Desfile de maracatus na Praça Ilumiara Zumbi, em Olinda, encanta público. Agremiações se reúnem na Casa da Rabeca. Maracatu na Casa da Rabeca, em Olinda
À primeira vista, quem acompanha o desfile de maracatus na Praça Ilumiara Zumbi, no bairro de Tabajara, em Olinda, acredita que está no cenário de uma batalha: os guerreiros se enfileiram, possuem lanças e postos estratégicos. Não deixa de ser uma guerra para preservar a tradição.
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Cerca de 25 agremiações, de várias cidades do estado, participaram nesta segunda (3) do 33° Encontro Estadual de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco (veja vídeo acima).
Grupos de Araçoiaba, Nazaré da Mata, Glória do Goitá, Tracunhaém, Lagoa de Itaenga, entre outros municípios, se reuniram no 19° Carnaval Mesclado da Casa da Rabeca, que reúne maracatus de baque solto, de baque virado, caboclinhos, blocos, ursos, orquestra de frevo e artistas de palco.
Maracatu na Casa da Rabeca, em Olinda
Rafael Souza/g1
Com estandarte revelando cidade e ano de fundação, cada maracatu saúda a multidão. Em alguns casos, as agremiações são centenárias, como o Cabindinha, de Araçoiaba, criado em 1914. A família de Antônio Matias já está na terceira geração.
“Está no sangue. Veio do meu pai, passou por mim e já está com meu filho”, diz, ao olhar com orgulho para Adailton Lima, o Caboclo Lampião. Ele diz que as filhas dele, com idades entre 16 e 25 anos, não querem seguir a tradição, mesmo que o apoiem durante o carnaval.
“A gente vem lutando para manter essa cultura de mais de 100 anos viva. Costumo dizer que a gente tem um cristal nas mãos. Eu espero muito que o governo do estado procure levar o maracatu para as escolas, para que essa cultura não acabe”, completou.
Sob o sol das 13h e uma sensação térmica de 34°, os artistas enfrentam o calor com roupas pesadas e coloridas, que encandecem os raios solares, formando quase chamas coloridas para um público encantado.
Alessandra de Souza, de Glória do Goitá, é dama do passo de maracatu
Rafael Souza/g1
Alessandra de Souza, de Glória do Goitá, diz que se prepara com alimentação balanceada e muita água.
“É pesado e muito quente. Já perdi mais de dez quilos em um só carnaval”, conta. Ela é dama de passo, responsável por conduzir a calunga do maracatu, uma boneca enfeitada que dá poder para guiar a apresentação.
Os postos são de extrema importância para o maracatu. A dama do passo abre o desfile e vai na frente, seguida pelo reimar, que é uma espécie de cavaleiro. Um Mateus e uma Catirina são a parte mais descontraída do grupo, com uma encenação que envolve uma outra boneca e um cesto.
Os caboclos de lança são imponentes. De trote em trote, o grupo completo sai da Casa da Rabeca em um percurso estreito e íngreme até a Praça Ilumiara Zumbi, onde acontece a apoteose com o público.
O desafio
Filho do Mestre Salustiano, que morreu em 2008, Pedro Salustiano diz que a luta é constante. “É uma responsabilidade muito grande manter esse legado vivo”, conta, lembrando que a família inteira tem se empenhado nesse papel, com 15 filhos, 28 netos e seis bisnetos.
De acordo com ele, foi o Mestre Salu que liderou a criação do que hoje se denomina Carnaval Mesclado.
Para quem nunca viu uma apresentação de maracatu antes, o encontro parecia mágico e lembrava até o carnaval de fora do país. Foi assim que se sentiu Madeleine Wilson, natural dos Estados Unidos, que acompanhou o desfile ao lado do namorado paulista Fábio Garcia. Ela viu semelhanças com Mardi Gras, celebração tradicional em partes do Hemisfério Norte.
“Me lembrou muito as manifestações (dos povos originários) em Louisiana (EUA). Lá, a tradição está morrendo, mas aqui no Brasil está forte”, disse.
Se depender do pequeno Arthur, de seis anos, o maracatu terá vida longa. Ele já é caboclo de lança do Canarinho, do município de Ferreiros.
Feliz da vida, ele se apresenta pelo segundo ano seguido. A avó, Cícera Conceição, estava em êxtase. “Ele começou com o pai dele, que é mestre. Eu morro de orgulho”, completa.
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