. “O excesso de peso nas costas podem ter levado a um trauma que pode levar a um pneumotórax […], [quando] o pulmão não consegue ventilar e uma hora chega a parada cardíaca mesmo”, disse ele.
Seduc-SP, sobre Carlos Teixeira
Vídeo mostra adolescente sendo agredido em escola no litoral de SP
A Secretaria de Educação do Governo de São Paulo informou que o vídeo da agressão foi gravado no dia 19 de março. “A Pasta repudia toda e qualquer forma de agressão e de incitação à violência dentro ou fora das escolas. Na época, ao tomar ciência do caso apresentado, a gestão escolar acionou Conselho Tutelar e os responsáveis do aluno. Também registrou o ocorrido no aplicativo do Conviva”.
A Seduc ainda afirmou que lamenta profundamente o falecimento do estudante. “A Diretoria de Ensino de São Vicente instaurou uma apuração preliminar interna do caso e colabora com as autoridades nas investigações”.
A Prefeitura de Praia Grande disse que lamenta profundamente a ocorrência com um aluno da Escola Estadual Júlio Pardo Couto, no Bairro Nova Mirim. A Administração municipal se solidariza com os familiares e amigos do jovem.
A Prefeitura solicitou junto a secretaria de Estado uma apuração completa dos fatos, já que a unidade de ensino é estadual. A administração municipal explicou ainda que também já está analisando todos os procedimentos adotados no atendimento efetuado no pronto-socorro da Cidade.
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