16 de novembro de 2024

Maioria dos candidatos no PI não divulgou orientação sexual e menos de 1% se identifica como LBGTQIA+: ‘falta de apoio e intolerância’

Pesquisador acredita que a inclusão deve se expandir e ser utilizada, no futuro, para identificar também a orientação sexual dos eleitores ao obterem o título eleitoral, como aconteceu com o nome social e a identidade de gênero.
Bandeira LBGTQIA+ na Ponte Estaiada, em Teresina
Lorena Linhares/g1
Neste ano, pela primeira vez, os candidatos às eleições puderam identificar sua orientação sexual no registro de candidatura. Contudo, no Piauí, a maioria optou por não registrar a sexualidade e, dos que informaram, menos de 1% se identificou como LBGTQIA+.
O número, segundo pesquisadores, não representa a realidade. Ao g1, o doutorando em direito e membro da Aliança Nacional LGBTI+, Marcos Heleno, afirmou que existirem números candidatos, inclusive políticos já eleitos, que são LGBTQIA+, e preferem não revelar sua sexualidade.
✅ Siga o canal do g1 Piauí no WhatsApp
“Eles preferem permanecer ‘no armário’ devido ao receio de perder apoio de suas bases eleitorais religiosas e conservadoras, e não serem eleitos. Mais ainda, as pessoas abertamente LGBTQIA+ têm sofrido com falta de apoio partidário, financeiro, e com o sistemático ataque estigmatizante dos adversários e grupos que se baseiam na intolerância à diversidade sexual e de gênero”, explicou.
Em um universo de 8.913 candidatos no Piauí, 5.195 (58,29%) optaram por não divulgar a orientação sexual. Dos 3.718 (41,71%) que declararam, 3.681 (99%) se identificaram como heterossexuais e 34 como LBGTQIA+, sendo 14 (0,38%) gays, 11 (0,3%) lésbicas e nove (0,24%) bissexuais. Juntos, eles representam 0,92% dos candidatos aos cargos eletivos nas Eleições 2024.
Compartilhe esta notícia no WhatsApp
Compartilhe esta notícia no Telegram
“Por convicção íntima, ou, infelizmente, em virtude de crendice religiosa, ou, ainda, devido à violenta intolerância que ainda persiste no seio social e nos locais e bases onde as candidatas, candidates e candidatos buscam obter o voto de seu eleitorado, nem todo indivíduo, em especial, o LGBTQIA+, está disposto a revelar questões atinentes à sua sexualidade”, disse o pesquisador.
Marcos Heleno ressaltou que a subnotificação também pode ter ocorrido por ser a primeira vez em que existe essa opção e nas próximas eleições, por exemplo, pode haver a percepção de que esse direito é uma conquista de fato, também do ponto de vista social, por informar mais a sociedade.
“Os dados de orientação sexual permitem fazer com que o eleitorado LGBTQIA+ veja que também tem a possibilidade de votar ou de se candidatar e, quem sabe, ao ser eleito, atuar como representante político, como qualquer outra pessoa da sociedade, mesmo tendo sexualidade diversa”, explicou.
O pesquisador afirmou que essa é uma política pública eleitoral que a Constituição Federal de 1988 impõe à Justiça Eleitoral, e que visa retirar esse grupo da excludente e inaceitável invisibilidade política.
“É um importante instrumento didático de dizer para o restante da sociedade que as Eleições permitem e requerem o envolvimento de todas as pessoas, inclusive daquelas que possuem sexualidade diferente do que era considerado padrão e único existente”, explicou.
“Não é raro, um candidato heterossexual tradicional fazer propaganda se dizendo casado e mostrando sua esposa e filhos e filhas. O mesmo deve valer para um homossexual que ao expor seu matrimônio com seu esposo e filhos e filhas, expõe um atributo e vínculo positivo, como uma forma de buscar demonstrar ser uma pessoa digna e capaz como qualquer outra”, completou.
LEIA TAMBÉM
42 mil piauienses se declaram homossexuais ou bissexuais, diz IBGE; ONG contabiliza 300 mil
Jovens estudantes são as principais vítimas de crimes contra a população LGBTQI+; veja o perfil
Marcos Heleno acredita que a inclusão deve se expandir e ser utilizada, no futuro, para identificar também a orientação sexual dos eleitores ao obterem o título eleitoral, como aconteceu com o nome social e a identidade de gênero, que inicialmente só eram possíveis no registro de candidatura.
“É papel da Justiça Eleitoral fortalecer a democracia brasileira. Não há como criar políticas públicas de incentivo à inclusão e reconhecimento da cidadania de grupos severamente banidos do universo eleitoral e político, sem saber quem são, se existem, ou seja, sem contabilizá-los”, pontuou.
O pesquisador destacou que a conquista da identificação da orientação sexual nos registros de candidatura é apenas o começo. “Ainda há a necessidade de muito esforço, luta e pressão por parte da sociedade e do Estado a fim de fazer valer a ideia de que candidaturas de pessoas LGBTQIAPN+ também podem ser uma escolha viável, tanto quanto pessoas de sexualidade tradicional”, declarou.
📲 Confira as últimas notícias do g1 Piauí
📲 Acompanhe o g1 Piauí no Facebook, no Instagram e no X
VÍDEOS: Assista às notícias mais vistas da Rede Clube

Mais Notícias