A pedido do g1, o Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, fez o levantamento com dados do Inpe. 111 cidades brasileiras tiveram mais de 5 meses de calor extremo em 2024
Um levantamento exclusivo do g1 revelou que dezenas de cidades brasileiras tiveram o equivalente a cinco meses de calor extremo em 2024.
Foi só a onda de calor estacionar sobre o Rio Grande do Sul para muitos gaúchos correrem atrás de uma sombra para se proteger.
“Está horrível. Só tomando água mesmo. E gelada. Água gelada e sorvete”, diz a aposentada Marina Nascimento.
Os brasileiros têm sentido na pele o aumento das temperaturas. E os pesquisadores confirmam o que se tornou senso comum. Em 2024, o ano mais quente da história, 6 milhões de moradores de 111 cidades enfrentaram mais de 150 dias de calor extremo. A pedido do g1, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) fez o levantamento com dados do Inpe.
“A gente teve um ano, mais de 24 meses de condição seca, principalmente na região Norte, parte do Sudeste, Centro-Oeste, que também contribui com calor. O calor e a seca se retroalimentam”, afirma Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden.
A temperatura é considerada extrema quando é maior do que a máxima nos último 24 anos de medições em um determinado dia. O estado que mais sofreu foi o Pará. Os moradores de Melgaço enfrentaram o pior cenário: 228 dias com calor extremo. A máxima foi 38ºC. Isso em um município que tem o IDH mais baixo do país. O Índice de Desenvolvimento Humano considera indicadores de saúde, escolaridade e renda.
Em seguida no ranking, vem Belém com 212 dias. É lá que, em novembro de 2025, líderes mundiais vão debater as mudanças climáticas na COP 30.
Mais de 6 milhões de brasileiros viveram mais de 5 meses de calor extremo em 2024
Jornal Nacional/ Reprodução
Todas as cidades enfrentaram pelo menos um dia com temperaturas extremas. Em São Paulo, foram 100 dias de calor acima das máximas históricas.
“Eu tenho pressão alta. E ela sobe. Hoje mesmo está abafado. Você vê que choveu, mas está abafado”, conta a diarista Marinalva Ferreira.
“Está igual no Pernambuco. Está fazendo mais calor do que frio”, diz o gari Severino Alexandre da Silva.
Veja o que esperar do clima para o Brasil em 2025
A pesquisadora do Cemaden, Ana Paula Cunha, diz que uma das causas do calor extremo foi o El Niño, que agravou a seca e intensificou as queimadas no país. Mas o fenômeno não explica tudo.
“Nós sabemos também que o desmatamento, a remoção de cobertura vegetal, sobretudo florestas mais densas, para pastagens, contribui também para aumento de temperatura local. Então, nós temos: oceano contribuindo, oceano Atlântico por meio do fenômeno El Niño, contribuindo; mas nós não podemos esquecer da grande causa global que é o aquecimento global em razão da emissão dos gases de efeito estufa. Então é um combinado de fatores que levou a essa situação”, explica Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden.
Corumbá, em Mato Grosso do Sul, encarou calor de até 43ºC.
“É um sol para cada um. Aqui só sobrevivem os fortes. Fazer o quê? Tem que aguentar”, diz a emprega doméstica Sirlei Borges.
LEIA MAIS:
Exclusivo: 6 milhões de brasileiros viveram 5 meses sob calor extremo em 2024; veja mapa
Rio Grande do Sul registra maior temperatura da história no estado
Estudo relaciona calor extremo a aumento da mortalidade em hospitais