UFPA tem 55 mil estudantes, e mais de 75% se autodeclaram negros; reitor Gilmar Pereira da Silva destaca a importância de pessoas pretas em cargos estratégicos. Campus da UFPA no bairro do Guamá, em Belém.
Divulgação
No cargo máximo da maior universidade pública da Amazônia há um mês, o professor Gilmar Pereira da Silva destaca que 36.878 mil estudantes cotistas negros já entraram na Universidade Federal do Pará (UFPA) desde a adoção do sistema de cotas, em 2008.
A universidade conta, atualmente, com 55.501 alunos de graduação, sendo que 41.969 são negros, incluíndo cotistas e não cotistas.
O 14º reitor da UFPA e o primeiro que se autodeclara preto desde a criação da instituição, em 1957, afirma que é uma conquista ter pessoas negras em lugares estratégicos.
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Eu acho que nossa tarefa, de pessoas que são discriminadas de toda ordem, é nos colocarmos como uma referência para o conjunto da comunidade ao assumirmos esses cargos
Graduado em pedagogia, especialista em história da Amazônia e mestre e doutor em educação, Gilmar Pereira da Silva tem 62 anos e nasceu em Governador Archer, no Maranhão.
Reitor da UFPA, Profº Dr. Gilmar Pereira da Silva.
Alexandre de Moraes/Ascom UFPA
À frente da UFPA até 2028, o novo reitor diz que a grande tarefa é transformar a universidade em um espaço de liberdade, com pessoas de todas as cores, pensamentos e opções sexuais.
A universidade ter um reitor negro é muito importante para os estudantes negros daqui, que podem dizer: ‘se o professor Gilmar, que é negro como a gente e tem uma origem Popular se tornou o reitor, eu também posso!’
Inclusão racial
O professor Gilmar afirma que a partir de dezembro deste ano a Assessoria de Diversidade será transformada em uma Superintendência de Diversidade. A medida, segundo ele, é para reforçar a estrutura administrativa da pasta.
A superintendência será comandada pela professora Zélia Amador de Deus, professora emérita da UFPA e uma das responsáveis pela implantação das cotas na instituição, além de ser uma das fundadoras do Centro de Estudos e de Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), criado na década de 80.
Professora Zélia Amador de Deus.
Oswaldo Forte /Ascom UFPA
Os nossos olhares sobre o mundo só nós sabemos, porque ninguém dá conta de saber o quanto nós somos afetados pelos preconceitos de toda ordem
Gilmar Pereira da Silva releva ainda que uma das metas, no futuro, é elevar a superintendência à condição de Pró-Reitoria de Igualdade e Inclusão Racial.
Para Nilma Bentes, ativista que também ajudou a fundar o Cedenpa, a educação e a cultura são instrumentos importantes no combate ao racismo.
“A gente (o Movimento Negro) tem atuado fundamentalmente na questão educação, porque nós precisamos que as próprias pessoas não precisem ser defendidas, que elas próprias saibam seus direitos e cobrem na medida em que forem discriminadas”, explica.
Alunos em vulnerabilidade
No Pará há mais de 40 anos, Gilmar diz que em torno de 7 mil estudantes da UFPA vivem em profunda vulnerabilidade, mas que apenas 4 mil são atendidos pela instituição, por conta da limitação orçamentária.
A responsabilidade de um reitor é convencer o Estado brasileiro que se a gente quiser fazer com que os nossos talentos sejam cada vez mais realçados, o Estado precisa investir mais e nós vamos brigar para isso
Uma pesquisa realizada em 2019 pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) revelou que alunos com renda familiar per capta de até R$ 1.431 representavam 70,2% dos alunos das universidades federais brasileiras.
Ainda segundo a pesquisa da Andifes, na época da pesquisa, 51,2% dos estudantes das universidade se identificava como negro.
Para o reitor, esse número de 70,2% aumenta ainda mais quando a análise é feita em instituições situadas na Região Amazônica ou no Marajó. Diante deste cenário, o professor pretende criar a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil e mais restaurantes universitários.
Restaurante Universitário da UFPA, em Belém.
Alexandre Moraes/Ascom UPFA
“Uma das coisas que eu vou fazer nesse mandato é garantir alguma condição de alimentação para os estudantes dos campi do interior. Essa é uma política importante. Nós estamos também transformando a Superintendência de Assistência Estudantil em uma Pró-Reitoria”, explica.
Gilmar afirma que a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil será a pasta com maior orçamento. De acordo com o reitor, em torno de 30 milhões serão investidos especificamente em alimentação.
Fortalecer o ensino superior
Durante a coordenação do campus universitário do município de Cametá, no nordeste do Pará, e nos oito anos no cargo de vice-reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva sempre defendeu a interiorização do ensino superior.
Atualmente, a UFPA possui campi instalados em Abaetetuba, Altamira, Ananindeua, Belém, Bragança, Breves, Cametá, Capanema, Castanhal, Salinópolis, Soure e Tucuruí.
Gilmar Pereira da Silva, reitor da UFPA.
Divulgação/UFPA
O professor afirma que a proposta da nova gestão é, primeiramente, fortalecer a estrutura dos atuais 12 campi e das dezenas de polos espalhados em vários municípios do Pará.
“Temos uma estrutura boa em Tomé-Açu, uma estrutura também muito legal em Mocajuba e em Baião. Então, a gente quer fortalecer essa política de polos”, defende.
O reitor diz que o orçamento da UFPA tem sido menor do que a correção da inflação nos últimos anos e que a maioria absoluta dos recursos está atrelada apenas à manutenção da universidade.
Mesmo diante dos desafios financeiros, aqui na Amazônia, nós vamos fazer avançar a universidade”, reforça
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