7 de janeiro de 2025

Maju entrevista viúvo de Ney Latorraca, que celebra obra do ator

Edi aponta que apesar de levar alegria aos palcos e telas, Ney era muito sério no trabalho. Ele lembra de uma piada que ele fazia em relação ao uma cena icônica do cinema brasileiro, ao lado de Tarcísio Meira. Sedutor, rebelde e eterno: Ney Latorraca fez de um vampiro o símbolo de sua arte
Essa semana, o Brasil perdeu um dos maiores nomes da história da TV e do teatro. Ney Latorraca, o eterno vampiro Vlad, será sempre lembrado pela irreverência. Ontem, Edi Botelho, viúvo de Ney, recebeu Maju na casa dele e contou como era conviver com esse talento.
Oitenta anos de vida. Mais de cinquenta de carreira. Um ator que nos divertiu ao longo de muito tempo.
Maju: “Edi, eu te agradeço demais por você nos receber nesse momento de luto, mas acho que também essa é uma oportunidade para a gente celebrar um ator, uma pessoa que acreditava na alegria. Ney dizia que a missão dele era levar alegria para as pessoas?”
Edi: “Verdade. Ele falava isso mesmo e ele era essa pessoa, sim. A gente se divertiu muito. A gente teve trinta anos de um casamento. É muito tempo. Desculpa. É difícil.”
Ney Latorraca e Edi Botelho se conheceram quando Ney foi convidado para um papel em uma peça em que Edi atuava. A partir daí contracenaram em vários espetáculos. E um dirigia o outro.
“Eu fiquei fascinado por ele. E acho que ele também por mim, sabe. E aí começou. “‘Ah, vamos jantar hoje?, vamos em tal lugar. E aí não teve como.”
Maju: “O Ney nasceu em 1944, que é um ano antes da Segunda Guerra Mundial. Ele batalhou pra se formar como ator e ele sempre falava sobre disciplina no ofício dele, mas também ele tinha uma desobediência, no sentido da irreverência, da subversão. Como você avalia esses Neys, o disciplinado e o indisciplinado.
“Edi : Na verdade, assim, ele era muito sério no trabalho. Muito sério. Tanto é que ele conta. Ele se formou na EAD de São Paulo, a Escola de Arte Dramática, com dez em comédia e dez em drama. E nunca faltou. Ele teve prêmio de frequência. Só que o Ney era essa pessoa irreverente. Então, ele trazia isso para os personagens. A personalidade dele tava sempre na frente. E eu acho que é isso o sucesso dele.
A última aparição de Ney na televisão foi como o vampiro conde Vladimir Polanski, na série Cine Holiúdi, de 2019, inspirada no filme com o mesmo nome.
“Quando disseram, vai ser o Ney Latorraca que vai fazer o Vlad voltando, o imorrível, isso para o elenco todo foi uma honra de trazer, de fazer essa homenagem ao maior vampiro brasileiro de todos os tempos. Uma coisa que a gente combinava era: a gente bota o improviso no meio, porque daí não tem como cortar nem o começo nem o fim da fala”, diz o ator Edmilson Filho.
Era uma homenagem da série ao personagem de uma novela de quase 30 anos antes: Vamp.
Em 1991, Ney foi convidado para uma ponta na novela das sete. Um poderoso vampiro que acordava depois de séculos adormecido.
“Eu acho que ele ia ser o galã. Ele parecia meio Marlon Brando o Ney. E ele ia fazer só três meses de novela, mas ele conquistou o público, conquistou todo mundo”, diz Claudia Ohana.
A quebra de expectativa virou uma marca. Ney nunca mais deixou de ser essa criatura sedutora, misteriosa, que se alimenta da alma do público para se tornar imortal.
“Eu imaginava que quando fosse chegar o vampiro, seria aquele vampirão falando grosso, sabe coisa assim? E chega Ney Latorraca como Ney Latorraca.”, diz Patricia Travassos. “Ele debocha do personagem. Sabe? Da maneira de falar. Ele era irônico. Ele era inesperado. Quando você acha que ele vai dar uma gargalhada gigantesca, ele dá um sorriso e fala uma coisa engraçada.”
Quando a novela começou, Ney já vinha de uma experiência vampiresca de sucesso, mas no teatro. Ney não interpretava um homem morcego, mas toda a história de “O mistério de irma Vap” se passava em torno de uma vampira. Foram onze anos em cartaz, ao lado de Marco Nanini.
Irma Vap depois virou filme. Em 2002, lá estava ele de novo de dentes afiados, como Nosferatu, em “O beijo do vampiro”. E cinco anos depois, mais uma vez como conde Vlad, ao lado de Claudia Ohana: com o musical Vamp dessa vez no teatro.
“Eu fazia pirueta, eu fazia estrela, eu fazia três números, eu cantava, eu trocava de roupa, até o público, uau, gritar. Ele não. Ele entrava em cena e falava assim: eu voltei. Só isso. E o público caía abaixo. O público ia abaixo com ele”, lembra Claudia Ohana.
“Eu acho que ele sacou: ‘gente, eu vou fazer um vampiro sério numa novela das sete? Por que? ‘Não. Ele conta uma história que às vezes, vinha um memorando falando que: ‘Ney, tá muito exagerado.’ Então, ele combinava na época com alguns atores. ‘Vamos fazer tudo sério agora. ‘Aí foi um horror. ‘Não, não, não. Pode voltar. Você tem liberdade para fazer o que você quiser'”, lembra Edi.
Maju: Nós falamos sobre subversão e ele rompeu barreiras em 1980, na década de oitenta, encenando um beijo entre dois homens em “Um beijo no asfalto”, baseado na obra de Nelson Rodrigues, com Tarcísio Meira.
Edi: Foi um acontecimento. Imagina. O Tarcísio, aquele galã da televisão, aquela pessoa. Eu não sei se é uma piadinha. Mas ele conta que quando ele tá lá virado pro Tarcísio, ele fala: me chama de Glória. Me chama de Glória. É maravilhoso, não é? É maravilhoso. Ele era muito amigo do casal. Muito amigo. Ia muito a jantares na casa deles.
Maju: Esse final da vida, como ele lidou? Ele tinha consciência desse fim? Isso era falado?
“Edi: Eu conversava muito com ele. Ficava muito junto com ele pra também suavizar, né? Esse momento. Algumas vezes, ele até chegou a falar pra mim: eu tô partindo. Eu sei que eu tô partindo. Mas vamos encarar essa.”
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