Entre cultura, religião e política, a iniciativa elencou 63 pontos da cidade que foram apontados como seguros às pessoas gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. Mapa mostra quais locais são seguros para comunidade LGTBQIA+ em Fortaleza.
JL Rosa/SVM
A falta de aceitação em casa, muitas vezes, leva gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (comunidade LGBTQIA+) a procurar lar em outros endereços. Seja bares, centros religiosos, boates ou outros estabelecimentos, 63 locais adotados por pessoas LGBTs (e que também as adotam) foram reunidos em um mapa de Fortaleza.
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A relação com estabelecimentos seguros caminha junto à história da luta por respeito à diversidade sexual e de gênero. O mês do orgulho, por exemplo, é celebrado em junho porque foi neste mês, especificamente no dia 28, do ano de 1969, que a polícia invadiu um bar frequentado por membros da comunidade, em Nova York, chamado Stonewall.
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🔔 O episódio deu origem a uma série de protestos e, em junho do ano seguinte, surgiu a primeira grande parada LGBTQIA+, conhecida como “Libertation Day” [Dia da Libertação].
Levando isso em consideração, o coletivo Vote LGBT, por meio do projeto Bonde LGBT, desenvolveu mapas com locais seguros para a comunidade em cinco polos: Distrito Federal, ABC Paulista, São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza — a única cidade do Nordeste no mapa.
Donos do Tropicanos comentam sobre inserção do bar em mapa LGBT de Fortaleza.
“Fortaleza tem a maior parada do Nordeste. É um lugar também que, em termos de cena política, é bastante interessante. Na nossa plataforma de candidaturas, Fortaleza também tem um número bastante grande de pré-candidatas inscritas, pré-candidatas às eleições. Então, Fortaleza, para a gente, foi esse lugar-chave importante para reiniciar esse projeto esse ano”, explicou Bru Pereira, vice-diretora do Vote LGBT, sobre a inserção de Fortaleza no projeto.
📍 Entre os 63 locais de Fortaleza, aparece o Bar Tropicanos. O estabelecimento surgiu em dezembro de 2022, como ideia-sonho de dois amigos: Paulo Henrique Ribeiro e Isabela Nóbrega, ambos pessoas da comunidade LGBTQIA+.
“Desde quando a gente abriu o Tropicanos, a gente queria que esse espaço fosse esse ambiente acolhedor e respeitoso. E vai desde a gente, até os meninos que trabalham com a gente”, explicou Paulo Henrique.
“Ver que o Tropicanos está dentro desse mapa, é porque as pessoas já percebem, tanto os clientes, como até mesmo os funcionários, que aqui é um lugar que tem muito respeito; que aqui é um ambiente legal, que as pessoas podem vir, podem se beijar à vontade, e que ninguém vai fazer nada. Por quê? Porque aqui a gente preza isso, respeito e, acima de tudo, essa empatia”, complementou o proprietário.
Isabela Nóbrega e Paulo Henrique Ribeiro, donos do Bar Tropicanos.
Kid Junior/SVM
🌈 Mapa LGBT
O mapa foi desenvolvido pelo coletivo Vote LGBT com parcerias locais dos polos representados. Em Fortaleza, o mapa contou com apoio de dois parceiros principais: o assistente social e educador popular Sudário Mesquita e o Grupo Resistência Asa Branca.
Mas como são listados os locais seguros a essas pessoas? “Temos espaços oficiais, aqueles espaços geralmente governamentais, espaços públicos, que carregam de maneira muito explícita e clara uma agenda para LGBT; desde centros de referência de diversidade até equipamentos que, por conta do caráter epidemiológico, acabam sendo associados a pessoas LGBTs, como serviços especializados em IST e HIV/Aids”, explicou Bru Pereira.
Mapa foi desenvolvido com dois parceiros locais em Fortaleza.
Vote LGBT/Reprodução
“Mas tem uma outra dimensão, que é mais difícil para a gente acessar, que são esses espaços não oficiais, ou meio oficiosos, que a gente sabe que são LGBT-friendly, que são acolhedores para pessoas LGBTs, porque a gente vai contando de boca a boca. Então, uma pessoa vai, conta para a outra, fala assim ‘ah, fui bem tratade’, outra pessoa fala ‘aqui não, ali não é legal e tudo mais’,e a gente vai construindo esse mapa.
Bru disse que o coletivo opta por não adotar critérios unicamente objetivos para a lista dos locais ao levar em consideração, entre outras coisas, as especificidades presentes dentro da própria comunidade LGBT.
“A gente não tem critérios objetivos porque a gente sempre trabalhou com essas redes de confiança do território, de como as pessoas percebem o próprio território. A gente também tem uma rede de contatos bastante ampla, então a gente também consegue, através dessa rede, ir negociando o que seriam esses critérios”, comentou.
A gente sempre foi um pouquinho contra mapear o que é seguro para a comunidade LGBT em termos muito objetivos. Primeiro, porque a gente trabalha em uma comunidade muito diversa. O que se considera como, por exemplo, um critério de segurança para uma pessoa trans é diferente do que vai ser considerado para para um homem gay cis. Tem alguns atravessamentos que acabam distinguindo (6:39) os espaços e tudo mais”, complementou.
O Bar Tropicanos é um dos milhares de estabelecimentos no Ceará que fixou a placa de combate ao preconceito.
Kid Junior/SVM
No Ceará, os estabelecimentos (privados ou públicos) podem optar por colocar placas avisando sobre a proibição de discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero — a partir de lei sancionada em 17 de maio de 2021. Procurada pelo g1, a Secretaria da Diversidade (Sediv) informou que não possui um número de quantos estabelecimentos possuem a placa atualmente.
No entanto, a Sediv disse que, em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), é estimado que, pelo menos, 10 mil estabelecimentos do ramo adotaram a sinalização no estado.
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