Goldiene da Silva, de 38 anos, transformou uma atividade de mãe e filha em fonte de renda no Conjunto Habitacional Macapaba e sonha em continuar e expandir o trabalho que está temporariamente fechado por questões financeiras e de saúde. Goldiene Fernandes, dona do brechó Kids Golden e a filha Sofia da Silva, de 7 anos
Isadora Pereira/g1
A pedagoga Goldiene Fernandes da Silva, de 38 anos, transforma bonecos que seria descartados em belas peças.
O trabalho da amapaense aos poucos se transformou em pequeno empreendimento informal no Conjunto Habitacional Macapaba, na Zona Norte de Macapá, onde a pedagoga mora com a filha de 7 anos, Sofia Gabriela da Silva.
O trabalho de restauração do ‘Brechó Kids Golden’, é dedicado à filha da Goldiene e surgiu a partir de uma atividade feita entre elas, sendo a restauração de bonecos que seriam dispensados.
O brechó surgiu em 2020, durante o período da pandemia. Quando Goldiene precisou largar o trabalho na região ribeirinha de Apurema, no interior do Amapá, para o tratamento de lúpus e fibromialgia em Macapá.
Na mesma época, ela estava passando por um episódio de depressão e ansiedade, além de ter perdido todos os dentes, parte da visão temporariamente e o movimento das pernas por conta das doenças autoimunes.
“Eu me sentia muito triste, muito pra baixo, não podia ajudar, não podia trabalhar. E não dava para comprar meu remédio”, disse Goldiene.
Por conta deste momento difícil com remédios caros e sustento da família, Goldiene precisava de uma renda extra. Foi quando viu através na internet, uma mulher vendendo um fardo de brinquedos velhos.
“Eu já tinha uma paixão desde pequena por ter um brinquedo que eu não podia ter na infância, pedi pro meu pai R$ 500 emprestado pra eu comprar um fardo e pensei em restaurar com as minhas filhas”, disse
A restauração de brinquedos era um processo que já costumava fazer com as bonecas de suas filhas e pensou em transformar isso, em um empreendimento direcionado às crianças e adultos do Conjunto Macapaba, que assim como ela quando mais nova, por ser uma criança de origem humilde do interior, não possuía condições financeiras para comprar um brinquedo novo e costumava fazer os seus próprios brinquedos a partir de latas ou outros materiais descartados.
A primeira venda de Goldiene foi um pedido especial de sua mãe, após isso, ela seguiu na busca de mais brinquedos para a restauração e venda.
A mãe da empreendedora está internada atualmente e Goldiene ainda enfrenta crises de diversos problemas de saúde. Em depoimento ao g1, ela disse que precisou interromper o sonho de continuar com o brechó recentemente, por conta das adversidades.
“Era meu sonho, né? Ter continuado com meu brechó, porque era um sonho ter meu próprio negócio, minha lojinha, mas infelizmente tive que parar pela situação da saúde, por também amor a minha mãe, que no momento precisa muito de mim. Mas meus clientes ainda me procuram”, disse.
Ela contou com emoção, que o Brechó foi uma mudança de vida, mesmo que mínima, ajudando financeiramente e psicologicamente e lamentou a pausa.
“Eu encontrei nos brinquedos o amor, esse carinho e olhar todo dia para o meu brechózinho parado, bate uma tristeza no meu coração”, disse.
Goldiene disse que foi atrás de tornar o brechó um empreendimento legalizado, mas não possuía condições para investir, por conta do sustento da casa e suas medicações.
Goldiene contou que recebe doações de brinquedos usados por crianças que não os querem mais, mas que a procuram pra que ela reforme e leva alegria para outra pessoa que gostaria de receber o brinquedo.
Restauração e venda
Bonecas passam por ‘salão de beleza’ antes de ir à venda
Isadora Pereira/g1
A empreendedora e sua filha de 7 anos, explicaram o processo de tratamento de ‘salão de beleza’ que os brinquedos recebem antes de ir à venda, que é organizado em 4 passos.
Passo 1: é dado um bom banho na boneca e quando está muito riscada de caneta, se torna pouco mais demorado, com a necessidade de usar uma pomada especial, comprada em farmácia.
Passo 2: após este procedimento vem a preparação do cabelo, que quando está muito atrapalhado é colocado em água quente com uma mistura de amaciante, que de acordo com a empreendedora, deixa os cabelos macios e cheirosos.
Passo 3: a empreendedora contou que muita das vezes, as bonecas chegam sem os braços ou pernas, a partir daí, ela vai atrás de outras peças que se encaixam, formando um novo brinquedo.
Passo 4: outra etapa do processo é a roupa, os bonecos geralmente chegam sem as vestimentas, mas isso não é uma dificuldade para a pedagoga, que tem limitações com máquina de costura então confecciona diferentes ‘looks’ à mão.
Outra estratégia para as roupinhas, foi uma negociação com uma de suas clientes que faz tricô, ela produziu diversas peças para a empreendedora, em troca de outros brinquedos do brechó.
Brinquedos do Brechó Kids Golden
Isadora Pereira/g1
Sofia, a filha da empreendedora, disse que seu momento favorito é a hora do ‘salão de beleza’ com as bonecas, que se torna ainda mais especial com a sua mãe.
“A gente dá banho nelas, veste a roupinha e elas ficam muito bonitas e eu fico muito feliz, eu e minha mãe gostamos que as outras crianças fiquem felizes também quando compram um brinquedo bem arrumado”, disse Sofia.
A empreendedora dedica o brechó à sua filha mais nova, que ama restaurar os brinquedos.
Isadora Pereira/g1
Os valores dos briquedos variam entre R$ 5,00, R$ 10,00 até R$ 20,00, valores mais altos são cobrados caso o brinquedo seja muito grande. O brechó presencial funciona na casa de Goldiene, com um espaço em sua mesa e sofá para os brinquedos, que são a ‘vitrine’ do pequeno empreendimento.
A entrega pelos clientes que pedem pela internet é feita pela filha mais velha da empreendedora, Jhenifer da Silva, de 18 anos, que vai a pé a casa dos moradores do Macapaba e de ônibus quando o local é mais distante.
Brechó físico de Goldiene é na própria casa
Isadora Pereira/g1
O sonho de empreender
Goldiene no evento ExpoFavela em 2023
Arquivo Pessoal/Goldiene da Silva
Em dezembro de 2023, Goldiene participou do evento ExpoFavela e conseguiu apresentar o seu trabalho. Mas no dia em que seria feita a escolha dos dez participantes que partiriam à São Paulo, sua mãe deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Goldiene participou do evento mas sua mente estava na saúde de sua mãe e ela acabou não sendo escolhida para a próxima etapa.
“No dia da feira, eu tinha que estar com aquele sorriso no rosto preparada para não demonstrar o que eu sentia. Que a mamãe estava lá, lutando pela vida no hospital. Eu não fui uma das escolhidas, mas foi muito importante para mim, participar naquele momento”, contou Goldiene.
Quando a mãe adoeceu, ela vendeu e doou a maioria brinquedos e desde então encontrou dificuldades para conseguir novos.
A filha mais nova segue tentando vender os poucos brinquedos que restaram através da internet.
“Ela ainda faz as vendas pontuais em posts no whatsapp quando precisa de um dinherinho extra pra comprar algo que ela precisa”, disse Goldiene.
Goldiene é formada em pedagogia e trabalhava como cuidadora de idosos em Macapá e já atuou na agricultura no interior do estado.
Na conversa com o g1, a amapaense deixa em destaque que o maior sonho é se tornar uma empreendedora de muito sucesso, através de seu ‘brechózinho’, como o chama, e comprar um sítio em Apurema, onde morava.
Ela diz que deseja que a filha continue o legado de empreender e levar a felicidade às outras crianças e adultos com esse trabalho.
Mesmo com as dificuldades, Goldiene disse que não vai desistir do seu sonho tão cedo e que vai lutar pelo brechó enquanto puder.
📲 Siga as redes sociais do g1 Amapá e Rede Amazônica: Instagram, X (Twitter) e Facebook
📲 Receba no WhatsApp as notícias do g1 Amapá
Veja o plantão de últimas notícias do g1 Amapá
VÍDEOS com as notícias do Amapá: